19 abril 2022

AO HONRADO POVO DA BAHIA

 Nós, historiadores, estudiosos, pesquisadores e escritores especializados no tema Cangaço (abaixo assinados) com atuação em vários estados brasileiros, fomos surpreendidos, neste corrente mês de abril, com a notícia segundo a qual o município de Barra do Mendes (BA), aprovou, com o apoio do governo estadual, a construção de um monumento memorial em homenagem ao bandido Corisco e sua cúmplice Dadá, a ser instalado na fazenda Pulga, de propriedade da família Pacheco, local onde o casal, ao reagir à voz de prisão da patrulha volante da Polícia Militar da Bahia, foi atingido por tiros.

Em consequência, Corisco foi mortalmente ferido, vindo a falecer na manhã do dia seguinte enquanto era transportado em caminhão para Miguel Calmon.

Dadá, atingida no pé, foi capturada. Hospitalizada, por conta de complicações do Diabetes, teve a perna amputada devido à gangrena.

Nessa linha, para quem desconhece a história dos homenageados, é fundamental recordar que Cristino Gomes da Silva Cleto (Corisco – 1907-1940), foi um dos mais notórios cangaceiros do bando de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), que aterrorizou o Sertão nordestino entre 1916-1938. Nesse período tenebroso da história do Nordeste, os cangaceiros cometeram centenas de assassinatos, roubos, sequestros, estupros, torturas, incêndios em fazendas de proprietários de classe média e assaltos ao comércio de pequenas cidades e povoados, levando populações inteiras à miséria absoluta.

Ainda neste contexto, erra quem pensa que os cangaceiros foram justiceiros sociais, revolucionários ou defensores dos fracos e oprimidos.

Na verdade, esses bandos compostos por degenerados ensandecidos, foram aliados dos velhos coronéis latifundiários, exploradores do povo pobre, que forneceram abrigo, logística e armas com as quais os cangaceiros trucidaram os sertanejos desvalidos que se recusaram, heroicamente, a colaborar com suas atividades criminosas.

Com relação especificamente a Corisco e Dadá, prestes a virarem nome de praça, os mais cuidadosos pesquisadores e historiadores do Cangaço, somados à imprensa nacional e internacional, registraram ao longo dos anos em seus jornais, revistas, livros, documentários e reportagens que o bandido em questão supostamente raptou Sérgia Ribeiro (Dadá – 1915-1994), quando a mesma tinha treze anos.

Seja como for, o fato é que, dois anos mais tarde, Dadá já estava totalmente adaptada à vida do crime, tornando-se comparsa de seu companheiro nos assaltos e roubos, inclusive os seguidos de morte.

Entre eles consta o brutal assassinato de Herculano Borges, ex-subdelegado da Polícia Civil baiana, ocorrido em 1931. O policial transitava pelo Sertão quando foi capturado por Corisco.

Herculano cometera o “grave erro” de ter cumprido a lei e seu dever profissional ao prender, por alguns dias, o cangaceiro em início de carreira, pego em atividades ilegais.

Por conta disso, o agente foi amarrado de cabeça para baixo numa árvore enquanto o sanguinário bandoleiro lhe tirou toda a pele com uma faca como se despelasse um animal.

Detalhe: a vítima, mesmo padecendo de dores horríveis, permaneceu viva durante todo o ato dantesco. Em seguida, teve seu corpo desmembrado vagarosamente até a morte.

Depois, Corisco, ainda não satisfeito, espetou seus restos mortais nas pontas de uma cerca, deixando-os à sanha das aves de rapina.

Após essa barbaridade, Corisco e Dadá continuaram cometendo crimes pelo Nordeste afora. No início de agosto de 1938, um massacre bárbaro assombrou o Brasil.

Com o pretexto de vingar a morte de seu mestre Lampião, que fora abatido três dias antes, juntamente com Maria Bonita e mais nove cabras pela polícia de Alagoas em Sergipe - Corisco invade a fazenda Patos, em Piranhas (AL), e trucida a família Ventura.

Marido, esposa e quatro filhos menores são decapitados vivos.

As cabeças são mandadas para o tenente João Bezerra, comandante da volante alagoana que deu cabo de Lampião.

Dias mais tarde, verificou-se que a família assassinada jamais delatou o esconderijo de Lampião, como imaginavam Corisco e Dadá.

Mesmo com a morte do Rei do Cangaço e parte de seu bando, a dupla de bandidos continuou na senda do crime.

Em 25 de maio de 1940, o casal, armado, mas despido dos trajes cangaceiros, viaja rumo à Minas Gerais juntamente com os companheiros Rio Branco e Florência.

Os quatro cangaceiros levavam junto com eles a menina Zefinha, de 10 anos, raptada no interior baiano e que servia de disfarce para enganar a polícia, já que cangaceiros em fuga não costumavam a andar com crianças.

Mas a artimanha não conseguiu ludibriar o astuto tenente José Rufino, que interceptou o pequeno bando em Barra do Mendes.

Enquanto Rio Branco e Florência conseguiram se evadir, Corisco, que reagiu a tiros, foi baleado, falecendo no dia seguinte.

Dadá ficou ferida no pé. Ferimento, que conforme já foi dito, lhe causou, posteriormente, a amputação da perna. 

Já a menina Zefinha foi devolvida sã e salva aos seus pais.

Dito isso, apelamos para que o prefeito de Barra do Mendes, Antônio Barreto de Oliveira, e o governador do Estado da Bahia, Rui Costa, encontrem uma fórmula para revogar o inapropriado decreto, uma vez que a nefasta homenagem, se concretizada, vai se constituir num verdadeiro acinte ao povo trabalhador e honesto de Barra do Mendes, além de uma escandalosa apologia ao crime!

Sangue, dor, luto e crueldade são os únicos legados que Corisco e Dadá (que não eram baianos) deixaram para o bravo povo de Barra do Mendes, que, com certeza, têm inúmeras personalidades que merecem ser homenageadas pelo muito que fizeram para o desenvolvimento da região.

João Marcos Carvalho - Jornalista e Historiador

Rubens Antonio da Silva Filho – Geólogo e Historiador, Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia

Leandro Cardoso Fernandes - médico e escritor

Israel Maria dos Santos Segundo - advogado e escritor

Luciano Antônio dos Santos - coronel PM-AL

Luci Guimarães - desenhista gráfica

Sulamita S. Buriti -  jornalista - Campina Grande (PB)

Naeliton Santos, ator e diretor de teatro - Maceió

Luis Fernando Ribeiro de Oliveira, administrador de empresa - Santos (SP)

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4 comentários:

  1. Até que enfim a sensatez tem lugar de fala!

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  2. Uma obra dessa, seria um tapa na cara do povo de uma região inteira, que conseguiu vencer esse mal chamado cangaço!

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  3. Boa tarde,além dessa história macabra tem outra. A do Coronel Horácio de Matos e do Coronel Militao Coelho,na região de Barra do Mendes- BA.

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  4. O que esperar vindo de um governo que comete crimes, enaltece bandidos e é aliado de criminosos em toda a América Latina?

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