27 maio 2014

Colorizando para melhor apreender.

A colorização de imagens adentra os espaços de estudo como recurso.
Dá-se o realce como aplicado reforçando a sensação de "eco temporal", facilitando, com a introdução de uma concepção de resgate visual, a percepção do fato em sua dimensão precisa.
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Lampeão, em 1926:



Arvoredo e Calais, em 1929:
Arvoredo e Calais, versão estendida, complementada por mim:
Cabeças dos cangaceiro na antiga escada da Prefeitura de Piranhas, Alagoas:


Corisco e Dadá, em foto de Benjamin Abrahão Boto:


Tenente Geminiano José dos Santos, da Força Pública do Estado da Bahia. Morto em combate, em 1930:


 Moradora de Canindé do São Francisco, em Sergipe, ferrada pelo cangaceiro José Bahiano:


Cangaceiros mortos. Da esquerda para a direita, Marianno, Pae Velho e Pavão.
Este último, em uma indicação antiga, aparece como Zepellin, entretanto, foi um erro de quem efetuou a identificação.

Abatidos Serra Branca, Eleonora e Ameaço:


Crânio exumado do cangaceiro Zé Bahiano:
Jararaca ferido:

Rosto de Jararaca. detalhe:
Gato e Inacinha:

Cangaceira Inacinha:

Rosto de Inacinha. detalhe:

Cangaceira Nenê:

Bando na Fazenda Jaramataia:


Bando na Fazenda Jaramataia. Versão estendida, através de complementação, por mim:

Chico Pereira:

Volta Secca aprisionado:

Recorte:

Bando, em 1936:

Maria Gomes de Oliveira, conhecida no bando como Maria do Capitão, Dona Maria ou Basé, transformada pela imprensa em Maria Bonita:

Detalhe:



Virgulino Ferreira da Silva, o Lampeão, em 1929:

Dona Maria e Lampeão:


Sub-grupo de Zé Sereno:

Zé Sereno, Azulão e Manoel Moreno, à frente, com Canário, ao fundo:


Durvinha:

Colorização a partir de instantâneo retirado do filme de Benjamin Abrahão Boto:

Antônio Ferreira, em 1926:

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Maria e Dadá:
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Cangaceiro Barreira com a cabeça do cangaceiro Atividade, por ele assassinado:
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Bando em Pombal, Bahia, 1928:

Imagem de tema afim. Coronel Zé Pereira e os líderes dos seus comandados, em Princesa, Paraíba:
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Volante de Zé Rufino:

Manoel de Souza Neto:


Imagem de tema afim. João Pessoa morto:

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Como citar
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1938. Uma entrega de cangaceiros

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Após o massacre de Angicos, muitos cangaceiros entregaram-se.
O contexto das entregas teve início com o aparecimento espontâneo de cangaceiros, que se apresentaram, em 12 de outubro de 1938, quando de uma pregação dos freis capuchinhos Francisco e Agostinho de Loro Piceno, em terras de Jeremoabo. Este, dirigindo-se aos mesmos, convidou-os à entrega, oferecendo-se como intermediário.
Havendo sucesso neste evento, aproximou-se de outra missão de capuchinhos, conseguindo intermediação para a entrega, um outro grupo de  seis cangaceiros chefiados por Zé Sereno. Isto se deu por volta de 20 de outubro de 1938.
Entre 27 e 31 de outubro, houve negociação com um terceiro grupo. Porém, antes que ele se entregasse, um coiteiro afirmou aos cangaceiros que tudo não passava de uma armadilha. Este outro grupo, então, evadiu-se.
Consciente das propostas deste blog, uma primeira imagem foi cedida pelo pesquisador do Cangaço e estudioso Orlins Santana de Oliveira, também reconhecido como "o mais dedicado pesquisador do Brasil em naufrágios na costa baiana". Batida em Jeremoabo, a imagem se apresentava, neste primeiro esforço, sofrida pelo tempo, sendo uma das cópias originais, cuja posse pertence, conforme Orlins, ao acervo da Família Ferreira.


