15 abril 2012

7 de janeiro de 1927, no “Diario de Noticias”

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7 de janeiro de 1927, no “Diario de Noticias”:

O cangaço em todo o nordeste brazileiro
A POLITICALHA É A FORGICADORA DE TODA A SITUAÇÃO
Veridicas declarações de Pimentel Junior

Por interessante e, mais do que isso, por serem partidas do illustre patricio, que é o dr. Pimentel Junior, director do “Instituto São Luiz”, da cidade de Fortaleza, no Ceará, passamos para estas columnas as verdadeiras declarações que vêm de ser feitas a “O Jornal”, do Rio, sobre o cangaceirismo dominante nos sertões daquelle Estado nortista, e em todo o nordeste brazileiro que, de par com as frequentes seccas anniquiladoras das populações locaes e dos seus haveres, soffre tambem essa innominavel praga, que se mostra quasi irremediavel, porque para isso, para combater ao cangaço, mais impotente se revela a acção dos que dirigem ou têm dirigido os Estados do nordeste, em virtude do expediente e da sanha dos politiqueiros dos sertões, prestigiados que ficam nas capitaes.
Falando áquelle nosso collega carioca, disse o dr. Pimentel Junior, alli recem–chegado da zona, quasi permanentemente conflagrada, dos sertões de Cariry, no Estado do Ceará:
Politica convulsiona o Ceará:
Sobre as condições do Estado do Ceará, só me compete dizer, com imparcilidade, que são pessimas.
Deixei minha terra congestionada pelo desencadear subtaneo dos odios ensofregados dos partidos politicos que se degladiam, de modo assustador, no quererem firmar, nos dominios ambicionados da politica, a sua preponderancia.
Arregimentam partidarios, alliciam capangas destemerosos, affeitos ás correrias infrenes e aos assaltos destruidores no sertão, com objectivo unico de se tornarem unicos detentores do poder. E perante a situação lamentavel em que se encontra actualmente o Ceará, as autoridades competentes fraquejam no conter a ordem entre os antagonistas que se defrontam numa luta ingloria de consequencias desastrosas.

As causas do banditismo

A causa que determina o banditismo no Ceará, resalta, ao primeiro lance, de vista, do observador mais obtuso. Provoca–o, dando–lhe desenvolvimento amplo, a politica, sem entranhas dos chefetes do sertão.
O cearense, como sabe, é forte e destemido, aventureiro e audaz. Resiste aos maiores infortunios, supporta com estoicismo incomparavel o desabar tremendo das tormentas, enfrenta com desassombro os effeitos terriveis dos verões bravos e arroja–se com tanta facilidade e vigor ás empresas arriscadas, como com audacia e bravura no campo da luta, onde patenteia a elasticidade, rigida e admiravel de sua musculatura de aço, no provocar lances surprehendentes.
Podemos affirmar que no Ceará não ha cangaceiros tarados na verdadeira expressão do termo. Fabricam–nos os chefes politicos locaes, nas epocas agitadas das eleições, aproveitando a sua tradicional valentia no incutir–lhes no animo predisposto, varonil e rude, o germen corruptor da desordem franca. Os sertões dos Carirys sobretudo, são a terra classica do cangaço.
Alli, as questões de terra, os pleitos politicos, as vindictas de familia, solucionam–se com o auxilio condemnavel de brutal do braço emrcenario dos cangaceiros atrevidos.
Qualquer chefe de partido sertanejo que deseje apagar do calendario dos vivos o nomedetestavel de ums eu adversario, ou desaffecto, chama um Neco Lopes, ou um João Alves qualquer, paga–lhes quinhentos ou um conto de réis e algumas horas depois do negocio fechado – no dizer expressivo dos matutos 0 o antagonista terrivel do mandão local é enviado para as regiões deesconhecidas donde não se volta mais.
O crime fica impune, porque a justiça sem força não póde attingir o mandatario, nem perseguir o executor.

Os prejuizos causados pelo cangaço

Os prejuizos causados pelo cangaço são incalculaveis e indescriptives.
O senhor ue conhece a Historia lembra–se certamente do terror, da miseria da destruição que acarretavam os hunos, os alamanos, os godos, os vandalos, os lombardos e outros povos barbaros na sua marcha triumphante e devastadora através do Continente europeu.
O mesmo pavor experimenta o povo do Nordeste, quando os cangaceiros sob a protecção nefasta dos potentados locaes, percorrem, em tropelias desempedidas, os sertões combustos, assaltando povoações, villas e cidades, commettendo attentados que revoltam. E além dos ataques e assassinios que praticam, deprimem–se, cada vez mais no deshonrar covardemente os lares felizes dos sertanejos honrados.

A indifferença do governo estadual

O governo do Ceará pouco se preoccupa com esse problema de maxima importancia que exige uma solução urgente e efficaz. Emquanto as autoridades do Estados limitrophes atacam de rijo, os bandoleiros ferozes, mettendo–os num circulo aterrador de baionetas, o governo cearense limita–se a mandar patrulhas volantes de policia para o interior, as quaes deixam muito a desejar, porque são mais turbulentas, mais indisciplinadas do que os proprios cangaceiros. A reacção contra os Lampeãos, no Ceará, se faz entre os particulares. Os commerciantes, os fazendeiros, os agricultores se armam por conta propria, afim de resistirem aos assaltos repetidos dos bandidos.

7 de janeiro de 1927, no “Diario de Noticias”: "Dr. Pimentel Junior, o entrevistado que narra as miserias do nordeste brazileiro"

Lampeão escudo da legalidade

O bando de Lampeão foi, de facto, incorporado ás forças governistas que combateram as columnas Prestes.
E penso que este facto não causará surpresa a quem estiver ao par da organização das forças que o nossos governo mandou contra os revolucionarios.
Os peores elementos da nossa sociedade sertaneja fizeram parte dos celeberrimos batalhões patrioticos cearenses que se bateram platonicamente contra os soldados de Prestes.
se os senhores daqui se surpreederam com a incorporação do bando de Lampeão ás forças governistas foi pelo simples motivo de não conhecerem de viso o Nordeste Brazileiro.
Lampeão está sendo falado demais, porque é cangaceiro novo e, como se sabe, no Ceará, no Brazil interior, só se gosta de novidade.
Terminando, o dr. Pimentel Junior, accrescenta que o unico meio para se extinguir o cangaceirismo, é fazer desaparecer a politicalha dos sertões.
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