Cangaço na Bahia
Blog destinado à preservação da memória do Cangaço na Bahia, em todas as suas dimensões e extensões.
22 janeiro 2024
02 janeiro 2024
Queimadas... um processo.
Obtido quando de pesquisa minha no Diário Oficial do Estado da Bahia.
Caso usado este material, somente peço, se houver espaço, citar este blog.
31 outubro 2023
Anésia... das "maneiras humildes"
Em um quadro de intensa, violenta, brutal repressão a seus
parentes e aliados, de tão inofensiva, mais que poupada, era livre na própria
Jequié. Assim, Anesia foi localizada acompanhada de sua filhinha de 5 anos de
idade. Foi esta mulher cuja imagem surgiu no jornal baiano “A Tarde”, em 25 de
outubro de 1916, acompanhada de sua descrição. “Mulher alta, delgada, olhos
azuis, bons dentes, cabellos castanhos, faces encovadas, maneiras humildes”.
Entrevistada, contou, com abundantes detalhes as desventuras
de sua gente, publicadas em sequência por alguns dias. Perguntada sobre ter
recebido maus tratos, negou.
Não surgiu qualquer registro jornalístico, relato policial,
testemunho da época afirmando, indicando, sugerindo haver Anesia cometido
qualquer crime. Porém, a imaginação de alguns fabricou, a partir de seu nome e
de documentação nenhuma, uma figura fantástica. Líder de bando. Exímia no
gatilho. Primeira mulher a montar cavalo de frente. Até, pasmemos, capoeirista.
Desenhos passaram a mostrar uma mulher de traços firmes,
vestes coladas, no mais das vezes, sensuais, chapéus “acangaceirados”. Comprovação?
Nenhuma. Documentação? Para que? Diegeses dispensam tais amarras. Somente são
necessários um fantasista para criar e alguns energúmenos para desenvolver e
divulgar mais uma mentira. Por mais infundada que seja sempre haverá palco e
plateia. Afinal, que atratividade teria a Anesia real, de "maneuras humildes"?
.
17 julho 2023
30 abril 2022
Policias militares mortos ao terem enfrentado cangaceiros ou assassinados após capturados.
Em um tempo em que há quem, na Bahia, pense em colocar nomes de cangaceiros em praça, cabe lembrar estes nomes:
Cabeça do tenente policial militar Geminiano José dos Santos, morto e decapitado pelo bando de Lampeão..1924
11 de outubro de 1924
tenente Joaquim Alves de Souza
1927
14 de fevereiro de 1927
soldado Paulo Sant’Anna
dezembro de 1927
inspetor Norberto Xavier Gomes
cabo desconhecido
soldado desconhecido
1928
6 de abril de 1928
3° sargento Antônio Anacleto de Oliveira
21 de agosto - Passagem de Lampeão à Bahia
21 de dezembro de 1928
3° sargento José Joaquim de Miranda
soldado Francellino Gonçalves Filho
soldado Juvenal Olavo da Silva
1929
7 de janeiro de 1929
soldado José Rodrigues da Silva
soldado Manoel Nascimento Souza
2 de fevereiro de 1929
anspeçada Francisco Estevam do Carmo
soldado Enedino Alves Ribeiro
soldado Francisco Nascimento dos Santos
soldado Lourival Ricardo da Conceição
27 de fevereiro de 1929
anspeçada desconhecido
soldado desconhecido
14 de maio de 1929
soldado Pedro Alves da Fonseca
4 de julho de 1929
cabo Antonio Militão da Silva
soldado Cecílio Benedicto Silva
soldado Leocadio Francisco Silva
soldado Manoel Luiz França
soldado Pedro Sant’Anna
20 de setembro de 1929
soldado Antonio Geraldo de Oliveira
24 de setembro de 1929
cabo João Soares da Silva
21 de outubro de 1929
soldado Olegário Correia da Silva
18 de dezembro de 1929
soldado João Felix de Souza
soldado Vitorino Baldoino Lopes
22 de dezembro de 1929
anspeçada Justino Nonato da Silva
soldado Antonio José da Silva
soldado Arestides Gabriel de Souza
soldado Ignacio Oliveira
soldado José Antonio Nascimento
soldado Olympio Bispo de Oliveira
soldado Pedro Antonio da Silva
1930
