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25 de maio de 1928, no “Diario de Noticias”:
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Dr. Luiz do Prado Ribeiro
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A endemia do cangaceiro!
“Os sertões, diz–nos o ex–delegado regional dr. Prado Ribeiro, continúam sem garantias”
O dr. Prado Ribeiro, quando occorreu a tragedia de Jurema, achava–se proximo ao local. S.s. chegado a esta capital foi ouvido pela nossa reportagem:
– O sertão bahiano, como eu tenho sempre affirmado, continúa sem garantias.
A situação é invariavelmente a mesma de todos os tempos. O que se disser em contrario é mentira, é intrugisse, como se diz na giria carioca. Nada se tem feito até agora para melhorar esse estado de coisas.
Tenho lido muita mensagem bonita, ouvido muita rethorica, sabido de muita promessa, mas, o problema está insoluvel.
O banditismo na Bahia já é uma endemia, como a febre amarella, a politicagem e outras pragas maldicyas que dissangram e flagellam, dolorosamente, a decantada Moema de seios titanicos.
Quando se quer extinguir–se, combate–se!
O dr. Góes Calmon – continuou – começou a fazer alguma coisa quando me incumbiu de exterminar o banditismo numa das mais ricas regiões do Estado, fronteiriça aos Estados de Piahy e Goyaz.
O que fiz consta do meu relatorio o qual, não sei por que, nunca foi publicado. Nelle enumero os bandidos que morreram em combate, resistindo á força publica e os que se regeneravam pelo trabalho na localidade em que residiam.
Appéllo para os viajantes commerciaes desta praça para que digam se de facto essa região após a minha acção não ficou policiada e completamente pacificada.
Só comprehendo extincção do banditismo assim a ferro e fogo, agarrando–se o banditismo na sua toca e o eliminando, caso elle venha a resistir, o que é um bem para a sociedade.
A acção é essa: não dar treguas nem guarida aos bandidos até que fujam ou morram nas refregas da liuta armada.
Medidas indispensaveis
– Como se livrar os sertões da jagunçada?
– Se a minha experiencia lograsse ser ouvida, eu faria, aqui, algumas considerações suggerindo mesmo, medidas que supponho melhoraram muito esse estado de coisas quando não resolverssem cabalmente o referido problema.
O dr. Madureira de Pinho, titular da Secretaria de Policia, a quem devo muitas distincções pela sua fidalguia de trato bem poderia chamar a si essa benemerencia, atacando de frente o banditismo e o estirpando do Estado; iniciando para o sertão uma éra promissora de paz, de bem estar e de tranquilidade absoluta.
Duas grandes medidas administrativas, entretanto, são preliminarmente necessarias, sem o que tudo será de balde: o aperfeiçoamento da policia militar com os expurgo dos maus elementos e o exterminio dos nucleos de homens armados pertencentes aos chefes politicos municipaes, os quaes são ameaças constantes ao proprio governo do Estado, como no caso de Lençóes, por exemplo.
Alem disso é preciso adaptar–se a nossa força armada ás regiões do nosso vasto “hinterland”, creando–se a policia volante, em diversas regiões, apetrechada e montada para se deslocar com facilidade e attender as necessidades urgentes em outros pontos.
– Ha mais, quanto á tropa: o alliciamento sem selecção, “pret” insignificante e difficil de ser recebido, o que difficulta as diligencias, trabalhando com má vontade.
Uma praxe má adoptada
– Quero me referir á praxe adoptada, numa imitação do que faziam os celebres “batalhões patrioticos”: a policia toma, á força, os animaes e arreios dos sertanejos. Ao commandante da Policia, um brioso official, meu velho camarada, communico o facto, do qual ignoram as auctoridades superiores.
As façanhas de Antonio Souza é uma prova da deficiencia de nossa policia a e de que o banditismo, aqui, domina todas as zonas.
São dezenas de desgraçados que diariamente caem, varados por balas assassinas ao mando de politicos e bandidos desapiedados. E vem logo á mente a pergunta seguinte: – A policia o que fez?... Nada, por que nada poderia fazer... Muitas vezes nem a imprensa chega a saber o que se passara, pois a propria policia não tem nenhum interesse que essas noticias sejam divulgadas. Finalmente o sertão é ainda o de cem annos atraz, com a differença que os homens estão peores.
Antonio Souza, official da policia pernambucana!
– Uma prova da degradação dos nossos homens publicos: o governo de Pernambuco commissionára Antonio Souza como official da sua policia.
Mesmo conhecendo os precedentes desse criminoso, pois o seu chefe de policia dr. Lauro Leão disso fôra scientificado em Janeiro.
Falando franco como amigo leal
Concluiu o dr. Prado Ribeiro:
– Sou dos que tem grande esperança na administração do dr. Vital Soares. Creio, com sinceridade, que, se elle conseguir extirpar alguns males enraizados em nossa terra, fará um optimo governo, já, pois, pelo seu descortinio intellectual, já porque elle vem das predicas do velho Ruy, as quaes têm sido tambem o meu phanal, durante estes meus curtos e já longos dias de existencia. Nas dobras da bandeira gloriosa do grande apostolo, é que comecei a espalhar, com este calor e esta vehemencia que me caracterizam, os ideaes de regeneração e de liberdade, pois, como elle, quero uma Patria livre, grande, democratica e verdadeiramente republicana. Estou, pois, falando como amigo. O mal do nosso pais é que os homens publicos se cercam, commummente, de aduladores e aulicos, os quaes nunca dizem a verdade, com receio de melindrar aos seus amos politicos. Eu, porém, que não tenho senhores e nem tenho a quem adular, pois nasci, quando já não existiam escravos, costumo sempre dizer o que a minha consciencia dita.
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