26 novembro 2012

"Arvoredo", o cangaceiro. Alguns subsídios para sua história.


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Cangaceiro Arvoredo, que a população local e os demais cangaceiros chamavam "Alvoredo", tinha por nome Hortêncio Gomes da Costa. Também ficou conhecido, por assim se identificar, como Hortêncio Gomes da Silva, Hortêncio Gomes de Lima, José Lima e José Lima de Sá.
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Depoimento de "Arvoredo", quando preso. 1927, copiado em extrato em inquérito policial de 1929:
José Lima, (que é o mesmo Hortencio Gomes de Lima ou José Lima de Sá, vulgo “Arvoredo”) estava;em Juazeiro, onde foi preso a pedido da autoridade policial de Jaguarary, alli;chegou a 5 sendo ouvido em auto de perguntas. Declarou “ser filho de Faustino Gomes, vulgo “Banzé” e Maria de Jesus, natural de “Salgado do Melão”; que dalli partiu;com destino a São Paulo, encontrando–se em Varzea da Ema com João de Souza,;(Cicero Vieira Noia) seu conhecido e João Baptista (que é o mesmo Christino ou “Curisco”); que em caminho se encontraram com Manuel Francellino, vindo em sua;companhia para Jaguarary, pernoitado em casa delle os tres; que moraram cerca de oito dias em casa de Antonio Piahy, até que alugaram uma casa a Demosthenes Barboza, por intermedio de João Baptista, seguindo na terça feira, 30 de Agosto para Juazeiro, a negocios, sendo alli preso na sexta feira ultima, dois do corrente; que antes de chegar á “Santa Rosa” com seus companheiros de viagem, o de nome João Baptista propoz para todos mudar de nome, ficando o depoente com o de Jose Lima, lembrando–se tambem que depois de se acharem nesta Villa, com João Baptista e João de Souza ou Cicero, foram á cidade de Bomfim, alli se hospedando na pensão de Piroca, por indicação do cel. Alfredo Barboza; que pretende não se juntar mais com João Baptista e João de Souza, caso se encontre ainda com os mesmos, pretende se retirar desta Villa depois de pagar o que deve ao senhor coronel Alfredo Barbosa”. (fls.208–210).
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De depoimento da mãe de "Arvoredo", colhido em inquérito policial, em 1929:
"Maria de Jesus e tambem da Conceição, mulher de Faustino Gomes da Costa (“Banzé”) ou “Pae Velho”, do grupo de “Lampeão) foi ouvida nesta mesma data e affirmou que ha tres mezes reside em “Olhos d’Agua”; que o apellido de “Arvoredo” foi posto em Hortencio por seus irmãos, quando era pequeno; que tem cinco filhos – Hortencio, Ambrosio, Raphael, Sylvestre e Manoel, vulgo “pé de meia”, os quais têm sobrenome de Gomes da Costa que Hortencio tem, alem deste nome, o de José Lima; que seu filho “Arvoredo” acompanha “Lampeão”, por ser amigo de infancia de Christino, conhecido por João Baptista da Silva, vulgo “Corisco”; que João Baptista é filho de Firmina, empregada na fabrica de linhas da Pedra, Estado de Alagoas e Manoel de tal, já fallecido, na Matinha de Agua Branca, com parentes residentes na fazenda “Sitio”, de Salgado do Melão."
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Como referência não tanto inédita, mas completamente esquecida no estudo do Cangaço, ressurge aqui informação de que Pae Velho, o cangaceiro que morreu junto com Mariano e Pavão (que na foto abaixo aparece equivocadamente denominado Zeppelin), era pai do também cangaceiro Arvoredo.
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Outro ponto discutido é se "Arvoredo" e "Corisco" eram primos.
Estes trechos, tirados de inquérito policial com o depoimento de dois dos irmãos de "Arvoredo", confirmam este ponto:
"Declararam, então Raphael Gomes da Costa, filho de Faustino Gomes da Costa e Maria de Jesus que: “seu pae é criminoso em Santo Antonio da Gloria; que seu pae ha pouco chegou em Salgado do Melão devido á perseguição da força contra o mesmo; que no grupo denominado “Lampeão” tem os parentes Hortencio Gomes de Lima ou José Lima de Sá, vulgo “Arvoredo”, irmão do depoente, e Christino de tal, vulgo “Curisco”, ex soldado da policia de Sergipe, primo do depoente; que o grupo de “Lampeão” ha cerca de um mez fôra visto no “Serrote da Macambira”, de Santo Antonio da Gloria, com destino a Sergipe, de cujo grupo constavam entre outros, “Lampeão”, Curiscu, Arvoredo, o menino conhecido por “Volta Secca” e outros; que “Arvoredo”, seu irmão, já lhe escreveu por duas vezes e mandou recado convidando o respondente a fazer parte do bando “Lampeão” que tambem já mandou fazer esse convite. Perguntado que respostas deu a esse convite, respondeu que por hora ainda não decidiu nada.”
José Gomes da Costa fez quase identicas declarações, referindo tambem que recebera convite de “Arvoredo” e “Lampeão” para fazer parte do seu bando, não tendo ainda resolvido nada a respeito."
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Arvoredo morreu em 26 de maio de 1934, na serra, próximo à estação ferroviária da Barrinha, por então conhecida como Angicos.
Os dois matadores foram Cícero José Ferreira, o Xisto, que nasceu em 1911, e João Biana da Silva, que nasceu em 1913.
Uma imagem cuja dificuldade para conseguir foi grande, mas, graças ao senhor Raimundo, de Jaguarari, ex-cunhado de João Biano, e a gentileza imensa da filha e do filho deste valente matador de Arvoredo, aqui a única foto existente... de João Biano:

