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14 de maio de 1928, no “A Tarde”:
O BANDO
de Antonio Souza
Uma força volante do Ceará destroçou–o em Araripe
De conformidade com as bases do convenio policial, os Estados limitrophes ao da Bahia não dão treguas ao bando do destemido cangaceiro Antonio Souza, que ha dias vem revolucionando o sertão bahiano.
Hontem, o dr. Madureira de Pinho, secretario da Policia, recebeu do seu collega do Ceará o seguinte telegramma:
“Acaba de ser destroçado na serra do Araripe o grupo do bandido Antonio Souza, pela volante do ten. Aristides Rosa, que continua perseguindo os bandoleiros. Morreu na luta o bandido José Pereira, sendo capturado o criminoso Firmino e apprehendidos tres animaes.
Telegraphei nosso prezado collega de Recife, pedindo concurso companhia volante tenente Arindo, empenhada como se acha esta chefia em auxiliar o exterminio do banditismo. Saudações cordiaes. – (a) Paulo Pessoa, chefe de policia.”
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Blog destinado à preservação da memória do Cangaço na Bahia, em todas as suas dimensões e extensões.
29 dezembro 2011
12 de maio de 1928
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12 de maio de 1928, no “Diario de Noticias”:
Lampeão!
Reduzido o grupo a 9 homens, o sertão pernambucano respira agora a liberdade
RECIFE, 11 – Argos – Commerciantes, autoridades e conselheiros de Villabella telegrapharam á imprensa, dizendo que realmente o sertão respira, hoje, livremente, por estar o grupo de Lampeão reduzido apenas a nove homens e internado nas caatingas, fugindo de todos e de tudo.
O povo sertanejo dá graças a Deus por haver o sr. Estacio Coimbra, inspirado nos mais nobres sentimentos, promovido a cruzada do saneamento moral do sertão, em boa hora confiada ao major Theophanes Torres, cuja actuação proveitosa e efficiente na campanha contra o banditismo só desconhecem inimigos pessoaes.
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12 de maio de 1928, no “Diario de Noticias”:
Lampeão!
Reduzido o grupo a 9 homens, o sertão pernambucano respira agora a liberdade
RECIFE, 11 – Argos – Commerciantes, autoridades e conselheiros de Villabella telegrapharam á imprensa, dizendo que realmente o sertão respira, hoje, livremente, por estar o grupo de Lampeão reduzido apenas a nove homens e internado nas caatingas, fugindo de todos e de tudo.
O povo sertanejo dá graças a Deus por haver o sr. Estacio Coimbra, inspirado nos mais nobres sentimentos, promovido a cruzada do saneamento moral do sertão, em boa hora confiada ao major Theophanes Torres, cuja actuação proveitosa e efficiente na campanha contra o banditismo só desconhecem inimigos pessoaes.
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28 dezembro 2011
Alagoas desarmada por Costa Rego
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13 de abril de 1928, no “A Tarde”:
O “TRUC” DE UM GOVERNADOR
Como o sr. Costa Rego desarmou o sertão de Alagoas
RIO, 12 (A TARDE) – Numa roda de amigos em que se achava conhecida figura, provinda de Maceió, ouvi a seguinte interessante narrativa:
Empenhado em acabar com o banditismo no Estado de Alagoas, o governador Costa Rego architetou e poz em pratica uma medida original.
Allegando receios de reacção contra o seu governo, o sr. Costa Rego teria dirigido aos chefes politicos do interior, dos quaes alguns eram protectores conhecidos de cangaceiros, uma circular alludindo a essas suspeitas e pedindo o apoio a cada umd elles, apoio que consistiria em reunir o maior numero possivel de homens destemidos, embarcando–os para a capital, para onde deveriam vir logo armados e municiados, trazendo a maior quantidade de armas e munições que fosse possivel arrecadar.
Á vista dessa circular, e querendo dar arrhas de maior dedicalão ao governo, cada umd esses chefes entrou a empregar os maiores esforços, na demonstração da sua força.
Dahi resultou que legiões e legiões de cangaceiros vieram para a capital, promptos para combate. A cidade, pode dizer–se, ficou invadida por esses maus elementos.
Á proporção que iam chegando, o sr. Costa Rego ia arranchando esses cangaceiros nos quarteis e em casas que para esse fim destinou. E lá um bello dia, depois de pagar pelo governo as despezas da sua estada, deu passagens de volta a todos elles, fazendo–os portadores de cartas para os alludidos chefes politicos, nas quaes lhes agradecia o concurso prestado, que já não era, porém, preciso por haver passado a temerosa crise.
Quando, porém, esses chefes reclamaram as armas que tinham vindo, o sr. Costa Rego, então, lhes declarou, em nome do governo, que não havia necessidade de gente armada no interior do Estado.
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O Cangaceiro Campinas - Matérias
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7 de janeiro de 1928, no “A Tarde”:
TERIA DESERTADO MESMO DO BANDO SINISTRO?
UM ASSECLA DE LAMPEÃO, PRESO EM PARIPIRANGA E TRAZIDO Á CAPITAL
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A horda de bandidos, chefiada por Virgolino Ferreira, continua a infestar a zona sertaneja que o temivel facinora escolheu para campo de suas operações.
Agora mesmo o bando sinistro se encontra no visinho Estado de Sergipe.
Compõe–se de 23 caibras chefiados pelo terrivel scelerado: 20 homens e 3 mulheres, bem armados e municiados.
Ultimamente um dos asseclas do grupo, o bandoleiro José Soares Santos vulgo “Campinas” entendeu de abandonar os companheiros de cangaço, fugindo – porque só fugindo podia desertar – com destino a Paripiranga, onde descoberto por agentes da Força Publica, foi preso e conduzido para esta capital. O bandido que se acha recolhido ao xadrez da Praça 13 de Maio, á disposição do chefe de Policia, declarou que fôra forçado, sob ameaça de morte, a seguir o grupo do faccinora deixando–os assum que poude fazel–o. Diz–se analphabeto e haver nascido no municipio de Paripiranga, antigo Patrocinio do Coité.
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8 de janeiro de 1928, no “A Tarde”:
O CANGAÇO NO NORDESTE
“Campinas” diz–se Innocente – Mulheres temiveis acompanham os bandidos
Noticiamos hontem a chegada a esta capital do bandido José Soares Santos vulgo Campinas um dos componentes do grupo de facinoras chefiados por “Lampeão.” O caibra, que se acha recolhido ao xadrez da Piedade, nega haver praticado qualquer atrocidade no decorrer da sua malsinada carreira de bandoleiro do nordeste. É o que dizem todos elles de resto, ao cahirem nas malhas da policia. “Campinas” diz até que foi obrigado, sob ameaça d emorte, a acompanhar o grupo de malfeitores,,, Só por medo de ser sangrado por Lampeão é que resolveu a acompanhal–o.
As tres mulheres que integram o bando sinistro, segundo affirma José Soares dos Santos, são habeis amazonas e manejam o rifle com incrivel destreza. Algumas são tão crueis quanto os homens. Tomam parte nos assaltos e combates ao lado dos bandoleiros, – mostram–se tão destemerosas como elles.
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24 outubro 2011
"Canudos"...
Um tema de extremo interesse e que somente tangenciou o Cangaço foi a Rebelião de Canudos.
Este material precioso publicado na net, merece replicação:
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"Expedição de Pedro Wilson Mendes (*) a Canudos"
por Mário Mendes Junior, o "Maninho do Baturité"
Apareceu, originalmente, no site:
http://www.maninhodobaturite.com.br/
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Aos 35 anos de idade, sem embargo da fama de ser um advogado que jamais perdeu uma causa, Pedro Wilson somava ao seu currículo a qualidade de jornalista combativo ininterruptamente disposto a denunciar falcatruas. Em 1949, contudo, o jovem jurista resolve dar um brevíssimo tempo às lides forenses e ao jornalismo para atirar-se na pesquisa histórica.
Longe do o imediatismo das redações, Pedro Wilson se insurge como a primeira voz no deserto a abrir os olhos dos escritores com relação ao verdadeiro caráter de Antonio Vicente Mendes Maciel o Conselheiro.
Sua intenção, verdadeiramente foi dar inicio à reparação da injustiça que tem feito a História do Brasil ao protelar “o empreendimento de um estudo sério e consciencioso da (verdadeira) personalidade misteriosa e complexa” (1) do líder guerrilheiro.
