15 fevereiro 2012

15 de setembro de 1926, no “A Tarde”

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15 de setembro de 1926, no “A Tarde”:
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É O FLAGELLO DOS SERTOES DO NORTE
Lampeão atravessa a fronteira bahiana
MAS A POLICIA EM NUMEROSOS CONTINGENTES, CORRE-LHE NO ENCALÇO


Lampeão é o typo do nosso bandido nordestino, vagamente romantico e religiosos até a superstição, matando e roubando com o rosario numa mão e o punhal na outra.
Em constantes razzias pelas regiões despoliciadas, constituem esses bandoleiros um flagello como são as seccas ou as enchentes, as febres epidemicas, males esses de origem commum, oriundos que são todos eles da nossa civilização defeituosa, da vagarosa e difficil penetração.
O sertanejo acceita-os todos, resignadamente, oppondo-lhes fraca resistencia, confiando na justiça e no amparo do governo, que nunca lhes falta, mas que por força da propria organisação politica, não é de molde a extirparl-os radicalmente, restabelecendo nesses rincões hostis, um regimen de ordem e continuada garantia do trabalho.
Lampeão, bandido a muitos annos, mas de celebridade recente, pode se orgulhar de un triste titulo – o de mais temido e poderoso pelo numero de capangas arregimentados, de quantos correm nos sertões do Nordeste. As suas victimas não mais numerosas que as figuras do seu bando. É esse salteador de estradas, rude e valentão, desconfiado e astuto, que dorme na campina, tendo o sellim por travesseiro, cheios de bentinhos e rezas cujo contato pensa absolver de todos os crimes – que acaba de invadir a Bahia, cahindo como uma tromba sobre as populações inermes, cujos haveres e vidas estão desgarantidos.
Immediatamente avisado, o chefe de Policia da Bahia não demorou em attender os appellos.
É claro que essas providencias por mais promptas fossem ordenadas, não evitarão os primeiros damnos, as primeiras lagrimas dos que assistem as scenas de vandalismo. Mas elles serão escorraçados como já teem sido de outros logares, até que melhor occasião se offereça para um cerco em regra, com a captura final.
A policia da Bahia, no particular, - e é justo que se diga – se moveu com uma presteza elogiavel.
O primeiro rebate veio de Santo Antonio da Gloria. Immediatammente partiram, com aquelle destino, um contingente de 100 homens, via ´Propriá, sob o commando do capitão Côrtes e mais dois, com menores efectivos, sob as ordens do tenente Alfredo Gomes e outro official. O governo utilizou assim novas forças, de preferencia a utilizar as do contingente do tenente-coronel Pedro, em outra missão qual a de combater os revoltosos e portanto subordinado ao commando supremo do general Mariante.
Ainda em defesa das populações ameaçadas por Lampeão, segue, hoje, um reforço de 100 homens, sob a direcção dos tenentes Hermogenes Pires e Othoniel dos Santos Lima.
UM APPELLO DESESPERADO
De Joazeiro, recebemos, hoje, mais o seguinte telegramma.
JOAZEIRO, 14 – Acabo de receber o seguinte telegramma de Curaça: “Positivo vindo de Orocó, diz que Lampeão está ali. Minha loja foi destruida. Grupo atravessando rio. Lampeão promette invadir Curaçá e outros pontos. Reina grande pavor. Resta confiarmos medidas urgentes do governo.” ( Do correspondente)
SANTO ANTONIO DA GLORIA JÁ ESTÁ TRANQUILLO
O sr. governador do Estado recebeu hontem esse despacho agradecendo as providencias tomadas:
“SANTO ANTONIO DA GLORIA, 14 – Em nome do commercio de do povo, agradeço a Vossencia a presteza das providencias para guarnecer esta localidade, contra a imminente invasão do bandido, estabelecendo a tranquilidade. A população está satisfeita com a disciplina modelar do bravo Capitão Arthur Côrtes. Saudações. – Heron Carvalho, Intendente.”
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