Orlins Santana de Oliveira



Repassando a mensagem do prezado Orlins para os estudiosos do Cangaço:
"A unica foto que se tem conhecimento tirada com a policia, cangaceiros e a igreja católica. Hoje ela pertence ao acervo da Familia Ferreira-Expedita, Vera e outros. Cedida por Orlins Santana de Oliveira, seu criado.
Não é cópia, é uma foto original da época. tamanho 6x9. Zé Sereno, citado como chefe e marcado pelos padres com uma cruz, na foto. Citações no verso.
Um abraço a todos."
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No fundo da foto aparece uma inscrição evocando as personagens nela presentes:

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Transcrição:
"frei Agostinho e frei francisco
Mons, José Magalhães
Capitão Anibal e Alipio Fernandes da Silva : O bando
de Lampião que se entregou
em Geremoabo (1938:
O homem é o
Balão e Zé Sereno, chefote do bando"
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Fonte da imagem de Orlins Santana de Oliveira:
http://www.nectonsub.com.br/wordpress/page/70
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Na busca da ampliação da identificação das personagens desta imagem, buscou-se apoio junto aos religiosos.
Os frades que aparecem na imagem são da Ordine dei Cappuccini, ou seja, capuchinhos. A ordem chegou à Bahia em 27 de abril de 1892, estabelecendo o que mais tarde seria reconhecido com "Provincia di Nostra Signora della Pietà di Bahia e Sergipe”.
O site oficial da Ordem divulgou a foto legendada:

Aparecendo em:
http://www.missionicappuccini.it/Documenti_Storia_Brasile.aspx
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Os dois capuchinhos que aparecem sentados são precisamente os freis Francisco, cujo nome completo era Francesco Urbania, e Agostinho, de nome completo Agostino da Loro Piceno. Estes aparecem nesta outra fotografia contemporânea aos eventos, de propriedade do Centro de Memória dos Capuchinhos, em Salvador:

Na foto das entregas, ocupando a posição central, de pé, está também um padre. É o Monsenhor José Magalhães e Souza, que esteve à frente da Paróquia de Jeremoabo, na igreja matriz São João Batista, de 1928 a 1959.
Fonte: "História da Diocese de Paulo Afonso", do Monsenhor Francisco José de Oliveira, in http://portaljv.com.br/eventos.htm.
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Uma das sugestões de identificação, incluindo o cangaceiros, salvo melhor juízo, é:
De pé, da esquerda para a direita:
Marinheiro, Laranjeiras, Desconhecido talvez Beija-Flor, padre José Magalhães e Souza, Novo Tempo, Ponto Fino, Quina-Quina, Azulão e Balão.
Sentados, da esquerda para a direita:
Cuidado, Jurity, Candieiro, frade capuchinho Agostinho, capitão Annibal Ferreira - comandante do Destacamento do Nordeste da Bahia, tenente Alípio Fernandes da Silva, frade capuchinho Francisco, Zé Sereno e Creança.
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De modo a permitir melhor abordagem da imagem, possibilitando seu melhor estudo, Centro de Memória dos Capuchinos, através do Frei Ulisses Bandeira, franqueou acesso ao original efetivo, a primeira imagem revelada, desta fotografia. Ela é aqui oferecida aos estudiosos em melhor resolução, de maneira a ajudar no afirmar ou contestar a identificação dos cangaceiros:
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Para utilizar as matérias deste blog, atentar para:
Como citar
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25 maio 2014

Fogo da Lagoa do Lino... O lamento.