Na verdade ninguém antes do jovem escritor se ocupou, como ele, de tirar das costas do Conselheiro os pejorativos do tipo gnóstico bronco, fanático religioso, taumaturgo, paranóico, santo homem, chefe de jagunços e outros despautérios, não escapados, sequer, da concisão e maestria de Euclides da Cunha no “OS SERTÕES”.
Antes de publicar suas conclusões em seguidas edições do jornal O POVO, no final da década de 1940, Pedro Wilson, em expedição, percorreu de jipe, todos os caminhos trilhados, pelo Conselheiro, tendo como companheiros Osvaldo Vinhas, Sólon Mendes e Zequinha Pinto, todos, amigos leigos na matéria, mas sequiosos de aventuras.
Quixeramobim. Entrevista com Euclides Wicar
Tudo começa no Quixeramobim. Cidade túmulo dos Maciéis, que não se olvidam pelo jeito sangrento de como, muitos, morreram na guerra da família contra os Araújos de Boa Viagem. Nessa cidade Pedro Wilson, encontra o coronel Euclides Wicar de Paula Pessoa, mestre na história do lugar. Durante uma entrevista Wicar, além de oferecê-lo algumas fotografias históricas, ainda, lhe transmite coisas contadas, principalmente, por Belo Flor, um cantador repentista local, falecido há dez anos. Ex-aluno de Antonio Vicente, as histórias de Belo Flor se referiam ao jeito professoral de quando ele deixou o negócio de Quixeramobim, em 1857, e passou a ensinar noções de conhecimento gerais na Escola da Fazenda Tigre, até se mudar para Tamboril.
Cantador Repentista Belarmino Flor, um dos alunos da escola do “Tigre” - Foto de 1939 do arquivo de Euclides Wicar
Fazenda Tigre, um patrimônio histórico
Da sede de Quixeramobim, a expedição se dirige à Fazenda Tigre, então pertencente ao comerciante, industrial e agro-pecuarista Damião Carneiro, que naquela época a modernizava. O dono da fazenda, prazerosamente, usa de toda sua hospitalidade, ao conduzir o visitante aos lugares, freqüentados por Antonio Vicente, enquanto viveu por ali,. A oportunidade propicia ao pesquisador colher fotos da casa grande, da igreja, das ruínas da escola, e demais pontos convenientes ao seu trabalho.
RUÍNA DA ESCOLA DA FAZENDA TIGRE ONDE LECIONOU ANTONIO CONSELHEIRO DEPOIS QUE LIQUIDOU SUA CASA COMERCIAL DE QUIXERAMOBIM -1857 1858.
FOTO DE 1939 DO ARQUIVO DE EUCLIDES WICAR DE PAULA PESSOA
Digno de tombamento as velhas construóes do Tigre, sem embargo dos muitos melhoramentos para torná-la rentável, se deve à determinação de Damião Carneiro de conservá-las como sítio histórico. Esse mesmo cuidado de conservaçao o acompanhou, quando, na década de 1950, ele constrói o enorme açude da fazenda. Naquela ocasião – quem viu não pode esquecer – as muitas centenas de trabalhadores, que em lombos de igual número de burros e jumentos transportavam a terra desmontada dos morros para elevar a outra montanha que serviu de parede para o reservatório. A então, fantástica obra de engenharia campestre, indubitavelmente, ratifica a fé que Damião dedicava a Deus, porque, ali, ele, literalmente, ao seu modo, removeu montanhas.
SOLON MENDES E ZEQUINHA MACIEL PINTO ESCORADOS NAS DUAS DAS TRES FORQUILHAS DE AROEIRA, TUDO QUE RESTOU DO PRÉDIO DA ESCOLA DO TIGRE.
FOTO DO SR DAMIÃO CARNEIRO E DO EXPEDICIONÁRIO SÓLON MENDES EM FRENTE ÀS RUÍNAS DA ANTIGA CAPELINHA ONDE ANTONIO MUITO REZAVA.
Do Tigre a comitiva toma o rumo de Assaré, movida pela informação do coletor Paulo Remígio de Freitas, de que, naquela cidade do Cariri, existia, sobrevivo, um ex-combatente da Guerra de Canudos, que apesar de ter sido membro do estado maior do Conselheiro convivia entre os habitantes no mais completo ostracismo.
Os Irmãos Vila Nova de Assaré à Canudos
Filhos de José Francisco Assunção e de dona Maria da Conceição, Antonio e Honório Vila Nova, nasceram em Assaré, no tempo da guerra do Paraguai. Ainda, eram duas crianças, quando conheceram Antonio Vicente, em 1873, por ocasião de uma passagem do peregrino por aquela cidade.
Reencontraram-se em 1877 quando o pregador resolveu trocar o Ceará pela Bahia, certamente, tangido pela fome da seca que acendeu o êxodo dos cearenses para os cafezais de São Paulo e seringais do Amazonas.
Convidado e ungido pelo Conselheiro como chefe temporal de Belo Monte – nova denominação de Canudos – Antonio Vila Nova, com seu tino administrativo, além de equilibrar as finanças e o abastecimento do lugar, até, fez circular, ali, um tipo de moeda muito bem aceita em toda zona de influência do Arraial, então, o segundo maior pólo produtivo da Bahia.
Ao Antonio Vila Nova competia, também, a guarda do armamento, colhido das forças invasoras vencidas. Isso porque, em Canudos, não se permitia o uso indiscriminado de armas, estas eram distribuídas aos guerrilheiros somente em caso de defesa.
Dono da maior loja do espaço, rico, dentro dos padrões do sertão, alvo preferido das más línguas, Antonio Villa Nova morava no único lugar de Belo Monte literalmente classificável como rua. Ali, as casas eram de tijolo, cobertas de telha, algumas com assoalho de madeira, portanto, bem diferentes, das outras cinco mil taperas de taipa, cobertas de palha, piso de chão batido, erigidas em vielas tortas e becos sem saídas que abrigavam quase 25 mil almas.
Conduzindo sua atribuição sem malquerença a ninguém, os irmãos Vila Nova, apesar de confiarem na obra física do Conselheiro, pouco se importavam com sua fé. Na realidade, ambos, até, nem freqüentavam as devoções, comprometimento optativo em Canudos.
Foi por serem alheios às credulidades dos canudenses, que, nos dias entre a morte do Conselheiro e o cerco definitivo, os Villa Nova saem do Arraial a tempo de escapulir da chacina. Muito embora tivessem brigado até quase o extermínio total, eles regressam definitivamente para seu torrão, onde envelheceram sempre falando bem do pai Conselheiro.
Residentes em Assaré, Antonio e Honório, ajudaram o padre Cícero, em 1913, por ocasião da Sedição de Juazeiro. Foi da cabeça de Antonio Vila Nova, que saiu a idéia da construção do valado em volta da cidade, que, estratégico, serviu de trincheira para os jagunços do Santo Padre rebater as forças do governo de Franco Rabelo aquarteladas no Crato.
Pedro Wilson em Assaré
Pedro Wilson da parte de Honório e de dona Toinha, viúva de Antonio Villa Nova não podia ter melhor acolhida. A família, entusiasmada com o propósito do visitante, cuida logo de proporcionar tudo que podiam em proveito de sua pesquisa. Para começar a boa velhinha se desfaz da única lembrança fotográfica do falecido marido, onde se lia: “Antonio Villa Nova, o herói de duas guerras”.
Deslumbrado, com tanto material para pesquisar, Wilson, atento, inicia a cobertura fotográfica da etapa de Assaré. Além de pessoas, fotografava, ainda, suas armas, verdadeiras relíquias trazidas, por eles, do próprio campo de batalha da Guerra de Canudos – peças do despojo da debandada do exército, material que acumulava uma espada tomada de um oficial, outras carabinas e cunhetes de balas, então, já, resfriadas.
REPRODUÇÃO DA FOTO OFERECIDA POR DONA TOINHA A PEDRO WILSON. TIRADA NO JUAZEIRO DO NORTE NO ANO DE 1916.
Numa das poses, quase em posição de sentido, Honório Vila Nova fez questão, de se munir da mesma “manulincher”, que usou para alvejar Moreira César, o coronel “Corta Cabeças”, comandante da malograda terceira expedição, que vergonhosamente, fugiu do campo da guerra.
O sobrevivente, três vezes, é citado no livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, depois do trabalho de Pedro Wilson, com quase noventa anos de idade, tornou-se o conselheirista mais qualificado para reconstituir a história da Guerra. Altivo, agarrado com a mesma inseparável “manulincher”, há quem diga que foi Honório quem eliminou o “Corta Cabeças”, assim chamavam o coronel Moreira Cesar.
