29 abril 2012

Uma moeda de cangaceiro à venda

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Esta moeda pertenceu à bandoleira de um cangaceiro, estando, atualmente, em posse do estudioso Orlins Santana. Este divulga, neste site, o seu interesse em negociá-la.
Descrição, por Orlins Santana: "A moeda tem um tamanho grande e a cruz de malta ficava para a frente da cabeça e esta moeda de 27 gramas de prata, era a do centro da testa. Eles achavam, dizem, que a cruz de malta protegia o corpo."
Para contatos, estes devem se dar pelo email
orlins@hotmail.com
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21 abril 2012

Documento - Auto de perguntas feitas a Alcino da Silva Duarte

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Divulgando mais um documento relacionado ao Cangaço, obtido e gentilmente disponibilizado pelo estudioso Orlins Santana.

. Auto de perguntas feitas a Alcino da Silva Duarte

. Aos vinte e oito dias do mez de setembro de mil e novecentos e vinte e nove, as quize horas, na sala de audiencia desta delegacia perante o 2° suplente de delegado de Policia José Luiz Pereira comigo o escrivão de seu cargo abaixo nomeado e assignado compareceu o cidadão Alcino da Silva Duarte a quem foram feitas as seguintes perguntas: Perguntado qual o seu nome, estado, idade, profissão, filiação, naturalidade, residencia e se sabe ler e escrever. Respondeu chamar–se Alcino da Silva Duarte, casado, com trinta annos de idade, comerciante, filho de Laurindo da Silva Duarte, natural e residente nesta cidadesabendo ler e escrever. – Perguntado como se encontrou com o grupo Lampeão, em que dia, horas, quantos vinham no grupo, nomes de gerra, nomes proprios, material bellico, intenções? Respondeu que no dia vinte e seis do corrente mez, indo o respondente para a Fazenda “Mariannas”, adiante do Arraial de Canoa, um kilometro mais ou menos, distante desta cidade, treze kilometros ou quinze minutos de carro, encontrou–se o respondente, com dois homens bem armados, e bem montados, que o aggrediram, com palavras obscenas, pedindo dinheiro e armas; que em curto espaço de tempo, appareceu o resto do grupo com posto de dez homens, tambem bem armados e montados como os primeiros, roubando o correspondente a importancia de trezenteos e sete mil reis deixando o correspondente de entregar armas porque não as conduzia; que soube la a tratar–se do grupo Lampeão em vista de esse dizer que era obrigando o respondente, mostrar, em Canôa, quem podia ter dinheiro; que imediatamente guiou o terrivel e malsinado grupo para a casa de campo do Senhor Romulo Gonçalves da Silva, onde este senhor estava a passeio com sua familia; que na casa de Romulo chegaram as dezoito horas, tendo antes, á entrada da cancella pegado o fazendeiro Francisco Alves da Silva, esbofeteando–o e obtendo do mesmo certa importancia, toda que o mesmo tnha nos bolsos, não sabendo entretanto quanto; em seguida tomaram a porta da casa do referido senhor Romulo exigindo–lhe, em particular, uma certa importancia, que soube depois ser de cinco contos, tendo entretanto spo arranjado um conto de réis; que após a conversa foram com Rômulo seguro para o interior da casa, onde estavam a senhora do mesmo em crise nervosa, ficando o respondente sob a guarda de Arvoredo e Corisco; que dalli seguio com o grupo já o respondente na retaguarda, pois já outros haviam passado na frente; que viu de perto a ferocidade de Lampeão e seus comparsas; diz o respondente que nunca avaliou existirem pessoas tão desnaturadas, capazes das maiores imfamias pois presenciou scenas de barbarismo tal, de taes ferocidades que deixou o depoente seriamente impressionado; Lampeão se orgulha de ser o Rei do Sertão e sente tanta felicidade em humilhar o proximo, sente tão grande satisfação em implantar o terror, que se lá, nos olhos do monstro a alegria de que se vê possuído quando a victima treme implora compaixão ante a lamina brilhante do seu punhal de setenta e cinco centimetros; ante a bocca do seu instrumento de morte, que ao enves de mosquetão é um riffle oitavado, de bandoleira enfeitada de moedas de ouro ante ao seu parabellum cano longo; ante a impressionante equipamento composto de cartucheiras e imbornaes de balas; ante aos olhares irrequietos dos seus comparsas armados até aos dentes; que teem o garbo de dizerem que não perdem pontaria salientando–se Lampeão que atira com as duas mãos com eximia pontaria; que o seu encontro se dera as dezsete horas seguindo para o Arraial de Canôa, onde chegou ás dezoito e de onde sahiram ás vinte e treis horas, mais ou menos; que em Canôa, beberam e saqueiaram, espancaram, e, a vontade, sem susto nehum, debandados, cada um cuidando de si beberam á vontade; que Lampeão gracejou muito da acção da Policia, criticando, achando ridicula a covardia da perseguição dos macacos que não sabem atirar; que Lampeão se orgulha de dizer que os macacos nunca o atacaram, pois quando sabem que elle, Lampeão, está no logar, nunca o foram atacar, e se já se deu uma vez em Aboboras foi por que não esperavam encontrar o grupo alli; que a prova melhor foi em Tanque Novo, conforme um bilhete recado que Lampeão de proprio punho escreveu e deu ao depoente para trazer para o Capitão José Galdino que vae transcripto neste auto e é do theor seguinte:

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“Eu capitão Virgolino Ferreira – Ziquiel Ferreira, Ponto Fino, Luiz Pedro, Marianno, Serrillo, Gato, Lavareda, Revolto, Volta Secca, José Bahiano, Fortaleza, Alvoredo e Oeste, doze homens que brigaram, digo que combati com 160 macacos no Tanque Novo, porem estamos todos em paz, é vergonhozo ver a distancia que recebemos os primeiros tiros porem os macacos estavam com tanto medo, que os tiros foram todos errados u que reagimos mais de uma hora no campo limpo, demais tratei de não pocurar posição, i isperar que tinha certeza que tinha rectaguarda, como de facto tratei de retirar depois que fizemos algum serviço pois não gosto de perder tempo deixei elles podendo como soube de S;PEDRO, e sahi em minha pelle enterinha nem re vécho ––– Bem Agora mesmo aviso ao Antonio Cajuhy que não sou Napoleão sou Virgolino Ferreira Vulgo Lampeão o terror do Sertão, isto né as moças dizem. A.C. (A.C. é Antonio Cajuhy) toda cidade é pouca pois homem que pega questão comigo dorme pouco perdi o amor de dormi com a mulher sem mais assunto Eu Capitão Virgolino Ferreira da Silva. Vulgo Lampeão”

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Alem de ter recado escripto pelo proprio punho de Lampeão diz o respondente que Lampeão mandou, de bocca, mais o seguinte;

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“que o Negrão que estava no commando das Forças, aqui em Bomfim, podia ficar certo que a qualquer momento lhe faria uma visita para que o mesmo lhe pagasse o que lhe devia;”

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– que a intenção de Lampeão, conforme o mesmo demonstrou era vir a Bomfim; isso não fazendo, porque o depoente dissera que em Bomfim tinha muitas praças e até metralhadora; que as vinte e treis horas mais ou menos, marcharam de Canôa, após o saque, marcharam para Rancharia, deste Municipio, onde dormiram, depois de umntar uma forte guarda em torno a casa; que poderam os animaes em um pastro ficando de sentinela á porta os bandidos Arvoredo e Volta Secca com o depoente á vista; dentro de casa estavam Lampeão, Marianno, Cyrillo, Ponto Fino, Curisco e Antonio Engracia todos jogando “31” –; que as fichas eram as balas dos fuzis valorisadas em cincoenta mil reis (50$000) cada; que durante o jogo tiveram forte altercação Cyrillo e Marianno em vista do primeiro ter chamado Marianno de ladrão por causa de quatro fichas (200$000) sendo preciso a intervenção de Lampeão para acalmar os animos exaltados; que após essa discussão todos, isto é, os de dentro da casa, dormiram calmamente até as seis horas do dia seguinte; que a guarda se revezava constantemente não se lembrando o depoente se era de uma hora ou de duas horas; que Lampeão mostrou ao respondente uma bolsa contendo dinheiro, calculado em mais de quinhentos contos de réis; que o grupo é constituido em numero de dezoito homens, conforme contou o depoente na occasião de montarem e com os seguintes nomes dados ao depoente pelo bandido Arvoredo –; Lampeão, Revolto, Volta Secca, Arvoredo, Moderno, Esperança, Mourão, Curisco, Antonio Engracia, Cyrillo, Marianno, José Bahiano, Quaebra Faca, Aleixo, Serra Negra, Lavareda, Fortaleza e Gatinho; que queria que o respondente mandasse publicar no Diario de Noticias o recado para o Capitão José Galdino bem como para Cajuhy; que Arvoredo e Curisco odio de morte a José Clementino e se poderem estrangulam na primeira opportunidade; que Arvoredo fallou tambem, com muito odio, nas mortes de um irmão e um primo assassinados na linha ferrea, dizendo que o maior responsavel era José Clementino; que Lampeão o procurou com muito interesse no “Diario de Noticias” mostrando um desejo ardente de colleccionar ese jornal ao que o depoente mostrou–se penalisado de não poder lhe facultar sua collecção; que as seus e meia horas despediram–se do respondente e seguiram rumo que o depoente ignora; E como nada mais disse nem foi perguntado mandou o senhor 2° suplente de delegado encerra o presente depoimento que depois d elido e achado conforme e assgina com o depoente comigo Escrivão que o escrevi e assigno. Eu Napoleão Pinto de Souza, Escrivão o escrevi e assigno. (A) José Luiz Pereira – (A) Alcino da Silva Duarte – (A) Napoleão Pinto de Souza.

