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2 de outubro de 1926, no “A Tarde”:
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“Venho fugido de Lampeão”
Á aproximação do bando sinistro, o sub–delegado de Boa Vista commandou a retirada
É elle proprio quem narra á “A Tarde” os acontecimentos
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Chegado ha dois dias de Boa–Vista, no Estado de Pernambuco, donde foi obrigado a sair, devido á invasão do famoso bandido Lampeão, fomos hoje ouvir o sr. Florencio Barros, negociante e chefe politico naquella localidade.
Ás perguntas da “A Tarde” sobre Lampeão, o entrevistado declarou–nos o seguinte:
– Lampeão, esse homem extraordinario, que vive a saquear–nos, é quem me obriga estar aqui, imagine que recebi uma carta do bandido, intimando–me a fornecer–lhe a quantia de cinco contos; como não podia satisfazer semelhante pedido, vi–me na contingencia de abandonar o territorio pernambucano para asylar–me em Curaçá.
Deixei–lhe, porém, narrar o facto. Na vespera da nossa retirada, entrou em Boa–Vista o irmão de Lampeão, que se assigna tenente Antonio Ferreira Netto, e que vinha munido duma pistolla parabellum e dum grande punhal.
Era evidente que o grosso dos bandoleiros, andasse na redondeza; deante disso, e já tendo o exemplo do negociante Francisco Gorgonho, que ainda se acha preso, por não ter a importancia de cinco contos exigida pelo facinora como resgate, resolvi abandonar a cidade, com armas e bagagens.
Consultei a respeito, os meus amigos; e como todos fossem accordes em que se não devia offerecer resistencia, convidei a população, na qualidade de sub–delegado, a acompanhar–me.
De facto, no dia seguinte, foi um verdadeiro exodo. A cidade ficou apenas com tres negociantes, que aguardavam a chegada do famigerado salteador. Ahi aparecendo Lampeão, commetteu toda a sorte de tropelias.
Arrombou as casas, e distribuiu entre o seu bando tudo quanto encontrou. O restou que não servia, foi queimado, com o unico fito de prejudicar a mim e aos meus companheiros.
O bando compõe–se de 140 homens, dispondo cada um de 500 balas, o que, em grande parte, provem ainda do exercito, quando Lampeão foi capitão legalistas(!) em Joazeiro, no Ceará.
– E que pensa sobre a possibilidade da extinção do bando?
– Ah! só vejo um homem capaz disso: é o major Tehophanes, que já o combatei ha uns quatro annos ataz, quando o bando se compunha, apenas de 12 homens. Hoje, porém, apesar de muito augmentado, ainda é o major o unico capaz de derrotar o facinora;
– E as forças que o combatem? – indagamos.
– Ora, meu amigo, andam á cata do bandido uns pelotões conhecidos pelo nome de “volantes” e que quando o bandido está no Norte tomam a direcção do Sul...
Deixe–me contar esta. A duas leguas de Floresta, entricheiraram–se 30 praças e fizeram fogo contra o bando de Lampeão até a última bala, constando até, como os jornaes aqui já noticiaram, que o “capitão” havia sido ferido.
Pois bem: segundo narrou um soldado em Bela Vista, ao chegarem ao quartel foram esses 30 “heroes” recolhidos á prisão, ninguem sabe porque, o que leva a crer que... (E o nosso entrevistado não quiz concluir a phrase).
Ha, ainda, mais outros casos: em Pernambuco, o telegrapho não transmitte noticias sobre Lampeão.
Será preciso mais? Pense que ha gente boa mettida nessa historia de Lampeão...
– e sobre as atrocidades do bandido, que nos diz?
– Ahi, na minha zona, não respeitaram a honra das familias; quem protestava era ainda surrado.
O bandido gosta tambem de humilhações e a um negociante preso, elle obrigou a lavar o seu cachorro de estimação. A outro forçou a lavar–lhe os pés. E assim por deante.
O que lhe posso dizer é que Lampeão é cem vezes peor do que o Prestes, pois, deste sei até dos rasgos de generosidade e quanto áquele é preciso que a gente ande confessado e sacramentado...
E terminando, accrescentou o sr. Barros:
“Agora vou pedir providencias ao doutor Sergio, para ver si posso voltar para casa”.
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