O fato se deu no andamento da terceira expedição do governo contra Canudos, quando, pretensiosamente, o Coronel montou no seu cavalo sob o propósito de dar brio aos soldados. Naquele instante ao avistar o coronel do outro lado, descendo a barranca do rio, Honório, fez posição de tiro, dormiu na pontaria, e disparou, certeiro, o balaço que lhe atingiu a virilha. Se quisesse teria acertado direto no coração e acabar com a vida dele duma vez. Preferiu, entretanto, lhe dá uma morte mais doída fazendo-o sofrer e experimentar, no próprio corpo, a agonia que ele imprimia ao povo agredido, perversamente, em nome da República.
Honório Vila Nova – O velho moço, de quase oitenta e cinco primaveras empunha a “manulincher” com que combateu as tropas do governo, em canudos e uma espada de oficial, a prezada na luta. Foto batida a 22/08/1949
A “manulincher” de Antonio Vila Nova era uma das duas únicas armas automáticas existentes em Canudos ao tempo do ataque de Moreira César. Ambas haviam sido tomadas da Expedição Febrônio de Brito juntamente com 14 cunhetes de balas, e foram as que, produtivamente enfrentaram o exército do Cortador de Cabeças.
Sobre as trilhas de Canudos
A etapa de Assaré se acaba com o “velho moço” Honório Vila Nova se oferecendo para nortear a Expedição de Pedro Wilson até Canudos. A adesão, além de facilitar os objetivos, também, serviu para animar os outros expedicionários que nem sequer sabiam como alcançar Canudos – um trecho longuíssimo de trilhas desabitadas e perigosas.
Enquanto Zequinha conduzia o jipe rompendo os obstáculos do péssimo caminho, o ex-guerrilheiro, pacientemente, ao ser requisitado, rememorava e reconstituía as coisas que sabia, mas sempre, sem esquecer-se de elevar a personalidade marcante do líder Conselheiro sobre os costumes e a vida dos sertanejos.
Quando foi perguntado sobre a significação da profecia de que o SERTÃO VAI VIRAR MAR E O MAR VAI VIRAR SERTÃO, Honório tenta explicar o raciocínio do chefe dizendo:
- Ao pronunciar a célebre profecia, o bom homem, sabia o que o mar representava para os matutos. Eles nunca viram nenhum mar. Mas sabem da sua imensidão e dos seus mistérios.
- Que mistérios? Pergunta Osvaldo. Quem responde a pergunta do cunhado é Pedro Wilson.
- Ora, Osvaldo, esses mistérios, na “parábola” do Conselheiro, faz o sertanejo crer num sertão, hipotético e potencialmente com os mesmos poderes do mar que tudo pode: devora homens, destrói a armada e arrasa cidade.
- Isso mesmo doutor, essa coisa realmente aconteceu, até quando a terceira expedição foi expulsa em debandada – diz Honório encerrado o assunto.
As ruínas de Canudos.
Rompidos vários dias de trilhas, finalmente, deslumbrado, Pedro Wilson pode fotografar Canudos do mesmo ângulo que, de outra vez, o Arraial foi visto pelas forças federais que vinham arrasá-lo: o alto do Mário.
CANUDOS – OUTUBRO DE 1949 – PANORAMA DA CIDADE DE ENTÃO COLALIZADA COMO A OUTRA À MARGEM DO RIO VAZA BARRIS
No mesmo dia, excitados, desceram até as ruínas, momento em que o chefe expedicionário, se dar folga, cai em volta de reconstituições de tudo que se deu por ali no Arraial.
Depois, dia a dia, ajudado pelos companheiros, Pedro cuida de catar subsídios, analisar pedaços de escombros, restos de pedras, banda de tijolos, informações de testemunhas ainda vivas, e, finalmente, tudo, que pudesse ajudar a compreender o porquê de tanta morte, entender tanta reza e compreender tanto ensinamento.
Aquele cenário, para Vila Nova, representava um passado pouco distante – até se lembrava algumas árvores -, mas, para os outros, aquelas ruínas sepultadas no mato, em apenas meio século, pareciam tão antigas como túmulos dos Faraós no Egito.
Quando o jipe se aproxima do centro do ex-arraial, o velho expedicionário vai mostrando os lugares onde um monte de taperas, abrigava às vinte e cinco mil almas, trucidadas pelas forças oficiais. Não contem as lágrimas quando o carro alcança as ruínas da Igreja Velha – ali ele casou-se com a prima Tereza Jardelina de Alencar – foi ela quem o tratou, uma vez, do ferimento à bala, num dos pés. Retirado do entrincheiramento pelo irmão, ela curou a ferida com sumo de pimenta malagueta envolvida em folhas de bananeira.
Benze-se ao passarem diante do cruzeiro. O mesmo cruzeiro de madeira, agora, cheio de furos de balas, mas, ainda, intacto. O rústico monumento resistia ao tempo, do mesmo modo, que, escapou do arraso das tantas dinamites detonadas. Abandonada, mas de pé, aquela cruz continuava ali, orgulhosa da gente que abençoou e não se entregou, até dia em que cinco mil soldados do exercito rugiam sobre os últimos defensores do lugar: um velho, dois homens feitos e uma criança.
A exposição em Fortaleza
Ao regressar a Fortaleza, a Expedição, montou uma Exposição de Fotografias, Armamentos e Outros Materiais colhidos na cidade arrasada. Ali os visitantes curiosos e pesquisadores, enquanto examinavam as fotografias, dirigiam perguntas aos expedicionários, principalmente à Vila Nova, que ali permanecia como testemunha viva da guerra e à disposição de quantos quisessem saber detalhes da sangrenta pagina da História do Brasil.
Paralelamente aos trabalhos da exposição, Pedro Wilson avançava no trabalho jornalístico, histórico-sociológico, “ANTONIO CONSELHEIRO E O DRAMA DE CANUDOS”, publicando-o em capítulos em diferentes edições do jornal O POVO.
O regalo da veia comunista do autor extravasa todo seu talento, quando, em desacordo, com o pensamento de então, pioneiramente, coloca a personalidade do líder canudense entre o pequeno rol de heróis nacionais. No trecho abaixo, extraído da obra histórico-jornalística de Pedro Wilson, se mede o entusiasmo que só brota no coração dos apaixonados por seus ideais:
“(…) Canudos analisado nos seus profundos aspectos sociais, apresenta-nos o fenômeno autêntico de uma guerra de classe. Foi uma revolta de camponeses vergados sob o peso da opressão em seus múltiplos matizes. Aqueles heróis devem figurar na galeria dos filhos do povo, que tombaram em todas as frentes, lutando por uma vida mais digna e mais humana.”
Cobertura Fotográfica da Expedição de Pedro Wilson a Canudos
Prédio onde residiu e negociou Antonio Conselheiro -1856 1857
Quixeramobim 1949. Foto de 1949
O Jipe Land Houver, originário da Inglaterra, lançado em 1948. Um desses primeiros veículos chegados em Fortaleza, importado pelo concessionário Conrado Cabral & CIA., foi adquirido pela Loteria Estadual do Ceará, da qual Pedro Wilson Mendes era sócio-fundador. Na fotografia a seguir é um modelo 1949 que serviu à expedição de Pedro Wilson Mendes tendo como motorista seu primo José Maciel Pinto, o Zequinha. Ao fundo, o canhão que os guerrilheiros tomaram da fracassada Terceira Expedição contra Canudos comandada pelo Cortador de Cabeças Coronel Moreira Cesar. Este militar foi escolhido para comandar a Terceira Expedição Contra Canudos em virtude do seu extraordinário desempenho nas campanhas contra a Revolução Federalista do Rio Grande do Sul.
Durante a permanência da expedição de Pedro Wilson em Canudos, Honório Vila Nova se surpreende ao encontrar pelas redondezas do Arraial arrasado o ex-companheiro Chiquinhão que lhe contou como escapou do cerco em última hora.
CHIQUINHÃO O SOBReVIVENTE AMIGO DE VILA NOVA
Na foto abaixo Pedro Wilson ladeado por Honório Vila Nova e Chiquinhão, os dois matutos de chapéu na mão, talvez em respeito à câmera para eles um objeto muito raro.
PEDRO WILSON LADEADO POR VILA NOVA E CHIQUINHÃO.