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15 abril 2012

7 de janeiro de 1927, no “Diario de Noticias”

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7 de janeiro de 1927, no “Diario de Noticias”:

O cangaço em todo o nordeste brazileiro
A POLITICALHA É A FORGICADORA DE TODA A SITUAÇÃO
Veridicas declarações de Pimentel Junior

Por interessante e, mais do que isso, por serem partidas do illustre patricio, que é o dr. Pimentel Junior, director do “Instituto São Luiz”, da cidade de Fortaleza, no Ceará, passamos para estas columnas as verdadeiras declarações que vêm de ser feitas a “O Jornal”, do Rio, sobre o cangaceirismo dominante nos sertões daquelle Estado nortista, e em todo o nordeste brazileiro que, de par com as frequentes seccas anniquiladoras das populações locaes e dos seus haveres, soffre tambem essa innominavel praga, que se mostra quasi irremediavel, porque para isso, para combater ao cangaço, mais impotente se revela a acção dos que dirigem ou têm dirigido os Estados do nordeste, em virtude do expediente e da sanha dos politiqueiros dos sertões, prestigiados que ficam nas capitaes.
Falando áquelle nosso collega carioca, disse o dr. Pimentel Junior, alli recem–chegado da zona, quasi permanentemente conflagrada, dos sertões de Cariry, no Estado do Ceará:
Politica convulsiona o Ceará:
Sobre as condições do Estado do Ceará, só me compete dizer, com imparcilidade, que são pessimas.
Deixei minha terra congestionada pelo desencadear subtaneo dos odios ensofregados dos partidos politicos que se degladiam, de modo assustador, no quererem firmar, nos dominios ambicionados da politica, a sua preponderancia.
Arregimentam partidarios, alliciam capangas destemerosos, affeitos ás correrias infrenes e aos assaltos destruidores no sertão, com objectivo unico de se tornarem unicos detentores do poder. E perante a situação lamentavel em que se encontra actualmente o Ceará, as autoridades competentes fraquejam no conter a ordem entre os antagonistas que se defrontam numa luta ingloria de consequencias desastrosas.