Depoimento de Elisia Sampaio Moreira, da Lagoa do Lino, a “Zi do Bó”, residente em Quixabeira:
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O meu pai chamava-se Raimundo Moreira de Oliveira. Ele era chamado "Raimundo, de Cirila", porque era filho de Cyrilla Moreira de Jesus, minha avó... Apesar do tempo passado, eu nem sei se devia contar estas poucas coisas... Penso aqui que não devia falar muito, porque o meu pai sempre evitava falar dessas coisas para mim, desde quando eu era criança, e, depois, para as minhas filhas... Para você ter uma noção, ele sempre teve preocupação de que algo pudesse voltar a acontecer... Aquilo tudo, quando aconteceu, eu ainda não era viva, pois meu pai casou velho, mas eu cheguei a viver na casa do jeito que era como quando tudo aconteceu... Não era de taipa... Como sede da fazenda era de tijolos de adobe e um pouco de barro prensado sobre aquelas estruturas de madeira. O chão era chapado batido de barro mesmo... Como se fazia. Apenas se roçava e se batia. A fazenda, como eu nasci e cresci, sempre se chamou "Lagoa do Lino"...
Não sei de Lino que morou lá, mas tinha uma lagoa lá na baixada e outra um pouco mais adiante... Passava umas seis tarefas... Acho que o nome é por causa da lagoa que ficava mais perto, mas não tenho certeza...
Esse Lino, o meu pai chegou a dizer pra mim que não sabia quem tinha sido. Mas, se a lagoa era dele, significa que terra era dele e a gente pensava ser um antigo dono, que meu pai não conheceu.
Isso de chamarem "Lagoa do Limo" é coisa do povo. Sei não de onde surgiu isso.



A casa da sede, em que eu nasci e vivi, não era onde está agora. Se vocês olharem aquela parte cimentada na frente da casa... Ali era onde ficava a antiga casa... Quando a situação melhorou um pouco, o chão da casa foi cimentado... É isso que a gente vê ali, como área cimentada na frente da porta atual. Então, aquela casa está onde era o fundo da nossa casa.

Raimundo Moreira de Oliveira

Então, veio toda aquela violência que traumatizou meu pai... Não digo que foram os cangaceiros... Isto porque aqueles que pinicaram ele queriam que entregassem o esconderijo dos cangaceiros... Se era para entregar o esconderijo, como eram outros cangaceiros? Mas não passa na cabeça como a polícia fez aquilo com um homem bom, trabalhador, simples, quieto no canto dele. Foram uns homens que ele disse que chegaram. Se o meu pai disse que não dava pra saber se eram mesmo da polícia. Só me disse que eram esquisitos e maus. E ele foi pego. Amarrado. Bateram nele. Deram tapas. Deram socos. E ele foi muito pinicado. Foi todo todo pinicado com uma arma parecida com uma faca, mas ele disse que era mais bonita... Assim, com rodelas de ouro e de prata, no cabo... Era a única coisa que ele conseguia ver e pensar pra tirar a mente daquilo. E ele sempre temeu mesmo falar disto, mesmo depois de velho... Fizeram uma roda em torno dele e feriram assim... Era meu pai... As costas dele ficaram horrorosas. Parece que foi a pior parte. Só vendo... Eram tudo marcado de pinicada... Aqueles homens não tiveram dó. Cravaram faca e canivete... Tudo que fosse coisa de ponta usaram no meu pai.
Eles diziam.
– Você sabe onde eles estão!
– Não sei não! Nem sei do que vocês tão falando!
– Tava fazendo o quê, então?
– Só quero ir embora daqui preparar minha farinha!
– Ou entrega ou vamos ficar aqui muito tempo! Vamos oito dias. E você vai ter que abrir pra gente. E vai ter que manter a gente. Vai ter de cozinhar e a gente vai acabar com tudo seu!
Eles, finalmente, parece que cansaram. Não tinha mesmo como saber nada do meu pai... Estavam mais pra ir embora. Aí, encontram a Maria Velha... Alguns chamam Nega Velha, mas que eu conhecia como Maria Velha.
Foi ela quem levou eles até lá.
Sei que teve um tiroteio horrível... E, depois que tudo acabou, e aqueles que maltrataram meu pai foram embora, aconteceu mais uma coisa. Minha mãe disse que ainda passou um aqui. Quem viu e disse a ela foi a minha vó Cyrilla. Ela só não soube dizer se era cangaceiro que escapou ou se era da polícia também... Estava sozinho e armado. Roubou um cavalo que tinha aqui, do meu pai, e partiu em disparada... A minha vó Cyrilla, é claro, não podia fazer nada.