Na pagina seguinte, Honório, Chiquinhão e seus netos na Frente do Umbuzeiro do Moreira Cesar. A árvore, assim chamada porque, ali, debaixo dela, foi queimado o cadáver do coronel que mandava degolar dos canudenses aprisionados. Isso mesmo, o exército não fazia prisioneiros. Os defensores de Canudos uma vez capturados pelos soldados, depois de obrigados a dar vivas à República que lhes agredia, eram agarrados pelos cabelos e degolados a golpes de sabres. Cinicamente o degolador afirmava que o “Jagunço” ao ser degolado não “verve” uma xícara de sangue. Na verdade, essa passagem, serve mais, para mostrar a subnutrição imposta ao lugar que chegou a ser o segundo pólo produtor da Bahia, portanto só perdendo para Salvador.
VILA NOVA E CHIQUINHÃO ENTRE SEUS NETOS NO FUNDO O UMBUZEIRO DO MOREIRA CESAR
VILA NOVA E CHIQUINHÃO AO FUNDO O “UMBUZEIRO DO MOREIRA CÉSAR” ASSIM DENOMINADO POR TER SIDO QUEIMADO NO SEU TRONCO O CADÁVER DAQUELE COMANDANTE DA 3ª. EXPEDIÇÃO ABANDONADO QUE FORA PELAS TROPAS NA VERGONHOSA DEBANDADA
OSVALDO VINHAS, CUNHADO DE PEDRO WILSON E HONORIO VILA NOVA EM FRENTE ÀS RUINAS DA IGREJA VELHA, TODA DE PEDRA E CAL. VÊEM-SE CLARAMENTE OS SINAIS DAS BALAS
O CRUZEIRO DA IGREJA VELHA. ESCAPOU “MILAGROSAMENTE” À FÚRIA DOS BOMBARDEIOS, COM MUITO SINAL DE BALAS DE FUZIL NO MADEIRAME.
O Cruzeiro da Igreja Velha juntamente com o canhão tomada da Terceira Expedição, diante da inundação do velho arraial de Canudos pela construção de uma barragem no Vaza Barris, foram transferidos para a cidade de Nova Canudos onde ainda hoje se encontra.
Nas fotografias seguintes os habitantes da nova aldeia e a pobreza daquilo que sob a liderança do Conselheiro foi o segundo pólo produtor da Bahia.
Na Canudos que ficou o povo para escapar da sede se abastece de água nas cacimbas furadas nas vazantes do rio. Observe-se no meio das mulheres Antonio Villa Nova e por traz o jipe da expedição.
Na próxima foto, Honório Vila Nova e Chiquinhão na cruz gravada no tumulo de António Conselheiro de onde, depois, seu corpo foi desenterrado e degolado. Seu crânio foi enviado a Salvador para estudos “científicos”.
Vila Nova e Chiquinhão de chapéu na mão em respeito do seu guia ali enterrado e depois exumado.
VILA NOVA COM HABITANTES DA NOVA CANUDOS
HABITANTES DA NOVA CANUDOS EM 1949
SENHORA HABITANTE DA NOVA CANUDOS EM 1949
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Uauá, 1949, Zequinha Maciel Pinto, o guiador do Jipe e Honório Vila Nova em frente ao prédio onde a 1ª. Expedição Comandada Pelo Tenente Pires Ferreira foi surpreendia pelos conselheiristas. Fotografias tomadas da frente e do oitão da casa.
Monte Santo – A primeira etapa da ascensão.
CRUCIS MANUSCRITO COM A LETRA DE PEDRO WILSON
Colaboradores locais do Dr. Pedro Wilson Mendes
HONÓRIO VILA NOVA - O BOM EX-COMBATENTE QUE MORREU QUASE AOS 105 ANOS DE IDADE, PASSOU A SER A PEÇA MAIS IMPORTANTE PARA QUEM QUISESSE ESTUDAR O ASSUNTO. - A pose dos fotografados induz a sensação de dever cumprido.
A Exposição de Fortaleza tendo o próprio Vila Nova à disposição dos interessados impõe, a escritores de porte como Abelardo Montenegro e Nertan Macedo, se entregarem ao dever de reparar a injustiça que, até então, só se preocupava nas fraquezas do Santo Homem, inclusive de outros sempre “protelando o empreendimento de estudo sério e consciencioso da personalidade misteriosa e complexa”, (2), mas, capaz de se elevar no rol dos pouquíssimos heróis, de fato, da História do Brasil.
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(1) Trecho de Pedro Alan Mendes Maciel em memória ao tio Pedro Wilson..
(1) Maciel, José. Minhas Idéias Crônicas. Editora Aula. Rio. 1986.
(*) Pedro Wilson Maciel Mendes, intrépido advogado baturiteense, covardemente assassinado, em Fortaleza, a 22 de janeiro de 1952, pelo simples fato de ter colocado, sempre, a força do Direito e suas convicções em prol dos oprimidos e contra as misérias oriundas das desigualdades sociais. Trecho de Pedro Alan Mendes Maciel em memória ao tio Pedro Wilson.
Esse post foi publicado de segunda-feira, 27 de julho de 2009 às 5:09 pm, e arquivado em HISTÓRIA DA CIDADE. Você pode acompanhar os comentários desse post através do feed RSS 2.0. Você pode comentar ou mandar um trackback do seu site pra cá.
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"Expedição de Pedro Wilson Mendes (*) a Canudos"
por Mário Mendes Junior, o "Maninho do Baturité"
Apareceu, originalmente, no site:
http://www.maninhodobaturite.com.br/
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Aos 35 anos de idade, sem embargo da fama de ser um advogado que jamais perdeu uma causa, Pedro Wilson somava ao seu currículo a qualidade de jornalista combativo ininterruptamente disposto a denunciar falcatruas. Em 1949, contudo, o jovem jurista resolve dar um brevíssimo tempo às lides forenses e ao jornalismo para atirar-se na pesquisa histórica.
Longe do o imediatismo das redações, Pedro Wilson se insurge como a primeira voz no deserto a abrir os olhos dos escritores com relação ao verdadeiro caráter de Antonio Vicente Mendes Maciel o Conselheiro.
Sua intenção, verdadeiramente foi dar inicio à reparação da injustiça que tem feito a História do Brasil ao protelar “o empreendimento de um estudo sério e consciencioso da (verdadeira) personalidade misteriosa e complexa” (1) do líder guerrilheiro.
Na verdade ninguém antes do jovem escritor se ocupou, como ele, de tirar das costas do Conselheiro os pejorativos do tipo gnóstico bronco, fanático religioso, taumaturgo, paranóico, santo homem, chefe de jagunços e outros despautérios, não escapados, sequer, da concisão e maestria de Euclides da Cunha no “OS SERTÕES”.
Antes de publicar suas conclusões em seguidas edições do jornal O POVO, no final da década de 1940, Pedro Wilson, em expedição, percorreu de jipe, todos os caminhos trilhados, pelo Conselheiro, tendo como companheiros Osvaldo Vinhas, Sólon Mendes e Zequinha Pinto, todos, amigos leigos na matéria, mas sequiosos de aventuras.
Quixeramobim. Entrevista com Euclides Wicar
Tudo começa no Quixeramobim. Cidade túmulo dos Maciéis, que não se olvidam pelo jeito sangrento de como, muitos, morreram na guerra da família contra os Araújos de Boa Viagem. Nessa cidade Pedro Wilson, encontra o coronel Euclides Wicar de Paula Pessoa, mestre na história do lugar. Durante uma entrevista Wicar, além de oferecê-lo algumas fotografias históricas, ainda, lhe transmite coisas contadas, principalmente, por Belo Flor, um cantador repentista local, falecido há dez anos. Ex-aluno de Antonio Vicente, as histórias de Belo Flor se referiam ao jeito professoral de quando ele deixou o negócio de Quixeramobim, em 1857, e passou a ensinar noções de conhecimento gerais na Escola da Fazenda Tigre, até se mudar para Tamboril.
Cantador Repentista Belarmino Flor, um dos alunos da escola do “Tigre” - Foto de 1939 do arquivo de Euclides Wicar
Fazenda Tigre, um patrimônio histórico
Da sede de Quixeramobim, a expedição se dirige à Fazenda Tigre, então pertencente ao comerciante, industrial e agro-pecuarista Damião Carneiro, que naquela época a modernizava. O dono da fazenda, prazerosamente, usa de toda sua hospitalidade, ao conduzir o visitante aos lugares, freqüentados por Antonio Vicente, enquanto viveu por ali,. A oportunidade propicia ao pesquisador colher fotos da casa grande, da igreja, das ruínas da escola, e demais pontos convenientes ao seu trabalho.
