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Blog destinado à preservação da memória do Cangaço na Bahia, em todas as suas dimensões e extensões.
18 abril 2021
12 abril 2021
“Cavalos do Cão” – Impressões Ligeiras - por Leandro Cardoso Fernandes
CAVALOS DO CÃO – Algumas Palavras
Aqui vão
algumas considerações ao sabor de terminar a leitura de “Cangaço na Bahia
– Cavalos do Cão”, do prof. Rubens Antonio da Silva Filho. À semelhança do que fiz com o trabalho “Cangaço
na Bahia – Canção Agalopada”, algumas palavras para a sequência, a
segunda parte desta obra que, especificamente, dá conta do Cangaço e de seus
desdobramentos em terras baianas de 1930 ao início dos anos 40.
Mesmo correndo
o risco de ser repetitivo, devo mencionar o encanto que a excelência da
composição gráfica causa ao leitor. Dá
gosto abrir; passar à vista as imagens... manusear. A composição das suas 536
páginas enfeixando mapas, fotografias (muitas delas inéditas, outras tratadas e
melhoradas), além das belíssimas capa e contracapa, com imagens colorizadas de
Lampião e seu bando, pinçadas do extenso e primoroso trabalho artístico do
autor. A manutenção das referências ao pé da página e a grafia original dos
textos extraídos de documentos e jornais atestam a veracidade das informações,
tais quais foram colhidas da fonte, sem eventuais “atualizações” linguísticas
que poderiam comprometer o sentido original do texto. Ainda por cima, ao final
dos capítulos, as assinaturas (algumas obtidas com grande sacrifício pelo
autor) dos personagens citados ou perfilados, como a afiançar a veracidade do
texto. Rubens Antonio não poderia deixar por menos: afinal, é a coroação do
esforço de 20 anos de pesquisa, criação e muito trabalho.
O autor fez
interessante divisão da narrativa em “meio-dia”, “tarde” e “crepúsculo”,
como a evocar a sensação de um dia que nunca acaba - “o mais longo dos dias”,
vivido com sangue, suor e lágrimas pelos que sofreram a violência insana do
Cangaço. A impressão de que esse fenômeno sangrento durou mais do deveria paira
nas páginas do livro, como a reforçar que o autor conseguiu seu intento ao nos
trazer, com cores vivas, uma narrativa coerente com a verdade.
Ao debruçar-me
sobre “Cavalos do Cão”, veio-me a lembrança o filme “Os Imperdoáveis”
(Unforgiven), de Clint Eastwood, que retratou com honestidade um velho
oeste completamente desmistificado, onde imperavam a violência gratuita, a
bebedeira, a desordem e as mentiras... uma paisagem bem distante do que
geralmente se vê nos filmes roliudianos, com “Jesses James”
cavalheirescos, a guisa de caricatura glamourizada dos reais personagens
históricos. Foi com este sentimento que percebi o livro em epígrafe: a História
edificada na busca dos fatos e sua comprovação, seja documental ou por
registros da memória oral. Entrevistas carregadas de emoção pungente,
documentos, jornais, revistas, mapas atualizados e bastante ilustrativos. Não
há ilações nem fantasias. Tudo é fundamentado, mesmo havendo discordância com
versões clássicas anteriores de episódios conhecidos ou não. O que importou ao
autor, a meu ver, foi reduzir o espaço dentro do qual a verdade está à espera.
E aqui vem um pensamento de Arthur Conan Doyle: “excluindo-se o impossível,
o que sobra, ainda que improvável, deve ser a verdade”.
A exemplo do
primeiro volume, os capítulos são amalgamados com letras e versos de canções do
universo musical nordestino, notadamente as canções de Zé Ramalho, Elba
Ramalho, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, dentre outros ícones representativos
da musicalidade que se associa ao “cangaço” como elemento artístico e cultural.