As causas do banditismo

A causa que determina o banditismo no Ceará, resalta, ao primeiro lance, de vista, do observador mais obtuso. Provoca–o, dando–lhe desenvolvimento amplo, a politica, sem entranhas dos chefetes do sertão.
O cearense, como sabe, é forte e destemido, aventureiro e audaz. Resiste aos maiores infortunios, supporta com estoicismo incomparavel o desabar tremendo das tormentas, enfrenta com desassombro os effeitos terriveis dos verões bravos e arroja–se com tanta facilidade e vigor ás empresas arriscadas, como com audacia e bravura no campo da luta, onde patenteia a elasticidade, rigida e admiravel de sua musculatura de aço, no provocar lances surprehendentes.
Podemos affirmar que no Ceará não ha cangaceiros tarados na verdadeira expressão do termo. Fabricam–nos os chefes politicos locaes, nas epocas agitadas das eleições, aproveitando a sua tradicional valentia no incutir–lhes no animo predisposto, varonil e rude, o germen corruptor da desordem franca. Os sertões dos Carirys sobretudo, são a terra classica do cangaço.
Alli, as questões de terra, os pleitos politicos, as vindictas de familia, solucionam–se com o auxilio condemnavel de brutal do braço emrcenario dos cangaceiros atrevidos.
Qualquer chefe de partido sertanejo que deseje apagar do calendario dos vivos o nomedetestavel de ums eu adversario, ou desaffecto, chama um Neco Lopes, ou um João Alves qualquer, paga–lhes quinhentos ou um conto de réis e algumas horas depois do negocio fechado – no dizer expressivo dos matutos 0 o antagonista terrivel do mandão local é enviado para as regiões deesconhecidas donde não se volta mais.
O crime fica impune, porque a justiça sem força não póde attingir o mandatario, nem perseguir o executor.

Os prejuizos causados pelo cangaço

Os prejuizos causados pelo cangaço são incalculaveis e indescriptives.
O senhor ue conhece a Historia lembra–se certamente do terror, da miseria da destruição que acarretavam os hunos, os alamanos, os godos, os vandalos, os lombardos e outros povos barbaros na sua marcha triumphante e devastadora através do Continente europeu.
O mesmo pavor experimenta o povo do Nordeste, quando os cangaceiros sob a protecção nefasta dos potentados locaes, percorrem, em tropelias desempedidas, os sertões combustos, assaltando povoações, villas e cidades, commettendo attentados que revoltam. E além dos ataques e assassinios que praticam, deprimem–se, cada vez mais no deshonrar covardemente os lares felizes dos sertanejos honrados.

A indifferença do governo estadual

O governo do Ceará pouco se preoccupa com esse problema de maxima importancia que exige uma solução urgente e efficaz. Emquanto as autoridades do Estados limitrophes atacam de rijo, os bandoleiros ferozes, mettendo–os num circulo aterrador de baionetas, o governo cearense limita–se a mandar patrulhas volantes de policia para o interior, as quaes deixam muito a desejar, porque são mais turbulentas, mais indisciplinadas do que os proprios cangaceiros. A reacção contra os Lampeãos, no Ceará, se faz entre os particulares. Os commerciantes, os fazendeiros, os agricultores se armam por conta propria, afim de resistirem aos assaltos repetidos dos bandidos.

7 de janeiro de 1927, no “Diario de Noticias”: "Dr. Pimentel Junior, o entrevistado que narra as miserias do nordeste brazileiro"

Lampeão escudo da legalidade

O bando de Lampeão foi, de facto, incorporado ás forças governistas que combateram as columnas Prestes.
E penso que este facto não causará surpresa a quem estiver ao par da organização das forças que o nossos governo mandou contra os revolucionarios.
Os peores elementos da nossa sociedade sertaneja fizeram parte dos celeberrimos batalhões patrioticos cearenses que se bateram platonicamente contra os soldados de Prestes.
se os senhores daqui se surpreederam com a incorporação do bando de Lampeão ás forças governistas foi pelo simples motivo de não conhecerem de viso o Nordeste Brazileiro.
Lampeão está sendo falado demais, porque é cangaceiro novo e, como se sabe, no Ceará, no Brazil interior, só se gosta de novidade.
Terminando, o dr. Pimentel Junior, accrescenta que o unico meio para se extinguir o cangaceirismo, é fazer desaparecer a politicalha dos sertões.
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4 de janeiro de 1927, no “Diario de Noticias”

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4 de janeiro de 1927, no “Diario de Noticias”:
JAGUARARY INFELIZ!
Novas tropelias do famoso delegado local