RUÍNA DA ESCOLA DA FAZENDA TIGRE ONDE LECIONOU ANTONIO CONSELHEIRO DEPOIS QUE LIQUIDOU SUA CASA COMERCIAL DE QUIXERAMOBIM -1857 1858.
FOTO DE 1939 DO ARQUIVO DE EUCLIDES WICAR DE PAULA PESSOA
Digno de tombamento as velhas construóes do Tigre, sem embargo dos muitos melhoramentos para torná-la rentável, se deve à determinação de Damião Carneiro de conservá-las como sítio histórico. Esse mesmo cuidado de conservaçao o acompanhou, quando, na década de 1950, ele constrói o enorme açude da fazenda. Naquela ocasião – quem viu não pode esquecer – as muitas centenas de trabalhadores, que em lombos de igual número de burros e jumentos transportavam a terra desmontada dos morros para elevar a outra montanha que serviu de parede para o reservatório. A então, fantástica obra de engenharia campestre, indubitavelmente, ratifica a fé que Damião dedicava a Deus, porque, ali, ele, literalmente, ao seu modo, removeu montanhas.
SOLON MENDES E ZEQUINHA MACIEL PINTO ESCORADOS NAS DUAS DAS TRES FORQUILHAS DE AROEIRA, TUDO QUE RESTOU DO PRÉDIO DA ESCOLA DO TIGRE.
FOTO DO SR DAMIÃO CARNEIRO E DO EXPEDICIONÁRIO SÓLON MENDES EM FRENTE ÀS RUÍNAS DA ANTIGA CAPELINHA ONDE ANTONIO MUITO REZAVA.
Do Tigre a comitiva toma o rumo de Assaré, movida pela informação do coletor Paulo Remígio de Freitas, de que, naquela cidade do Cariri, existia, sobrevivo, um ex-combatente da Guerra de Canudos, que apesar de ter sido membro do estado maior do Conselheiro convivia entre os habitantes no mais completo ostracismo.
Os Irmãos Vila Nova de Assaré à Canudos
Filhos de José Francisco Assunção e de dona Maria da Conceição, Antonio e Honório Vila Nova, nasceram em Assaré, no tempo da guerra do Paraguai. Ainda, eram duas crianças, quando conheceram Antonio Vicente, em 1873, por ocasião de uma passagem do peregrino por aquela cidade.
Reencontraram-se em 1877 quando o pregador resolveu trocar o Ceará pela Bahia, certamente, tangido pela fome da seca que acendeu o êxodo dos cearenses para os cafezais de São Paulo e seringais do Amazonas.
Convidado e ungido pelo Conselheiro como chefe temporal de Belo Monte – nova denominação de Canudos – Antonio Vila Nova, com seu tino administrativo, além de equilibrar as finanças e o abastecimento do lugar, até, fez circular, ali, um tipo de moeda muito bem aceita em toda zona de influência do Arraial, então, o segundo maior pólo produtivo da Bahia.
Ao Antonio Vila Nova competia, também, a guarda do armamento, colhido das forças invasoras vencidas. Isso porque, em Canudos, não se permitia o uso indiscriminado de armas, estas eram distribuídas aos guerrilheiros somente em caso de defesa.
Dono da maior loja do espaço, rico, dentro dos padrões do sertão, alvo preferido das más línguas, Antonio Villa Nova morava no único lugar de Belo Monte literalmente classificável como rua. Ali, as casas eram de tijolo, cobertas de telha, algumas com assoalho de madeira, portanto, bem diferentes, das outras cinco mil taperas de taipa, cobertas de palha, piso de chão batido, erigidas em vielas tortas e becos sem saídas que abrigavam quase 25 mil almas.
Conduzindo sua atribuição sem malquerença a ninguém, os irmãos Vila Nova, apesar de confiarem na obra física do Conselheiro, pouco se importavam com sua fé. Na realidade, ambos, até, nem freqüentavam as devoções, comprometimento optativo em Canudos.
Foi por serem alheios às credulidades dos canudenses, que, nos dias entre a morte do Conselheiro e o cerco definitivo, os Villa Nova saem do Arraial a tempo de escapulir da chacina. Muito embora tivessem brigado até quase o extermínio total, eles regressam definitivamente para seu torrão, onde envelheceram sempre falando bem do pai Conselheiro.
Residentes em Assaré, Antonio e Honório, ajudaram o padre Cícero, em 1913, por ocasião da Sedição de Juazeiro. Foi da cabeça de Antonio Vila Nova, que saiu a idéia da construção do valado em volta da cidade, que, estratégico, serviu de trincheira para os jagunços do Santo Padre rebater as forças do governo de Franco Rabelo aquarteladas no Crato.
Pedro Wilson em Assaré
Pedro Wilson da parte de Honório e de dona Toinha, viúva de Antonio Villa Nova não podia ter melhor acolhida. A família, entusiasmada com o propósito do visitante, cuida logo de proporcionar tudo que podiam em proveito de sua pesquisa. Para começar a boa velhinha se desfaz da única lembrança fotográfica do falecido marido, onde se lia: “Antonio Villa Nova, o herói de duas guerras”.
Deslumbrado, com tanto material para pesquisar, Wilson, atento, inicia a cobertura fotográfica da etapa de Assaré. Além de pessoas, fotografava, ainda, suas armas, verdadeiras relíquias trazidas, por eles, do próprio campo de batalha da Guerra de Canudos – peças do despojo da debandada do exército, material que acumulava uma espada tomada de um oficial, outras carabinas e cunhetes de balas, então, já, resfriadas.
REPRODUÇÃO DA FOTO OFERECIDA POR DONA TOINHA A PEDRO WILSON. TIRADA NO JUAZEIRO DO NORTE NO ANO DE 1916.
Numa das poses, quase em posição de sentido, Honório Vila Nova fez questão, de se munir da mesma “manulincher”, que usou para alvejar Moreira César, o coronel “Corta Cabeças”, comandante da malograda terceira expedição, que vergonhosamente, fugiu do campo da guerra.
O sobrevivente, três vezes, é citado no livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, depois do trabalho de Pedro Wilson, com quase noventa anos de idade, tornou-se o conselheirista mais qualificado para reconstituir a história da Guerra. Altivo, agarrado com a mesma inseparável “manulincher”, há quem diga que foi Honório quem eliminou o “Corta Cabeças”, assim chamavam o coronel Moreira Cesar.
O fato se deu no andamento da terceira expedição do governo contra Canudos, quando, pretensiosamente, o Coronel montou no seu cavalo sob o propósito de dar brio aos soldados. Naquele instante ao avistar o coronel do outro lado, descendo a barranca do rio, Honório, fez posição de tiro, dormiu na pontaria, e disparou, certeiro, o balaço que lhe atingiu a virilha. Se quisesse teria acertado direto no coração e acabar com a vida dele duma vez. Preferiu, entretanto, lhe dá uma morte mais doída fazendo-o sofrer e experimentar, no próprio corpo, a agonia que ele imprimia ao povo agredido, perversamente, em nome da República.
Honório Vila Nova – O velho moço, de quase oitenta e cinco primaveras empunha a “manulincher” com que combateu as tropas do governo, em canudos e uma espada de oficial, a prezada na luta. Foto batida a 22/08/1949
A “manulincher” de Antonio Vila Nova era uma das duas únicas armas automáticas existentes em Canudos ao tempo do ataque de Moreira César. Ambas haviam sido tomadas da Expedição Febrônio de Brito juntamente com 14 cunhetes de balas, e foram as que, produtivamente enfrentaram o exército do Cortador de Cabeças.
Sobre as trilhas de Canudos
A etapa de Assaré se acaba com o “velho moço” Honório Vila Nova se oferecendo para nortear a Expedição de Pedro Wilson até Canudos. A adesão, além de facilitar os objetivos, também, serviu para animar os outros expedicionários que nem sequer sabiam como alcançar Canudos – um trecho longuíssimo de trilhas desabitadas e perigosas.
Enquanto Zequinha conduzia o jipe rompendo os obstáculos do péssimo caminho, o ex-guerrilheiro, pacientemente, ao ser requisitado, rememorava e reconstituía as coisas que sabia, mas sempre, sem esquecer-se de elevar a personalidade marcante do líder Conselheiro sobre os costumes e a vida dos sertanejos.