Seu Raimundo, Zi e dona Antonia

Meu pai contou tudo mesmo foi para a minha mãe, Antonia Moreira de Oliveira... Eu fui sabendo aos pouquinhos as coisas... Mas ele mandava eu deixar pra lá que era um assunto ruim que ele queria esquecer.
Ele mesmo, dificilmente eu via sem uma camisa. Só muito rápido... quando estava trocando... Então eu podia ver as marcas... Como fizeram mal ao meu pai...
Ele nasceu em Mairi, em 5 de março de 1909, e morreu em 7 de abril de 1997.
A minha vó, que também sofreu com a passagem dos cangaceiros, nunca quis falar sobre isso... Não sei se fizeram mal a ela mesma... Porque, se no meu pai eu via, nela era pior ainda de ver... E ela apenas dizia pra eu deixar pra lá, que era assunto ruim... Muito ruim mesmo... Minha mãe, que ela bem menina na época, nasceu em 1910  ainda não casada, não quis contar também o que sofreu com o pessoal dela... Ela morreu em 22 de junho de 2008...
Estão os dois sepultados no cemitério da povoação de Maracujá...
É isto o que contei e não sei se devia ter contato... mas, um dia, todo mundo se vai... Minhas filhas acham que não tem problema e é até melhor eu contar... E, agora, já contei mesmo. Fica o que foi como foi.

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Como citar
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21 maio 2014

Fogo da Lagoa do Lino... Ecos no vento.


