22 abril 2022

BANDIDOS, ESTÁTUAS e PRAÇAS

 



Prezados Rubens, Ana Cataldi e Luci Guimarães, que, entre outras e outros, se dedicam ao estudo sério e criterioso do Cangaço, agradeço pelo gentil convite que me fizeram para voltar a este grupo, no qual eu já havia atuado com muito prazer em época recente.

Nesse período, como participante, procurei contribuir com as informações e conhecimentos que adquiri sobre esse tema apaixonante, árduo e ao mesmo tempo espinhoso, que une e desune pesquisadores.  Ao longo dos últimos 44 anos, como jornalista e historiador profissional, tive a sorte de entrevistar ex-cangaceiros, ex-volantes, ex-coiteiros, ex-barqueiros e outros personagens que interagiram diretamente com o Cangaço Lampiônico (1916-1938), como é o caso das vítimas atingidas pela crueldade da guerra rural, emoldurada por secas cíclicas.

Nessa linha, produzi, a partir de 1998, mais de cem trabalhos sob o tema, seja em forma de reportagens, artigos, matérias, análises e documentários, publicados e veiculados por expressivos órgãos nacionais de mídia impressa, radiofônica e televisiva.

Essa bagagem me permite afirmar que nessa lida serei sempre um aprendiz, uma vez que o assunto pelo qual nos dedicamos está longe de se esgotar à medida que novos fatos ainda teimam em aflorar.

Desta forma, continuarei marchando pela vereda da investigação jornalística somada às metodologias científicas que nos fazem chegar mais próximos possível da verdade histórica.

Assim sendo, sigo na linha de frente dos que combatem, com veemência, os negacionistas, oportunistas, ignorantes, mal informados e mal intencionados que, apesar de todas as provas em sentido contrário, insistem em classificar o Cangaço  como um movimento social que se opôs ao velho coronelismo de barranco.

Nesse cenário, reitero aqui minha posição consolidada sobre a questão:

Lampião e seus cabras eram aliados dos coronéis latifundiários, que lhes forneceram proteção política, logística e armas, com as quais trucidaram centenas de sertanejos desvalidos.

Desse modo, desafio a quem defende a tese segundo a qual Lampião, Corisco e outros cangaceiros seriam heróis a apresentar uma única prova de um ato heróico, revolucionário e de justiça social praticado por essas figuras em favor do povo sertanejo.

Portanto, não me furtarei  a denunciar todos quantos ousarem tentar utilizar dinheiro público para homenagear bandidos, dando seus nomes à praças e ruas, ou erguendo estátuas e monumentos em memória de quem praticou crimes hediondos contra o povo.

Por fim, presto aqui minha reverência ao meu querido e honrado amigo Silvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, que jamais tentou encobrir os crimes inomináveis que seus pais cometeram durante os tenebrosos tempos do Cangaço.

Ao mesmo tempo, reverencio os sertanejos mortos, roubados e torturados por cangaceiros e membros arbitrários de determinadas volantes  naquela quadra infeliz de nossa história.

João Marcos Carvalho - Jornalista e Historiador


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