Quando foi perguntado sobre a significação da profecia de que o SERTÃO VAI VIRAR MAR E O MAR VAI VIRAR SERTÃO, Honório tenta explicar o raciocínio do chefe dizendo:
- Ao pronunciar a célebre profecia, o bom homem, sabia o que o mar representava para os matutos. Eles nunca viram nenhum mar. Mas sabem da sua imensidão e dos seus mistérios.
- Que mistérios? Pergunta Osvaldo. Quem responde a pergunta do cunhado é Pedro Wilson.
- Ora, Osvaldo, esses mistérios, na “parábola” do Conselheiro, faz o sertanejo crer num sertão, hipotético e potencialmente com os mesmos poderes do mar que tudo pode: devora homens, destrói a armada e arrasa cidade.
- Isso mesmo doutor, essa coisa realmente aconteceu, até quando a terceira expedição foi expulsa em debandada – diz Honório encerrado o assunto.
As ruínas de Canudos.
Rompidos vários dias de trilhas, finalmente, deslumbrado, Pedro Wilson pode fotografar Canudos do mesmo ângulo que, de outra vez, o Arraial foi visto pelas forças federais que vinham arrasá-lo: o alto do Mário.
CANUDOS – OUTUBRO DE 1949 – PANORAMA DA CIDADE DE ENTÃO COLALIZADA COMO A OUTRA À MARGEM DO RIO VAZA BARRIS
No mesmo dia, excitados, desceram até as ruínas, momento em que o chefe expedicionário, se dar folga, cai em volta de reconstituições de tudo que se deu por ali no Arraial.
Depois, dia a dia, ajudado pelos companheiros, Pedro cuida de catar subsídios, analisar pedaços de escombros, restos de pedras, banda de tijolos, informações de testemunhas ainda vivas, e, finalmente, tudo, que pudesse ajudar a compreender o porquê de tanta morte, entender tanta reza e compreender tanto ensinamento.
Aquele cenário, para Vila Nova, representava um passado pouco distante – até se lembrava algumas árvores -, mas, para os outros, aquelas ruínas sepultadas no mato, em apenas meio século, pareciam tão antigas como túmulos dos Faraós no Egito.
Quando o jipe se aproxima do centro do ex-arraial, o velho expedicionário vai mostrando os lugares onde um monte de taperas, abrigava às vinte e cinco mil almas, trucidadas pelas forças oficiais. Não contem as lágrimas quando o carro alcança as ruínas da Igreja Velha – ali ele casou-se com a prima Tereza Jardelina de Alencar – foi ela quem o tratou, uma vez, do ferimento à bala, num dos pés. Retirado do entrincheiramento pelo irmão, ela curou a ferida com sumo de pimenta malagueta envolvida em folhas de bananeira.
Benze-se ao passarem diante do cruzeiro. O mesmo cruzeiro de madeira, agora, cheio de furos de balas, mas, ainda, intacto. O rústico monumento resistia ao tempo, do mesmo modo, que, escapou do arraso das tantas dinamites detonadas. Abandonada, mas de pé, aquela cruz continuava ali, orgulhosa da gente que abençoou e não se entregou, até dia em que cinco mil soldados do exercito rugiam sobre os últimos defensores do lugar: um velho, dois homens feitos e uma criança.
A exposição em Fortaleza
Ao regressar a Fortaleza, a Expedição, montou uma Exposição de Fotografias, Armamentos e Outros Materiais colhidos na cidade arrasada. Ali os visitantes curiosos e pesquisadores, enquanto examinavam as fotografias, dirigiam perguntas aos expedicionários, principalmente à Vila Nova, que ali permanecia como testemunha viva da guerra e à disposição de quantos quisessem saber detalhes da sangrenta pagina da História do Brasil.
Paralelamente aos trabalhos da exposição, Pedro Wilson avançava no trabalho jornalístico, histórico-sociológico, “ANTONIO CONSELHEIRO E O DRAMA DE CANUDOS”, publicando-o em capítulos em diferentes edições do jornal O POVO.
O regalo da veia comunista do autor extravasa todo seu talento, quando, em desacordo, com o pensamento de então, pioneiramente, coloca a personalidade do líder canudense entre o pequeno rol de heróis nacionais. No trecho abaixo, extraído da obra histórico-jornalística de Pedro Wilson, se mede o entusiasmo que só brota no coração dos apaixonados por seus ideais:
“(…) Canudos analisado nos seus profundos aspectos sociais, apresenta-nos o fenômeno autêntico de uma guerra de classe. Foi uma revolta de camponeses vergados sob o peso da opressão em seus múltiplos matizes. Aqueles heróis devem figurar na galeria dos filhos do povo, que tombaram em todas as frentes, lutando por uma vida mais digna e mais humana.”
Cobertura Fotográfica da Expedição de Pedro Wilson a Canudos
Prédio onde residiu e negociou Antonio Conselheiro -1856 1857
Quixeramobim 1949. Foto de 1949
O Jipe Land Houver, originário da Inglaterra, lançado em 1948. Um desses primeiros veículos chegados em Fortaleza, importado pelo concessionário Conrado Cabral & CIA., foi adquirido pela Loteria Estadual do Ceará, da qual Pedro Wilson Mendes era sócio-fundador. Na fotografia a seguir é um modelo 1949 que serviu à expedição de Pedro Wilson Mendes tendo como motorista seu primo José Maciel Pinto, o Zequinha. Ao fundo, o canhão que os guerrilheiros tomaram da fracassada Terceira Expedição contra Canudos comandada pelo Cortador de Cabeças Coronel Moreira Cesar. Este militar foi escolhido para comandar a Terceira Expedição Contra Canudos em virtude do seu extraordinário desempenho nas campanhas contra a Revolução Federalista do Rio Grande do Sul.
Durante a permanência da expedição de Pedro Wilson em Canudos, Honório Vila Nova se surpreende ao encontrar pelas redondezas do Arraial arrasado o ex-companheiro Chiquinhão que lhe contou como escapou do cerco em última hora.
CHIQUINHÃO O SOBReVIVENTE AMIGO DE VILA NOVA
Na foto abaixo Pedro Wilson ladeado por Honório Vila Nova e Chiquinhão, os dois matutos de chapéu na mão, talvez em respeito à câmera para eles um objeto muito raro.
PEDRO WILSON LADEADO POR VILA NOVA E CHIQUINHÃO.
Na pagina seguinte, Honório, Chiquinhão e seus netos na Frente do Umbuzeiro do Moreira Cesar. A árvore, assim chamada porque, ali, debaixo dela, foi queimado o cadáver do coronel que mandava degolar dos canudenses aprisionados. Isso mesmo, o exército não fazia prisioneiros. Os defensores de Canudos uma vez capturados pelos soldados, depois de obrigados a dar vivas à República que lhes agredia, eram agarrados pelos cabelos e degolados a golpes de sabres. Cinicamente o degolador afirmava que o “Jagunço” ao ser degolado não “verve” uma xícara de sangue. Na verdade, essa passagem, serve mais, para mostrar a subnutrição imposta ao lugar que chegou a ser o segundo pólo produtor da Bahia, portanto só perdendo para Salvador.
VILA NOVA E CHIQUINHÃO ENTRE SEUS NETOS NO FUNDO O UMBUZEIRO DO MOREIRA CESAR
VILA NOVA E CHIQUINHÃO AO FUNDO O “UMBUZEIRO DO MOREIRA CÉSAR” ASSIM DENOMINADO POR TER SIDO QUEIMADO NO SEU TRONCO O CADÁVER DAQUELE COMANDANTE DA 3ª. EXPEDIÇÃO ABANDONADO QUE FORA PELAS TROPAS NA VERGONHOSA DEBANDADA
OSVALDO VINHAS, CUNHADO DE PEDRO WILSON E HONORIO VILA NOVA EM FRENTE ÀS RUINAS DA IGREJA VELHA, TODA DE PEDRA E CAL. VÊEM-SE CLARAMENTE OS SINAIS DAS BALAS
O CRUZEIRO DA IGREJA VELHA. ESCAPOU “MILAGROSAMENTE” À FÚRIA DOS BOMBARDEIOS, COM MUITO SINAL DE BALAS DE FUZIL NO MADEIRAME.
O Cruzeiro da Igreja Velha juntamente com o canhão tomada da Terceira Expedição, diante da inundação do velho arraial de Canudos pela construção de uma barragem no Vaza Barris, foram transferidos para a cidade de Nova Canudos onde ainda hoje se encontra.
Nas fotografias seguintes os habitantes da nova aldeia e a pobreza daquilo que sob a liderança do Conselheiro foi o segundo pólo produtor da Bahia.