O publico bahiano já deve estar irritado, de ha mjuito, com as constantes desenvolturas e brutalidades, commetidas pela policia de Jaguarary.
Quase diariamente, chegam pedidos de providencias e protestos dos perseguidos, contra as miserias por lá commetidas, e que exigem, terminantemente, um paradeiro immediato.
Effectivamente, Jaguarary está entregue, policialmente, a dois verdadeiros irresponsaveis e inconscientes, que, em estado de absoluta privação dos sentidos, se Entregaram á pratica dos maiores desatinos. São elles o delegado local e o sargento do destacamento da villa.
Ainda hoje, o coronel Alfredo Barbosa, chefe opposicionista dalli, ora nesta capital, acaba de receber do seu filho sr. Manoel Deodoro Barbosa, conceituado negociante daquelle municipio, o seguinte telegramma:
Jaguarary, 3 – O sr. Antonio Teixeira de Carvlho, delegado de policia prendeu o nosso amigo Manoel Alberto de Souza, acintosamente e sem razão alguma. O mesmo delegado continúa nos descompondo e ameaçando. A situação é gravissima. – MANOEL BARBOSA.”
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13 abril 2012

4 de janeiro de 1927, no “Diario de Noticias”

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4 de janeiro de 1927, no “Diario de Noticias”:
Não se dá treguas a Lampeão!...

A policia pernambucana fe–lo penetrar o Ceará – A perseguição continúa – A policia cearense vae entrar em acção

RECIFE, 3 – Argos – Graças á campanha iniciada, directamente, pelo actual governo, e orientada pelo dr. chefe de policia, os nossos sertões já se encontram livres co terrivel grupo de Lampeão, que tanto males tem causado á pacata população sertaneja.
Assumindo a chefia da Segurança Publica, o sr. chefe de Policia logo fez remetter para toda a região frequentemente assaltada por bandoleiros numerosa força, com ordens terminantes de dar–lhes combate sem treguas. Lampeão e seu grupo, a principio, offereceram forte resistencia, mas, finalmente, foram cedendo aos poucos, devido á violencia do ataque, deixando sem vida, no campo de luta, dois seus mais dedicados elementos – Antonio Ferreira, irmão de Lampeão, e Manoel Marcellino, vulgo “Bom, devéras”.
Rechassados em frequentes ataques, demandaram os bandidos ás fronteiras do Ceará, sempre perseguidos pela policia pernambucana, sob o comando do major Theophanes Torres. Dahi seguiram para a Serra do Matto, onde actualmente estão, achando–se de caminho para Joazeiro. A nossa policia, de accordo com o estabelecido no convennio, penetrou o territorio cearense, a fim de não perder o rastro de Lampeão.
Segundo fomos informados, a policia cearense teve tambem ordem de ir ao encontro dos bandidos que, é bem possivel, muito breve estarão cercados por seus perseguidores.
Hontem, chegaram de villa Bella, presos e devidamente escoltados, quatro fazendeiros alli residentes, tidos como agenciadores e protectores de Lampeão.
Podemos adeantar foram elles recolhidos á Penitenciaria, e estão sendo ouvidos pelo chefe de policia, em declarado interrogatorio.

O padre Cicero solidario com o goveno de Pernambuco

O “Jornal Pequeno” diz: – Soubemos, de segura fonte, que o padre Cicero, a pessoa de maior influencia politica nos sertões cearenses, acaba de hypothecar seu inteiro apoio ao governo de Pernambuco, na campanha em que está empenhado contra os bandoleiros.
Folgamos em registrar essa nova, pois a nossa policia estava agindo sem nenhum auxilio, e já agora, tem a valiosa cooperação da policia cearense, bem como a de numerosos amigos daquelle influente politico nortista, tornando–se, assim, menos espinhosa a sua tarefa.
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08 abril 2012

A cabeça de Lampeão... preparação.


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A morte do cangaceiro Virgolino Ferreira da Silva, o Lampeão, não se deu sem traumas no crânio.
A exposição da sua cabeça se tornou algo entendido como de "interesse científico", o que se somava à visão que supunha esta postura como espelho das consequências da agressão ao Estado.
Dentre os esforços do reparo do crânio mutilado, a imagem acima, de 1938, logo após sua chegada a Salvador, mostra o instante em que foi introduzida uma estrutura de arame "em gaiola", de maneira a dar forma ao seu lado direito.
O estudioso Orlins Santana, que obteve esta imagem e por este blog a disponibiliza, aponta que este evento foi em função de um tiro de fuzil, à queima-roupa, ter entrado pelo lado esquerdo do crânio e saído pelo seu lado direito. Daí o osso parietal direito ter sido espedaçado.
Daí os necessários momentos de modelagem do crânio, flagrante exibido nesta imagem.
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07 abril 2012

Azulão, Zabelê, Canjica e Maria Dórea...