Depoimento de Jardelina do Nascimento Araújo:
"Sou mais nova que tudo isso, mas os meus pais e meu tio contaram tudo o que aconteceu para mim... É que não só eu me interessei, como eles falavam muito daquilo tudo que foi excepcional... Agora, aqueles velhos já estão mortos e estes jovens, que vieram bem depois de mim, nem sabem de nada... Alguns, aqui, pensam até que cangaceiro é nome de passarinho... ou é só folclore... A coisa era tão séria que a gente daqui tinha até medo de falar de tudo aquilo até pouco tempo atrás... Mas, agora, tem já tanto tempo... A gente mais velha achava que tinha algum perigo... Mas isso já passou pra quase todo mundo... Tem gente que ainda nem sei se tem medo, mas fica meio ressabiada.
Meus pais disseram que tudo começou com a chegada umas pessoas que batiam e matavam... Ninguém sabia direito quem eram... Só sabiam isso... Que eram sete. Que eram pessoas esquisitas que batiam e até matavam outras pessoas... E isto deixava todo mundo assim muito confuso... É dinheiro? Não tem dinheiro? Apanha. Tem? Apanha também. Então não é dinheiro? Qualquer coisa apanha! Davam muita pancada de palmatória. Era tanto bolo nas mãos que nem conta. Ficavam pretas de pancada.
Ninguém sabia de certo o que estava acontecendo... só que tinha que evitar essas pessoas e fugir... fugir, quando elas chegassem...  se não desse, tinha que atender o que eles queriam... O que eles pediam... E isso espalhou como um horror... As pessoas fugiam pros matos...
E chegaram aqui perto... ali na sede da Fazenda Lagoa do Limo, que daqui dá pra ver... É aquela que tem gente agora chamando Santa Mônica... mas desse outro nome não sei... Só uso mesmo como o pessoal todo o nome Lagoa do Limo, desde sempre...
Aqui era tudo bem diferente... Estas estradas de chão não eram estradas... Eram caminhos entranhados assim, nas caatingas... Tudo vereda... E as casas eram todas de madeira cobertas de palha... A sede mesmo da Lagoa do Limo era uma casa de palha...
E os sete... Eram sete cangaceiros... Quem os viu disse que andavam sempre com muita pressa... Andavam muito rápido prá lá e prá cá...
Eram muito brabos, mas não soube eles não usaram as mulheres... Sei que chegaram e foram ali na sede da Lagoa do Limo... Depois foram para a baixada... Meu tio João viu eles descendo lá pra baixada... Quase passou por eles, Acho até que se viram, mas eles não fizeram nada...
Agora, quando passaram pela Nega Véia... Ela me contou as coisas que conto agora... Não sei o nome dela... Acho que era Maria, mas não sei mais... Ela era bem menina na época, e topou com eles... Eles perguntaram se ela podia trazer água... E a gente daqui sabia que tinha que obedecer a eles, senão era morte certa...
O que eu mais lembro o nome, o Azulão, perguntou pra ela que cabelo curto era aquele... Que o certo era andar de cabelos compridos... e que ela podia morrer por causa disso... Ele disse:
– Você com esse cabelo cortado... Olha que eu vou é lhe matar!
Mas eles deixaram ela ir, porque queriam ela viva pra buscar a água.
- Se você for buscar água pra gente a gente deixa você viva!
Então ela foi buscar a tal da água... Tava indo buscar com um pote.
Mais pra cima, ela topou com os homens que vinham atrás deles... Eles perguntaram ela se ela tinha visto uns homens diferentes por ali, e ela disse:
– Lampião tá lá em casa...
Ela estava com medo de morrer... E eles disseram pra ela que podia descer e levar a água pra eles... E ela foi...E ela viu quando o chefe dos homens foi seguindo ela com os outros. E como ele, quando estava chegando perto, ficou mais pra trás, e mais abaixado... E ele se ergueu atrás de um pé de pau... E como os outros foram se abaixando e aproximando... E se arrastando... Nega Véia me disse que viu quando o chefe bateu o pé, como sinal, e rompeu o fogo...
Então, começou aquele estouro... Ela se jogou no chão, senão tava mortinha...
Daqui lá é longe uns quinhentos metros, mas meus pais e meu tio ouviram tudo direitinho... E as balas zuniram aqui por cima, e minha mãe, Alexandrina Maria do Nascimento, desesperada... Todo mundo se jogou no chão... E meu pai, José Umbelino do Nascimento, disse:
– Agora pronto! O Mundo acabou–se!
E foi muito tiro, por muito tempo. Tiro mesmo. Tiro que passava aqui por cima. Zunia. Ziu! Pá! Pá! Pá! Pá! Ziu! Minha mãe até ainda colocou a mão no coração, quando contou pra mim, tanto tempo depois.
A luta foi só ali embaixo não. Rodou até outros cantos. Era muito medo.
Quando acabou toda aquela alaúza, ficou muito quieto... Não se ouvia nada... Nem pio de ave... Nada... Meu tio João Ribeirão da Silva, então, que era de coragem, levantou e foi caminhando para lá, para a baixa.
Cruzou com os homens voltando carregando as cabeças deles.
Ele foi até lá e viu o que viu o que sobrou... Tiraram quase todas as roupas do mortos... Estavam lá, sem as cabeças e pinicados...  Tinha tanto sangue ali...
Dos sete, três haviam conseguido fugir.
Outras pessoas chegaram e também viram os corpos sem cabeça... Estava tudo acabado. As plantas todas retalhadas de tiro... Um fuzuê...
Meus pais disseram que depois souberam, pelo homens, que os que morreram eram o que atendia por Azulão, um tal de Canjica, a Maria Bonita e um que não sei o nome...
Hoje em dia, a polícia mata e coloca a arma na mão pra incriminar, mas esses não... Nem precisava. Eram brabos mesmo... Reagiram e mandaram bala... Disseram, os que eram dos homens da polícia que viram e contaram pros daqui da terra, que essa Maria morreu de arma na mão... Caiu morta e não largou o revólver... Lutou até o fim...
Os corpos não foram enterrados não... Ficaram lá apodrecendo... Comida de urubu...
Tinha um cachorro aqui que passou um bom tempo indo até lá e comendo deles... Disseram que ele estava mais gordo que antes por isso... Então, foi certo que os cachorros todos daqui das redondezas começaram a engordar. Nunca seu viu, nesta vida, eles tão gordos. Também... Comeram tudo que ficou...

Daqui mesmo, meus pais viam os urubus todos os dias... E os ossos foram se espalhando... perdendo... porque o mato também come o que fica. Sobrou nada... Não apareceu ninguém que desse sepultura não... Até que tudo acabou. Só ficou o medo de que os companheiros deles, que escaparam, voltassem pra se vingar da gente daqui..."
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Como citar
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