Na Canudos que ficou o povo para escapar da sede se abastece de água nas cacimbas furadas nas vazantes do rio. Observe-se no meio das mulheres Antonio Villa Nova e por traz o jipe da expedição.
Na próxima foto, Honório Vila Nova e Chiquinhão na cruz gravada no tumulo de António Conselheiro de onde, depois, seu corpo foi desenterrado e degolado. Seu crânio foi enviado a Salvador para estudos “científicos”.
Vila Nova e Chiquinhão de chapéu na mão em respeito do seu guia ali enterrado e depois exumado.
VILA NOVA COM HABITANTES DA NOVA CANUDOS
HABITANTES DA NOVA CANUDOS EM 1949
SENHORA HABITANTE DA NOVA CANUDOS EM 1949
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Uauá, 1949, Zequinha Maciel Pinto, o guiador do Jipe e Honório Vila Nova em frente ao prédio onde a 1ª. Expedição Comandada Pelo Tenente Pires Ferreira foi surpreendia pelos conselheiristas. Fotografias tomadas da frente e do oitão da casa.
Monte Santo – A primeira etapa da ascensão.
CRUCIS MANUSCRITO COM A LETRA DE PEDRO WILSON
Colaboradores locais do Dr. Pedro Wilson Mendes
HONÓRIO VILA NOVA - O BOM EX-COMBATENTE QUE MORREU QUASE AOS 105 ANOS DE IDADE, PASSOU A SER A PEÇA MAIS IMPORTANTE PARA QUEM QUISESSE ESTUDAR O ASSUNTO. - A pose dos fotografados induz a sensação de dever cumprido.
A Exposição de Fortaleza tendo o próprio Vila Nova à disposição dos interessados impõe, a escritores de porte como Abelardo Montenegro e Nertan Macedo, se entregarem ao dever de reparar a injustiça que, até então, só se preocupava nas fraquezas do Santo Homem, inclusive de outros sempre “protelando o empreendimento de estudo sério e consciencioso da personalidade misteriosa e complexa”, (2), mas, capaz de se elevar no rol dos pouquíssimos heróis, de fato, da História do Brasil.
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(1) Trecho de Pedro Alan Mendes Maciel em memória ao tio Pedro Wilson..
(1) Maciel, José. Minhas Idéias Crônicas. Editora Aula. Rio. 1986.
(*) Pedro Wilson Maciel Mendes, intrépido advogado baturiteense, covardemente assassinado, em Fortaleza, a 22 de janeiro de 1952, pelo simples fato de ter colocado, sempre, a força do Direito e suas convicções em prol dos oprimidos e contra as misérias oriundas das desigualdades sociais. Trecho de Pedro Alan Mendes Maciel em memória ao tio Pedro Wilson.
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17 outubro 2011
O cangaceiro "Fuxico" ou "Mexirico"
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O cangaceiro “Fuxico” ou “Mexirico”, de nome José Francisco, ficou famoso no bando de Lampeão, ganhando, inclusive, seus apelidos, por ser um dos maiores levantadores de intriga.
Suas intrigas levaram, inclusive, a um aborrecimento de Maria Bonita com o cangaceiro Gitirana.
Lampeão chegou a se irritar com o verdadeiro tumulto de fofocas que começaram a importunar o bando, minando sua unidade por dentro.
Em aproximadamente junho de 1939, conseguindo escapar ao cerco das volantes aos últimos cangaceiros, no nordeste da Bahia, o cangaceiro “Fuxico” ou “Mexirico” seguiu em direção ao sul baiano.
Abrigando–se em Ilhéus, manteve seu aparato e começou a agregar armas, tentando iniciar atividades na zona rural daquele município. N
Na tentativa de conquista aliados e formar um bando, acabou dando indicadores da sua "experiência anterior".
Denunciado, foi preso em junho de 1940, na Fazenda Riacho de Areia, e levado para Salvador, Bahia.
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O cangaceiro "Bananeira"
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Horácio Teixeira Junior, o cangaceiro “Bananeira”, foi um dos cangaceiros aprisionados e que sobreviveram ao Cangaço.
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Conduzido a Salvador, chegou a esta cidade em março de 1932.
Junto com ele chegaram o cangaceiro “Volta Seca”, Antônio dos Santos, e o coiteiro Manoel Nascimento de Souza. Este evento provocou um verdadeiro alvoroço na cidade, transformando o dia da chegada em verdadeiro feriado local.
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Volta Seca e Passarinho
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Isto principalmente pela grande propaganda que se fizera em torno das alegadas características de “demência e denegeração racial” dos cangaceiros.
Daí, tanto “Bananeira” quanto “Volta Seca” foram imediatamente encaminhados para exames de craniometria, que buscavam enquadramento de ambos nas “características lombrosianas”. Estas apontariam as “evidências claras que indicavam tendendência ao crime”.
Para constrangimento dos "estudiosos" da época, o crânio dos cangaceiros era normal. Isto é, não apresentando quaisquer dos "indicadores de criminalidade latente", mostravam-se geralmente tranquilos, cordatos nas respostas e sem criar confusões com quem quer que fosse.
Para quem esperava encontrar um monstro... foi uma decepção para os frenologistas e fisiognomistas da "escola lombrosiana", relacionada a Nina Rodrigues... e uma vitória do grupo de Estácio de Lima...
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Cabe chamar a atenção para um erro crasso que, por vezes, aparece. Apesar da identificação por um ou outro, sem maior referência, do retratado abaixo como sendo o cangaceiro Bananeira, trata-se este, por certo, do cangaceiro Calais.
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O cangaceiro "Campinas"
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Em janeiro de 1928, foi preso o cangaceiro “Campinas”, cujo nome era José Soares Santos . Através dele, a polícia conseguiu algumas informações de interesse para os estudiosos do Cangaço.
O cangaceiro foi preso como membro de uma pequeno subgrupo que incursionava pela Bahia, em missão de reconhecimento. Anunciava–se aí a intenção mais clara de Lampeão adentrar o território baiano. Isto forçou um reforço maior do quantitativo de policiais na fronteira
O grupo maior, liderado pelo próprio Lampeão, conforme apurado então, naquele momento, havia atravessado o Rio São Francisco, em incursões exploratórias primeiras, no Estado de Sergipe.
Outro ponto é que a composição deste grupo principal, dada como com "23 caibras". Nele figuravam, segundo a declaração do cangaceiro, “3 mulheres, bem armadas e municiadas”.
Conforme declaração no depoimento de “Campinas”: “As tres mulheres que integram o bando são habeis amazonas e manejam o rifle com incrivel destreza. Algumas são tão crueis quanto os homens. Tomam parte nos assaltos e combates ao lado dos bandoleiros, – mostram–se tão destemerosas como elles.”
Extraviado do seu subgrupo, foi aprisionado quando se aproximava do seu municipio natal, Paripiranga, na Bahia.
Conduzido à prisão, na secretaria de Segurança Pública, na Praça da Piedade, em Salvador, Bahia., a fim de minorar seus problemas, declarou ter entrado para o Cangaço obrigado e desertado quando pode.
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25 setembro 2011
Brejão da Caatinga... Brejão de Dentro...
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Um dos principais problemas, para alguns eventos do Cangaço, é referenciar corretamente onde ocorreu.
O Massacre de Brejão da Caatinga, em que morreram o cabo Antônio Militão da Silva e os soldados Pedro Santana, Cecílio Benedito, Manoel Luís de França e Leocádio Francisco da Silva, ocorreu na manhã de 4 de julho de 1929.
Sua localização, e função da duplicidade de nomes, pois aparece citado como Brejão de Dentro, antiga denominação, e Brejão da Caatinga, mais recente, pode ser dificultada.
Aqui, a localização da localidade, em relação ao município-sede e a outras cidades.
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Outro ponto é a visualização das condições da localidade quando do evento.
A visão atual foge demasiadamente às condições à época.
Abaixo, atualidade e o resgate aproximado da situação quando do massacre.
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A ambiência era, realmente, muito diferente da atual. A antiga aglomeração de casinhas de tijolinhos de adobe, barro prensado ou palha trançada, com cobertura de tabúa (um junco), não guarda relações com a atualidade.
Houve um processo de melhoria das casas, com redistribuição, na sua urbanização.
Abaixo, uma visão atual e uma tentativa de resgate do visual da localidade, que realizei, tentando fornecer uma melhor imagem para a reconstituição do evento.