Um dos combates memoráveis do Cangaço é o da Lagoa do Lino.
Nele, um subgrupo do bando de Lampião, composto por 4 cangaceiros e 3 cangaceiras liderados por Azulão, que assolara as regiões de Mairi, Várzea do Poço, Miguel Calmon, Várzea da Roça, Serrolândia e Jacobina, entre setembro e outubro de 1934, foi duramente atingido por uma volante.
Está referenciado este combate na postagem:
http://cangaconabahia.blogspot.com.br/2011/08/lagoa-do-lino.html
Como consequência, quatro cangaceiros sucumbiram... Azulão, Zabelê, Canjica e Maria Dórea.
Mortos e decapitados, tiveram suas cabeças conduzidas a Salvador. Sua foto mais conhecida é apresentada abaixo.
Cabeças de, da esquerda para a direita, Zabelê, Maria, Azulão e Canjica.
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O pesquisador Orlins Santana nos oferece um material extremamente raro relacionado a este embate. São duas fotos.
Uma é outra foto das cabeças dos cangaceiros Azulão e Maria Dórea.

Esta outra foto mostra as cabeças dos quatro cangaceiros mortos, Zabelê, Canjica, Maria Dórea e Azulão.

Ambas foram tomadas provavelmente quando da chegada das cabeças a Salvador, exibindo já processo de necrose avançada.
Que estes ecos daquele terror... melhor sirvam ao entendimento das suas e nossas sombras... e tragam, ao menos, rasgos de luz ao presente e ao futuro.
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02 abril 2012

Militares mortos... Baianos e na Bahia


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O levantamento do número de militares mortos em combate, seja baianos ou na Bahia, tem surgido apenas esparsamente, muito dado a erros e imprecisões.
Esta listagem é uma contribuição realizada pelo proprietário deste blog, que aponta aqueles mortos que estão referenciados em diversas publicações, especialmente aquelas reconhecidas, no momento, pela própria Secretaria de Segurança da Bahia.
O seu acompanhamento é interessante ao demonstrar evidente o despreparo inicial da polícia baiana, no combate ao Cangaço. No seu passo, a correta dimensão do problema e a profissionalização crescente permitiu, primeiramente, a queda do número de militares mortos. Em segundo lugar, a inversão, com a progressão de cangaceiros eliminados.
Outro ponto que chama a atenção foi a desatenção descuidadosa do Estado, em relação aos seus mortos.
Inumados em sepulturas simples, seus restos, em sua maior parte, perderam-se.
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- 1927
15 de fevereiro de 1927 - Picos, em Santo Antonio da Gloria
+ soldado Paulo Sant’Anna
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- 1928
22 de dezembro - Fazenda Curralinho, no Cumbe (Atualmente Euclides da Cunha)
+ sargento José Joaquim de Miranda, que aparece também citado como João Joaquim de Miranda, apelidado “Bigode de Ouro”
+ soldado Juvenal Olavo da Silva, que aparece também citado como Juvenal A. da Silva
+ soldado Francellino Gonçalves Filho, que aparece também citado como Francisco G. Filho
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- 1929
7 de janeiro de 1929 - Arraial de Abóbora, em Jaguarary (Atualmente é povoado de Juazeiro)
+ soldado José Rodrigues
+ soldado Manoel Nascimento de Souza

João Alves Guimarães, testemunha do combate de Abóbora, aponta a localização da entrada do antigo cemitério de Abóbora. Os soldados foram enterrados próximo à quina branca que se vê à esquerda. um novo cemitério foi instalado em outra localização, entretanto, os restos dos mortos não foram retirados. Daí, os restos dos soldados ainda repousam nos mesmos sítios, sob o pavimento da nova Abóbora.