No correr dos anos 30, “um cavaleiro do diabo corre atrás do seu destino”,
diz a letra da canção que encima o livro, e, também nomeia um dos capítulos
mais intensos da obra, onde o autor, ao rastejar o galope do Átila dos
sertões, esbarra no ferreteamento cruel de muitas mulheres; nos incontáveis
crimes bárbaros de que foram vítimas os pobres sertanejos daqueles tempos
brabos; e os expõe de maneira crua, tal como foram registrados pelas diversas
fontes. O livro, ao tempo em que se mostra como um libelo de acusação aos
cangaceiros, se faz de importante apologia ao resgate das vítimas sofridas,
cujos gritos surdos não foram ouvidos, ou, na melhor das hipóteses,
preguiçosamente registrados em trabalhos precedentes que abordaram o tema. Esse
é um dos grandes méritos do “Cavalos do Cão”: trazer à superfície
o pranto das vítimas e de suas famílias, como a deixar sangrar um açude de
lágrimas há muto represado. Aqui trago as palavras de Catão: “A verdade é o
alicerce da autoridade”. É assim que o livro se impõe: um farol sobre as
injustiças e as arbitrariedades; o julgamento inevitável da História para
cangaceiros e volantes. Trago na memória o relato do suplício de Herculano
Borges, barbaramente morto por Corisco, e o pranto quase sussurrante de Dona
Ossanta e sua família. Eles têm, agora, neste resgate, a certeza da justa
exposição dos fatos, sem distorções. O que dizer do campo de extermínio pensado
por Liberato de Carvalho e realizado por Campos Menezes? Balmés disse que “o
poder sem moral converte-se em tirania. Não há maior tirania que a exercida em
nome da lei”. Há que se expor visceralmente o Cangaço e o combate a ele.
Não tenho como
apontar aqui um ponto alto do livro, pois poderia parecer injusto. A exemplo de
uma cordilheira, o conjunto é o que importa.
A “quase” expedição de Carlos Chevalier; a prisão de Volta Seca
(capítulo primoroso); a morte de Arvoredo; a impressionante “bestialização” de
Calais, que escravizou a moça Selvina; o périplo das “cabeças cortadas” de
Lampião e Maria até sua exumação em 2002; o fim melancólico de Corisco...
dentre outros. Há nas páginas 360 e 361 do livro a exposição em sequência de 6
mapas muito elucidativos, que retratam a involução do Cangaço na Bahia de 1928
a 1935 visualmente, de maneira clara e inequívoca. Estes mapas são
fundamentais, pois complementam o texto ao descortinar ao leitor uma
perspectiva de entendimento evolutivo pela percepção visual ampliada, do todo.
É precisamente
em 1931, onde há um ponto de inflexão, um marco na queda progressiva no vigor
do cangaço lampiônico de outrora: cada vez mais os cangaceiros se encolhem,
limitando sua área de atuação, numa asfixia lenta e constante, a culminar com a
expulsão de Lampião, na prática, das terras baianas, indo ele sucumbir em
Angico, Sergipe, em melancólico epílogo, no tão decantado 28 de julho de 1938.
Rubens Antonio vai além e persegue os rastros desse Cangaço ferido de morte,
estrebuchante, até o tiro de misericórdia dado por José Osório de Faria, o Zé
de Rufina, com a morte de Corisco, o “Diabo Loiro”, em maio de 1940. Este
oficial foi o mais eficiente matador de cangaceiros da polícia baiana. Sua
atuação e biografia são destaque no livro.
Uma coisa interessante, no que diz respeito ao
matador de Corisco, é exatamente o descompasso entre sua bem-sucedida campanha
como chefe de volante com a sua progressão com “freio-de-mão” puxado, como
oficial. Mesmo tendo no curriculum mais de uma dezena de cangaceiros mortos, e
ter matado Corisco no posto de 2° Tenente, recebe apenas uma “menção de
louvor”. O brioso Zé de Rufina, vejam vocês, conseguiu chegar a Tenente-Coronel
por antiguidade em 1962. O livro faz justiça ao empenho, inteligência e fiel
cumprimento de seu dever, inclusive com comportamento correto, sem excessos, em
relação aos sertanejos.
