"Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 06/07/1979
— Há dias tomei conhecimento da trágica morte de Arsênio de Souza, velho conhecido, dos bons tempos em que, invariavelmente, as delegacias policiais do interior baiano eram ocupadas por tenentes da Polícia Militar. Pessoa equilibrada e de uma educação aprimorada, o nosso tenente Arsênio fazia parte de uma turma de tenentes espalhada pelo Sul baiano da qual participava, dentre outros os tenentes Salomão Rhem, Alfredo Coelho e Isaías Reis, todos com passagem pela delegacia de Ilhéus, prestando segurança. e defendendo a integridade física dos componentes da população.
Pelo que soube a morte do estimado, policial foi consequência do seu cavalheirismo. Notando que uma senhora, em estado interessante, estava mal acomodada no coletivo em que viajava, cedeu seu lugar a passageira, sendo atingido pelo desastre, já que o impacto foi atingi-lo justamente na vaga pertencente, momentos antes, a passageira. Isto é o que todos nós chamamcs de destino. Porem para mim, o antigo delegado foi vítima da delicadeza que sempre o acompanhou.O Salomão Rhem também é da estirpe do seu companheiro morto. Trata-se de elemento que sempre se manteve equilibrado, raro se deixando trair pelos excessos tão naturais em autoridades policiais, dada a sua formação. De Alfredo Coelho e Izaías Reis, notava-se uma diferenca sobre os dois primeiros, devido a algumas intervenções quando no cumprimento do dever, mas eram exaltações passageiras e, de modo geral, os quatro podiam ser enquadrados no time daqueles que costumamos chamar de «boas praças».
O então Alfredo Coelho que estava como delegado especial em Belmonte corn a função de defender as autoridades constituídas presididas pelo Washington Luiz, em 1930, quando da vitória da Revolução de Outubro daquele ano, consta que foi o primeiro a usar o tradicional lenço vermelho do movimento getulista. Em Canavieiras, era voz corrente que o Almerindo Rhem foi ajudado por um sargento da polícia, na sua ascenção na Polícia Militar e que só depois de "ajudar" Salomão, deu "uma mãozinha” ao sargento que apesar de ter alguma influência na tropa, continuou, por muito tempo a “marcar passo”.
O meu contato maior foi justamente com o tenente Izaías Reis que, soube depois, pedira baixa da polícía, num ato impensado e muito trabalho, depois, para conseguir a reintegração.
Acompanhei algumas diligencias policiais, como repórter, dirigidas pessoalmente pelo Tenente lzaías. sendo a mais emocionante a do “Crime dos Carilos”. um dos mais trágicos ocorridos na década de 30. O modo humano como o delegado orientava seus subordinados para remover as vitimas, ao meu ver, resultou na recuperação ´das quatro pessoas da família do vendedor ambulante Ezequiel, deixadas pelos bandidos, como mortas. O transporte das vítimas em caminhão efetvamente não fosse bem orientado resultaria, sem dúvida, em suas mortes.
Certa vez, com um grupo de amigos, fui a uma macumba no Iguape. O camdomblé se anunciava, animadíssimo, com muita comida «adendezada» e bastante bebida, pois ia haver uma matança. A função seria num amplo quintal e lá chegando tudo estava preparado para o grande momento, à meia noite. As panelas com caruru e vatapá exalavam o tradicional cheiro do dendê. Os tabuleiros com acaçá, abará e acarajé aguçavam nosso apetite. Quase na hora aprazada para começar a festança, chega a polícia, tendo a frente o tenente Izaías que deu voz de prisão a todos.
Ao me ver, pergunta que estava fazendo e ouvindo a resposta de que estava fazendo reportagem. ele mandou que ficasse ao seu lado, o mesmo fazendo dois dos meus companheiros: Carlos Rogaciano e Osvaldo Mota.
De outra feita, fui solicitar ao Tenente Izaias que soltasse Turiba um «biribano» gazeiteiro que jogava no meu time «Guarani», pois naquele dia .o clube jogaria e o ponta esquerda havia sido preso no Alto da Conquista, como participante de um «sururu». Para dramatizar a situação disse que o detido estava na cadeia há mais de 24 horas, sem culpa formada. Izaías reagiu dizendo que não tinha nada com 24 horas.
Como não deu solução procurei o Deputado federal e chefe político Artur Lavigne. que mandou um cartão ao delegado, pedindo que me atendesse.
O delegado lendo o cartão exclamou: Estes políticos...
E, mandou Manoel Alves, comandante do destacamento soltar Turibio.