26 de fevereiro de 1929 - Novo Amparo
+ soldado desconhecido
+ soldado desconhecido
4 de junho de 1929 - Brejão da Caatinga - Campo Formoso
+ cabo Antônio Militão da Silva
+ soldado Pedro Santana
+ soldado Cecílio Benedito da Silva, que aparece também citado como Cecílio Bernardino Alves
+ soldado Manoel Luiz França, que aparece também citado como Manoel Luis de França
+ soldado Leocádio Francisco da Silva, que aparece também citado como Leocádio Francisco dos Santos

Os corpos dos soldados mortos em Brejão da Caatinga foram exumados e levados para a cidade de Campo Formoso, em cujo cemitério foram enterrados. Em uma reforma no cemitério, os restos de diversos mortos foram retirados e agregados em uma cova comum, em uma quina do cemitério. Entre eles estavam os restos dos militares. Na imagem, o coveiro atual, Eduardo Costa Sebastião, mostra onde repousam os mortos de Brejão da Caatinga, na quina, sob a árvore e os tocos de madeira.


14 de maio de 1929 - Jatobazeiro - São Raymundo Nonato (Piauí)
+ soldado Pedro Alves da Fonseca

20 de setembro de 1929 - Tanque Novo - Juazeiro
+ soldado desconhecido
+ cabo João Soares
21 de outubro de 1929 - Patamuté
+ soldado Olegário C. da Silva
Soldado Pantaleão da Silva foi dado por Felippe Castro (1975) como morto, mas foi apenas ferido, tendo sido promovido.

Soldado Pantaleão da Silva, ferido, recuperando-se em Salvador, Bahia.

18 de dezembro de 1929 - Uauá
+ soldado Vitorino Baldoino Lopes
+ soldado João Felix de Souza
19 de dezembro de 1929 - Santa Rosa - Jaguarary
+ soldado Vitorino Baldoino Lopes
+ soldado João Felix de Souza
+ soldado desconhecido
+ cabo João S. da Silva
22 de dezembro de 1929 - Queimadas
+ anspeçada Justino Nonato da Silva
+ soldado Olympio Bispo de Oliveira
+ soldado Aristides Gabriel de Souza
+ soldado José Antônio do Nascimento
+ soldado Ignacio Oliveira
+ soldado José Antônio da Silva, que aparece também citado como Antônio José da Silva
+ soldado Pedro Antônio da Silva
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- 1930
29 de abril de 1930 - Salvador (Ferido em Pery-Pery - Santo Antônio da Glória)
+ cabo Calixto Eleutério dos Santos

Soldado Calixto Eleutério do Santos, já promovido a cabo, por bravura no embate de Pery-Pery, em Santo Antônio da Glória, um dia antes de sucumbir devido aos ferimentos, no hospital da Força Pública, em Salvador.

1 de agosto de 1930 - Fazenda Lagoa dos Negros - Tucano
+ tenente Geminiano José dos Santos
+ sargento José de Miranda Mattos, que aparece também e erradamente citado como José Miranda Marques
+ soldado Argemiro Francisco dos Reis, que aparece também citado como Francisco Almiro dos Reis e Aquino Francisco dos Reis
+ soldado Arnaldo Claudio de Souza, que aparece também citado como Arnaldo Candido de Souza
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- 1931
30 de janeiro de 1931 - Brejo do Burgo
+ soldado desconhecido
3 de fevereiro de 1931 - Vassouras
+ soldado desconhecido
24 de abril de 1931 - Fazenda Touro - Paulo Afonso
+ sargento Leomelino Rocha
+ soldado Carlos Elias dos Santos
+ soldado Francisco dos Santos
+ soldado José Carlos de Souza
+ soldado José Gonçalves do Amarante
+ soldado Pedro Celestino Soares
+ soldado Saul Ferreira da Silva
28 de agosto de 1931 - próximo a Paripiranga?
+ soldado Cyriaco Sant'Anna
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- 1932
2 de fevereiro de 1932- Ferido no fogo de Maranduba, faleceu no Hospital da Força algoana
+ soldado Bôaventura Manoel da Silva
15 de abril de 1932
+ soldado Odilon G. da Silva
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- 1933
2 de outubro de 1933 - Ferido em tiroteio, trazido a Salvador, faleceu no Hospital da Força
+ soldado Pedro Emygdio de Oliveira
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- 1934
21 de abril de 1934 - Paripiranga
+ soldado João Pereira de Souza
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Visualizando todas as ocorrências anotadas em um gráfico, temos, para a distribuição do número de militares mortos na Bahia por ano, a partir de informações colhidas em documentação referenciada:


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De uma maneira geral são estes os nomes e as datas.
Caso haja outros dados referenciados, basta comunicar que serão inseridos.
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