Minhas
excelentes impressões a respeito do Capitão João Facó, como secretário da
Polícia e Segurança Pública da Bahia, e da atuação humanizada do Capitão
Anníbal Vicente Ferreira, como comandante do destacamento no Nordeste do
Estado, na condução das entregas. Estes oficiais mostraram-se dignos da farda
que vestiam, cumprindo seu dever com consciência cívica e inteligência.
Bom, para
finalizar, gostaria de recordar as palavras do autor, Rubens Antonio: “eu
escrevi um livro que eu, como leitor, gostaria de ler”. Esta afirmação dá o
pano de fundo para um bom livro, pois Aristóteles dizia que “o prazer do
trabalho aperfeiçoa a obra”. Convido-vos, amigos, a mergulharem nas páginas
de “Cavalos do Cão”, pois é a oportunidade de, além do prazer de
contemplar um texto com excelente precisão vocabular e coerência, degustar
composição autêntica, vez que não foi contaminada com impressões processadas
por outros autores e pesquisadores. O livro é imprescindível para estudantes,
professores, pesquisadores que queiram ter à mão Arte, História (com H
maiúsculo), Jornalismo, Cartografia num trabalho que já ganhou o horizonte como
um dos melhores já feitos sobre o Cangaço e a sobre a recente história do
Brasil.
Leandro Cardoso
Fernandes
10 abril 2021
06 março 2021
Odonel Francisco da Silva
Tenente Odonel Francisco da Silva, natural de Senhor do Bonfim, comandou seu pelotão volante baiano em três confrontos referenciais contra o bando de Lampeão. Foram os fogos de Abóboras, em janeiro de 1929, da Favella e do Morro da Favella, em março de 1930. Abateu o cangaceiro Mergulhão.
“Canção Agalopada” – Impressões Ligeiras - por Leandro Cardoso Fernandes
Desde algum
tempo que já esperava ter sob as vistas o trabalho do professor Rubens Antonio.
A expectativa, até certo ponto, fora gerada a partir das discussões e debates
sobre o tema Cangaço, nos diversos grupos pelas redes sociais afora. Pensava eu
que o contato inicial com seu trabalho havia sido ali. Engano meu: fora antes. Em
2017, visitei, em Salvador, uma exposição sobre Cangaço no Museu Náutico da
Bahia, onde a curadoria e as imagens retocadas e colorizadas ali expostas eram do
Rubens. Mesmo sem conhecê-lo naquela ocasião, pude antever o quilate do seu
trabalho e seu compromisso com a excelência na pesquisa e no cuidado artístico.
Assim, o Professor
Rubens Antonio da Silva Filho é geólogo, historiador (com mestrado nesta área)
e artista plástico, e se debruçou, pelos últimos 20 anos, sobre o Cangaço em
terras baianas, vasculhando fontes da memória oral, documentos, publicações
oficiais, cartas, bilhetes e fotos. Um detalhe é que ele, propositalmente,
resolveu passar à larga dos trabalhos referenciais já publicados sobre o tema,
com o objetivo de evitar um possível viés pelo processamento posterior dos
fatos feito por outros autores. Cabe aqui uma máxima de Anatole France: “a
independência do pensamento é a mais nobre das aristocracias”. Dos
registros fotográficos, selecionou as imagens clássicas do Cangaço e, a partir
delas, desenvolveu e aperfeiçoou o trabalho de retificação e colorização dos
instantâneos. O termo da gestação deste trabalho multifacetado veio com a
publicação, em dois volumes, dos livros: “Cangaço na Bahia - Canção Agalopada ”
e “Cangaço na Bahia - Cavalos do Cão ”.
Como havia me
ensinado o mestre Guimarães Rosa - “o sertão é quando menos se espera”,
numa bela manhã, os livros me chegaram. Confesso que o primeiro contato com as
obras “ao vivo” assusta. Assusta não, impressiona. Explico: palmo e meio de
altura, palmo de comprimento e quase dois dedos de espessura, que traduzindo perfaz
416 páginas num volume e 536 páginas no outro, além do trabalho fotográfico das
capas com fotos de Lampião e seu bando colorizados pelo autor, em belíssima composição
editorial.