29 de março de 1930
soldado Calixto Eleutério
1 de agosto de 1930
2° tenente Geminiano José dos Santos
2° sargento José de Miranda Mattos
soldado Argemiro Francisco dos Reis
soldado Arnaldo Claudio de Souza
1931
30 de janeiro de 1931
soldado desconhecido
3 de fevereiro de 1931
soldado desconhecido
soldado desconhecido
5 de fevereiro de 1931
soldado desconhecido
24 de abril de 1931
2° sargento Leomelino Rocha
soldado Carlos Elias dos Santos
soldado Francisco dos Santos
soldado José Carlos de Souza
soldado José Gonçalves do Amarante
soldado Pedro Celestino Soares
soldado Saul Ferreira da Silva
9 de maio de 1931
soldado desconhecido
soldado desconhecido
soldado desconhecido
junho de 1931
soldado Antonio José da Silva
28 de agosto de 1931
soldado Francisco Cyriaco Sant'Anna
1932
2 de fevereiro de 1932
soldado Bôaventura Manoel da Silva
1933
20 de julho de 1933
cabo Pedro Luiz de Farias
soldado Antonio Fernandes de Lima
7 de setembro de 1933
soldado José Fernandes
soldado Manoel Bellarmino de Macedo
2 de outubro de 1933
soldado Pedro Emygdio de Oliveira
1934
22 de abril de 1934
soldado João Pereira de Souza
1939
23 de maio de 1939
soldado desconhecido
27 abril 2022
AOS DEFENSORES DA VERDADE HISTÓRICA
Venho a público agradecer a todos quantos assinaram o manifesto que tem por título "AO HONRADO POVO DA A BAHIA". O referido documento, assinado por estudiosos do Cangaço das mais diversas profissões e estados, teve por objetivo protestar contra o projeto de lei que daria o nome de Corisco e Dadá à praça a ser instalada no município de Barra do Mendes, estado da Bahia. Em seu bojo, o manifesto demonstrou que tal homenagem seria um acinte aos sertanejos trabalhadores e honestos do município, uma vez que os homenageados foram bandidos notórios que ficaram famosos pelas práticas de crimes monstruosos e sádicos cometidos na época do Cangaço Lampião (1916-1938) que cobriram as paisagens das caatingas profundas com um rastro de sangue, luto, miséria e desgraça. Desta forma, nossa intenção, com o manifesto, foi reavivar a memória do povo baiano, nordestino e em especial de Barra do Mendes, destacando que prestar homenagem a quem provadamente viveu e enriqueceu roubando, extorquindo, sequestrando e tocando o terror por meio de assassinatos, estupros, esquartejamentos, destruição de pequenas propriedades, torturas, perfuração de olhos, arrancamento de línguas, marcação por ferro em brasa e castrações aviltantes jamais pode ter o nome dado à praças, ruas ou estabelecimentos oficiais construídos com verbas públicas tiradas dos suados impostos do povo trabalhador. Neste contexto, saudamos a decisão dos poderes públicos estadual e municipal em acatar nosso apelo ao redefinir o infeliz projeto, retirando a inadequada homenagem aos citados foras da lei. Ainda nessa linha, saibam todos que os signatários deste documento estarão sempre vigilantes para denunciar e combater os devotos de marginais que insistem, através de manobras escusas, em transformar seus ídolos delinquentes em heróis com a intenção de varrer suas crueldades para baixo do tapete do esquecimento. Por fim, Corisco e Dadá são personagens que devem ser lembrados pelo mal que causaram às populações desvalidas do Sertão. Quem acredita que eles foram heróis e defensores dos fracos e oprimidos que apresente uma única prova de atos revolucionários, de justiça social ou de heroísmo que essas figuras tenham praticado em favor do pobre povo da região onde atuaram. Tem mais: acreditamos que é perfeitamente possível implementar o turismo sem exaltar cangaceiros ou fazer apologia aos seus crimes . Qualquer coisa