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Muito chamado por "João Biana" é uma alteração posterior ao evento da morte de Arvoredo.
O nome correto é João Biano da Silva.
No texto de Oleone Fontes, em seu livro "Lampião na Bahia", aparecem os matadores citados como Xisto e João Martins da Silva... Este erro apenas reproduz o cometido pelo coronel Alfredo Barbosa, de Jaguarary, que, à época do evento, relatou-o, errando no nome de João.
João Biano está enterrado na Fazenda Saco, em Jaguarari.
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Partícipe, com o amigo João Biano, na morte do cangaceiro Arvoredo, esta é a única foto restante de Cícero Ferreira, o Xisto.
A dificuldade para se conseguir esta foto foi imensa, mas, finalmente, graças ao sobrinho de Xisto, Messias, e à filha adotiva daquele, a "Neguinha", consegui esta imagem.
Xisto está sepultado na Fazenda Mulungu, em Jaguarari.
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Sepultura do cangaceiro Arvoredo, em Jaguarari:

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Sepultura do cangaceiro Arvoredo, em Jaguarari - detalhe - AC = Arvoredo Cangaceiro:

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Como citar
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09 novembro 2012

O Combate de Abóbora - Relatório do tenente Odhonel


O Relatorio do Tenente Odhonel
"No dia 7 parti ás 5 horas com destino á fazenda Arapuá, onde, no dia anterior, o bandido com o respectivo grupo havia deixado a cavalhada em que viajava e tomado outra. Convem salientar que depois da morte do sargento Miranda o perigoso grupo não viajou mais a pé.
Da fazenda Arapuá segui para o povoado de Abobora em cujas proximidades cheguei ás 9 horas com 8 praças, inclusive o sargento, por terem as outras se atrazado. Ainda encobertos pela caatinga, apeiamos amarramos os animaes, e, como de costume, mandei fazer o serviço de reconhecimento, designando para isto o sargento e o soldado Octacilio José de Senna, e com as demais praças fui seguindo na mesma direcção.
Pouco depois retorna o soldado Octacilio pedindo-me, da parte do sargento, mais dois homens que mandei, acompanhando-os, com o restante, á pouca distância. Ao sahirmos na esplanada, em cujo centro se acha o cemiterio, isto junto ao povoado, descobri o sargento amparado no muro do referido cemiterio, observando. Pergunto-lhe o que ha, e elle me responde:
- “Lampeão está na terra”.
Neste momento e á nossa vista, certamente prevendo combate, a feira que alli então se realizava debanda em formidavel correria e ao mesmo tempo os bandidos nos alvejam.
Deitamo-nos e entramos em acção. O solo descampado e plano não offerecia o menor abrigo. Depois de alguns instantes de fogo, 4 dos bandidos atrevidamente se levantam sempre atirando e procuram nos contornar, dois por um flanco, dois pelo outro.
Neste momento fui ao flanco esquerdo trocar o mosquetão que trazia por um fuzil. Voltei ao ponto em que estava. Como os bandidos cada vez mais se approximassem fui, de novo, ao flanco esquerdo, e então me diz o sargento não poder mais combater por estar ferido, em condições de não suster a arma; quando isto ouvia sou também ferido. Continuo no entretanto a combater e a encorajar os meus commandados. O sargento se retira em direção á caatinga e 3 soldados o acompanham. fiquei com o soldado Octacilio e mais duas praças. era o momento culminante. Os bandidos se aproximam mais e mais e o soldado Octacilio recebe um ferimento na cabeça e atordoado se retira.
Vou concitar os 2 restantes á resistência e os encontro mortos. Esta, portanto, só.
Amparo-me no muro do cemitério e eis que deparo num angulo do mesmo muro com um dos bandidos e alvejo-o: este cae ou se deita.
Contorno o muro e, no outro angulo deparo com outro bandido: alvejo-o e elle cae parecendo morto. Os demais bandidos investem sempre. Recuo um pouco e tomo posição atraz de um tronco e resisto alguns minutos. era, porém, impossivel continuar. Levanto-me e penetro na caatinga, onde fui acomettido de uma tontura que me prostrou certamente devido à perda de sangue. Quando púde me levantar encontrei pouco adiante o soldado Octacilio, depois os outros e finalmente os demais que se aproximavam.
Acolhemo-nos em uma casa onde, passado algum tempo, compareceu um velho dizendo haver recolhido o sargento ferido. Mandei buscal-o. Pouco depois fomos até o povoado e no respectivo cemiterio enterramos os dois companheiros mortos. Soube no povoado ter um dos bandidos passado por alli, morto e carregado nos braços pelos demais: crio tratar-se do 2, que alvejei no angulo do muro.
Ás 15 horas deste mesmo dia seguimos para a estação de Barrinha onde chegamos ás 23 horas, tendo, no dia seguinte, ás 8 horas, seguido com as praças do meu comando para Bomfim em caminhão que fora para isso designado. Ahi, eu e os dois soldados feridos recebemos os primeiros curativos pelo dr. Antonio Gonçalves.
Na manhã de 10 do corrente cheguei a esta capital pelo trem do horario.
Terminando, devo dizer a V.Ex. que o procedimento do sargento Manoel dos Santos, do soldado Octacilio José de Senna e dos dois fallecidos é digno de franco elogios. Souberam cumprir seu dever."
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