Caí na leitura,
portanto. E aqui vão as impressões ligeiras.
O objetivo
deste pequeno texto, ao tempo em que exponho impressões pessoais sobre a obra,
contribuindo para a fortuna crítica, é apontar aspectos que talvez a reclassifique
com um trabalho diferenciado na já extensa bibliografia sobre o assunto. Assim,
aqui me ocuparei somente do “Canção Agalopada”, que, cronologicamente, aborda o
Cangaço na Bahia desde os seus primórdios até o clarear de 1930. Daí para
diante é assunto para o segundo volume, o “Cavalos do Cão”.
O título,
referência à canção homônima de Zé Ramalho, é o ponto de partida de uma
criativa mistura entre letras de canções e texto, sendo todo ele permeado com clássicos
do cancioneiro popular nordestino contemporâneo. Um desavisado pudesse, talvez,
achar que se trata de um “songuebuque” (pronuncia-se “songbook”);
mas logo às primeiras páginas verifica-se que é algo diferente e inusitado na crônica
histórica do Cangaço: é um “texto acancionado”, permeado de trechos selecionados
do universo musical nordestino, notadamente o trabalho do grande cantor,
compositor e instrumentista Zé Ramalho. Exemplo disso, para ilustrar aqui, é o
capítulo referente a Lucas da Feira, ponteado à maneira da melhor sincronicidade
com a canção de Jorge Mautner (gravada por Zé Ramalho), Orquídea Negra. Os
trechos da letra, como epígrafe, dão o tom ao corpo do texto: “a chibata,
o chicote e o açoite”... Aliás, o tristemente célebre Lucas
Evangelista, a exemplo do que está na letra, era um corsário do sol quente,
navegando ao redor do arraial de Feira de Sant’Anna, como a ostentar o látego e
a “bandeira negra da loucura e da pirataria”. A proposta é
interessantíssima: um livro com “trilha sonora”. Um deleite para quem conhece
as canções.
Pincei aqui algumas curiosidades.
Vamos a elas.
Muitos
interessados e estudiosos do tema Cangaço talvez achem que os tratados de ajuda
mútua interestaduais se deram somente onde e quando houve a atuação do cangaço
alcaponiano de Lampião. No entanto, Rubens Antonio, ao apontar a elevada
temperatura na tríplice fronteira entre Bahia, Piauí e Goiás, bem como a
dificuldade de ação das Forças Policiais naqueles ermos, dá notícia do contrato
de prestação mútua de assistência na perseguição de criminosos no entorno daqueles
limites. Ou seja: no Cangaço pré-lampiônico já havia acordos interestaduais de
cooperação dos governos no combate ao banditismo. A contextualização geográfica
é importantíssima para o entendimento espacial dos fatos e as lógicas de deslocamento.
Dizia Euclides da Cunha que “a Geografia prefigura a História”,
e, talvez pensando em facilitar esse entendimento e ampliar a perspectiva de
visão, o Rubens recheou o livro com magníficos mapas, bonitos, bem feitos, de
fácil compreensão e que muito acrescentam à visão dos fatos.
Do que eu já
havia lido da crônica histórica do Cangaço, ficou-me forte impressão que
Lampião, quando entrou na Bahia, ficou intocável e à vontade, sem que as forças policiais oficiais se importassem com a
sua presença por ali. Essa imagem é inclusive reproduzida em filmes sobre a
vida de Lampião. Entretanto, na leitura do “Canção Agalopada” constatei que a
realidade corre longe disso. Já em 1926, tanto a imprensa como a Secretaria de
Polícia e Segurança Pública estão atentos à movimentação de Lampião e seu bando
em Pernambuco, nos beiços do Rio de São Francisco, com grande receio. Até que
se tem notícia de incursão rápida do bando em solo baiano em setembro de 1926,
tendo, inclusive, havido depredações e extorsões no povoado de Orocó. O bando
retorna rapidamente a Pernambuco. A imprensa e a Secretaria de Polícia e Segurança
Pública mantém constante preocupação, e são muitas as notícias de mobilização
de tropas para as fronteiras como medida preventiva a uma eventual nova investida
do bando para o lado de baixo do São Francisco.