fora disso é tripudiar sobre a memória de centenas de vítimas que padeceram entre os fogos dos bandidos e de algumas volantes arbitrárias. Rogamos que o Cangaço nunca mais volte a atentar contra a paz do Nordeste. E que não se confunda vilões degenerados com rebeldes que lutaram contra o sistema por causas justas ! A inversão de valores é uma deformação cultural e, muitas vezes, de caráter ! Encerro prestando reverências ao querido e honrado amigo Silvio Bulhões, filho de Corisco de Dadá, que jamais tentou encobrir a atuação criminosa de seus próprios pais ! Atenciosamente, João Marcos Carvalho Jornalista e Historiador
22 abril 2022
BANDIDOS, ESTÁTUAS e PRAÇAS
Prezados Rubens, Ana Cataldi e Luci Guimarães,
que, entre outras e outros, se dedicam ao estudo sério e criterioso do Cangaço,
agradeço pelo gentil convite que me fizeram para voltar a este grupo, no qual
eu já havia atuado com muito prazer em época recente.
Nesse período, como participante, procurei
contribuir com as informações e conhecimentos que adquiri sobre esse tema
apaixonante, árduo e ao mesmo tempo espinhoso, que une e desune
pesquisadores. Ao longo dos últimos 44
anos, como jornalista e historiador profissional, tive a sorte de entrevistar
ex-cangaceiros, ex-volantes, ex-coiteiros, ex-barqueiros e outros personagens
que interagiram diretamente com o Cangaço Lampiônico (1916-1938), como é o caso
das vítimas atingidas pela crueldade da guerra rural, emoldurada por secas
cíclicas.
Nessa linha, produzi, a partir de 1998, mais de
cem trabalhos sob o tema, seja em forma de reportagens, artigos, matérias,
análises e documentários, publicados e veiculados por expressivos órgãos
nacionais de mídia impressa, radiofônica e televisiva.
Essa bagagem me permite afirmar que nessa lida
serei sempre um aprendiz, uma vez que o assunto pelo qual nos dedicamos está
longe de se esgotar à medida que novos fatos ainda teimam em aflorar.
Desta forma, continuarei marchando pela vereda
da investigação jornalística somada às metodologias científicas que nos fazem
chegar mais próximos possível da verdade histórica.
Assim sendo, sigo na linha de frente dos que
combatem, com veemência, os negacionistas, oportunistas, ignorantes, mal
informados e mal intencionados que, apesar de todas as provas em sentido
contrário, insistem em classificar o Cangaço
como um movimento social que se opôs ao velho coronelismo de barranco.
Nesse cenário, reitero aqui minha posição
consolidada sobre a questão:
Lampião e seus cabras eram aliados dos coronéis
latifundiários, que lhes forneceram proteção política, logística e armas, com
as quais trucidaram centenas de sertanejos desvalidos.
Desse modo, desafio a quem defende a tese
segundo a qual Lampião, Corisco e outros cangaceiros seriam heróis a apresentar
uma única prova de um ato heróico, revolucionário e de justiça social praticado
por essas figuras em favor do povo sertanejo.
Portanto, não me furtarei a denunciar todos quantos ousarem tentar
utilizar dinheiro público para homenagear bandidos, dando seus nomes à praças e
ruas, ou erguendo estátuas e monumentos em memória de quem praticou crimes
hediondos contra o povo.
Por fim, presto aqui minha reverência ao meu
querido e honrado amigo Silvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, que jamais
tentou encobrir os crimes inomináveis que seus pais cometeram durante os
tenebrosos tempos do Cangaço.
Ao mesmo tempo, reverencio os sertanejos
mortos, roubados e torturados por cangaceiros e membros arbitrários de
determinadas volantes naquela quadra
infeliz de nossa história.
João Marcos Carvalho - Jornalista e Historiador