É necessário
comentar aqui o resgate de personagens interessantes que, do ostracismo
histórico em que dormiam, despertam nas cores vivas das suas atrocidades e
descalabros, como o caso do Alferes Francisco Gomes de Oliveira, o “Pisa
Macio”. Este militar que, por onde passou, maculou a farda que vestia numa
sucessão de assassinatos, estupros, surras e arbitrariedades. Numa escala
gradativa de maldades, ele faria mais pontos que muitos cangaceiros cruéis. O modus
operandi de Pisa Macio é inacreditável, compartilhado pelo Capitão José
Galdino de Souza ao comandar a chacina do quilômetro 374 da linha férrea de
Bonfim para Juazeiro. Nas páginas do “Canção Agalopada” reverbera o eco dos gritos
dos assassinados covardemente ali.
Na via oposta,
há o resgate de briosos oficiais que, diante dos holofotes sempre voltados para
os cangaceiros, amargaram um doloroso olvido até mesmo pelos pesquisadores e
conhecedores do tema. Cito aqui o exemplo do Tenente Odonel Francisco da Silva,
oficial digno do uniforme que vestia, consciente do seu dever militar e cívico.
Odonel capitaneou o confronto com o bando de Lampião no Arraial das Abóboras, em
1929, onde foi ferido, mas impingiu importante baixa ao grupo de bandidos, pois
dera cabo do experiente cangaceiro Mergulhão, além de ferir um outro. A sua trajetória
honrada como oficial, perfumada de coragem, é descrita no livro, bem como as injustiças sofridas por ele. Cabe ao leitor mergulhar nas páginas e conferir.
Inclusive, a quase totalidade dos oficiais citados no livro tem algo descrito
sobre suas promoções, reformas e destino, à guisa de informações biográficas, o
que em muito facilita a vida do pesquisador.
Uma coisa
prática e acertada na diagramação do livro é a disposição das referências no
inferior da página, o que deixa a leitura mais ágil e dinâmica ao evitar que o
leitor precise deslocar sua atenção para outra parte para conferir uma citação.
Está tudo “aos olhos”, no pé da página.
A leitura do livro
flui como um roteiro de documentário cinematográfico perfilando, num intrincado
tabuleiro de xadrez, as Forças de combate ao Cangaço versus Lampião e
seus sequazes, até o clímax nos derradeiros capítulos. Aqui me esquivarei de
comentá-los, sob pena de jogar água fria e acabar amenizando a temperatura sempre
ascendente da narrativa. Por isso sugiro aos leitores que não pulem os
capítulos, pois ao fazê-lo, correrão o risco de não perceber a tensão
crescente, capítulo a capítulo.
Para que não
me estenda muito (há muita coisa ainda a “falar”), encerrarei por aqui. Não sem
antes parabenizar o autor Rubens Antonio pelo belíssimo trabalho, rico em
novidades, seja em informações, seja em iconografia. Como exemplo, basta citar
aqui o registro documental, fotográfico e histórico de Alcides Fraga de
Mendonça, autor do célebre retrato de Lampião e seu bando em Pombal em 1928, o
único do rei vesgo das caatingas em terras baianas.
Enfim, “Canção
Agalopada” é obra de fôlego, que não serve para as estantes empoeiradas; é – afirmo
categoricamente – para ficar na cabeceira, ao alcance da mão, vez que é indispensável
para consultas constantes, não somente a respeito do cangaço em terras baianas,
que é seu eixo principal, mas também como registro importante, embora
periférico, sobre a História recente da Bahia e dos bastidores políticos de
dois séculos de combate ao banditismo. É obra que, do galope rasante das
primeiras impressões, cavalga para a amplidão. São essas que ultrapassam os séculos
e os continentes.