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O local original de sepultamento dos soldados aparece na imagem. Mas seus restos foram, pouco depois, transladados para Campo Formoso, autopsiados e inumados no cemitério local. Mais tarde, suas covas rasas foram reutilizadas e seus restos se perderam.
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Abaixo, o excelente texto de Leonardo Mota, contemporâneo do evento, em uma crônica, contando-nos como tudo se deu.
Foi reproduzido por Plinio Bartolotti, em seu blog, assim como outros eventos do Cangaço:
http://blog.opovo.com.br/pliniobortolotti/tag/leonardo-mota/
Aqui o trazemos para o nosso blog, a partir daquele.
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Leonardo Mota
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O cabo Militão
Foi uma tarde pressaga aquela em que na fazenda “Corituba”, de Sergipe, Ezequiel, irmão de Virgolino, com este se desaveio e o desafiou para uma luta, a punhal, injuriando-o com os epítetos de cego frouxo, fazedor de mal a moças donzelas, ladrão de beira-de-estrada, dador de surra em homem desarmado e cabra covarde que só tem fama por via dos companheiros… Devido à oportuna intervenção de Corisco e de Pai Velho, um duelo fratricida se não verificou. Mas, desde esse dia, Lampião passou a se mostrar taciturno e se tornou ainda mais irascível e cruel. O olho direito, que ele tem cego e esbranquiçado, estava sempre lacrimoso e isso neurastenizava e enfurecia o celerado.
Por outro lado, Virgolino sentia que a maioria do bando não recebera bem a sua decisão contra Corisco, no incidente deste com Volta Seca. Fôra o caso que, dias antes, estando Volta Seca a torturar uma pobre velha, cujo rosto já arranhara com o punhal, Corisco o repreendeu e, como o perverso insistente na sua maldade, Corisco pespegou-lhe uma bofetada que o atirou, desacordado, ao chão. Virgolino metera-se entre os dois, mas desgostara Corisco, em lhe não reconhecendo razão. Só por estarem atropelados mui de perto pela polícia, os cangaceiros não se separaram, fragmentando o grupo. Tais ocorrências obrigavam Virgolino a procurar escaramuças que dissiassem o mal-estar que ensombrava os ânimos da malta. Fazia-se mister que a luta novamente os solidarizasse.
A 29 de junho do ano passado, quando todo o sertão baiano guardava, tranquilo e feliz, o dia onomástico de São Pedro, Virgolino, a três léguas do arraial Várzea da Ema, do município de Curaçá, assaltou a fazenda “Formosa”, de propriedade do Cel. Petronilo Reis. Aí incendiou duas casas e, afora outras depredações, matou, a faca, três vacas de leite e cento e sessenta e oito (168) ovelhas que encontrou presas num curral. Em seguida, fez juntar grande ruma de esterco, empilhou sobre ela as reses e lanígeros abatidos e ateou fogo ao sinistro montão de animais sacrificados. Por muitos dias um cheiro nauseabundo de carnes podres e queimadas empestou as redondezas da fazenda reduzida a ruínas.
Após a selvajaria desses desatinos, Lampião partiu com o seu séquito, declarando na fazenda “Curundundu” que ia desgraçar a vila de Uauá. Então, perseguia-o mais de perto a volante comandada pelo Tenente Arsênio Alves de Sousa. Verdadeira marcha batida, em a qual, sem descanso, os cangaceiros venceram trinta e uma léguas e a polícia vinte e quatro.
Foi assim que Lampião logrou escapar aos que se lhe haviam escanchado no rastro: perto da fazenda “Lagoa Escondida”, numa bifurcação da estrada, rumou para a direita, indo pernoitar a 30 de junho, em Poço de Fora, iludindo, pois, o contingente policial que prosseguiu pela esquerda, a fim de entrar pelo lado sul de Uauá.
Auxiliado por sequazes incorporados à sua alcatéia em território baiano e perfeitos conhecedores da região, Virgolino novamente deu às de vila-diogo na madrugada de 1° de julho, empreendendo um raid ainda mais exaustivo e ousado. Egresso das caatingas e grotões, o bandoleiro-fantasma teve a audácia de voar sobre Itumirim, onde chegou ao lusco-fusco do dia 2, depois, em trinta e seis horas, haver vencido quarenta e cinco léguas! Aí reduziu a cinzas a estação ferroviária, cortou as comunicações telegráficas com a localidade, bebeu à farta e tentou formar um samba na casa da… Escola Pública. Mas, medroso de uma surpresa dos seus perseguidores, arribou logo mais e foi refugiar-se, durante o resto da noite, na Serra dos Morgados. O dia 3 assinalou o seu assalto à fazenda “Piabas” e o seu pernoite no lugar “Buraco d’Água”.
Coincidiram tais fatos com a fuga de cinco soldados criminosos, recolhidos à cadeia de Bonfim. Esses fugitivos, em bilhete irônico e malcriado que deixaram ao Capitão José Galdino, avisavam que se iam reunir a Lampião.
Em atividade, no encalço dos detentos foragidos, a manhã de 4 de julho veio encontrar os destacamentos da zona.
Procedentes de Campo Formoso, o Cabo Antônio Militão da Silva e os Soldados Pedro Santana, Cecílio Benedito, Manoel Luís de França e Leocádio Francisco da Silva pararam em Brejão de Dentro e ali aguardaram a chegada de outros companheiros, por ser aquele o ponto combinado de junção das forças.
Como devessem dali ingressar na região de Gruna, penetrando em lugares insidiosos e de penoso acesso, “lugares esquisitos”, como eufemicamente por lá se diz, os soldados abandonaram as armas e aproveitavam o tempo de espera, escrevendo bilhetes para suas famílias em Campo Formoso, dando-lhes conhecimento da direção que iam tomar. Estavam todos no interior da residência de Alfredo Monteiro e, fora, o Cabo Militão consertava os loros de uma montaria. Seriam onze horas da manhã.
Em dado momento, Militão avistou longe, na estrada, diversos homens armados e avisou: – Lá vêm nossos camaradas! E continuou, despreocupadamente, no reparo dos arreios. Também as praças não tiveram a curiosidade de ver quem era que se aproximava. A estrada faz uma curva fechada e vem desembocar abruptamente junto à casa, motivo por que Militão logo perdeu de vista os indivíduos que julgou serem soldados.
De súbito, o troço aparece. Num ápice, saltam das selas Lampião, Volta Seca, Ezequiel, Pai Velho, Corisco, Arvoredo, Moderno, Esperança, Moirão, Gato, Pernambuco e Labareda. Virgolino já está intimando o Cabo Militão:
- Se prepare, cabra, se prepare pra apanhar!
- PRA APANHAR, NÃO, QUE EM HOMEM NÃO SE DÁ: – HOMEM SE MATA!
- Apois, então, tire a cartucheira, que é pra não melar de sangue!
Mas não findara o curto diálogo entre Virgolino e Militão e já Volta Seca desfechava neste um tiro de Parabellum no ouvido.
Com o estampido, acorrem os soldados, atordoados e sem os fuzis, e são recebidos por uma saraivada de balas, quase a queima-roupa. Um deles tomba, tendo como arma nas mãos a caneta com que inconscientemente estava a mandar o derradeiro adeus à família. Outro, o único que logo não caiu, baleado que fôra ligeiramente num braço, retrocede à casa e procura refugiar-se numa alcova. Cerrada descarga atravessa a porta, prostrando-o morto pelas costas. Muitos outros disparos alvejam ainda os moribundos, um dos quais escabuja e é sangrado. Esse infeliz chegou a receber no corpo nove balas. Tudo isso não durara mais que instantes.
A horda penetra na casa e Lampião, não saciado, indaga se não resta escondido por ali mais algum macaco do gunvêrno. Alfredo Monteiro responde negativamente e implora compaixão para si e para os seus. Lampião grita-lhe que nunca mais dê rancho a macaco e volta ao terreiro. Dá um pontapé no cadáver de Militão e arranca-lhe do braço as divisas de cabo, presenteando uma das fitas a Moderno e outra a Arvoredo. Este lastima que nenhum dos mortos usasse bigode comprido: é que ele queria torar e amarrar na fita, mode enfeitar o rabo do cavalo em que vinha montado… Ezequiel vasculha os bolsos dos soldados. Tal busca de dinheiro resulta infrutífera e o miserável desanda na torpeza duns insultos pornográficos.
Estarrecido, o dono da casa pergunta que deve fazer com os cinco cadáveres. Virgolino sacode os ombros:
- Querendo, enterre; não querendo, deixe os urubus comer!
Pai Velho saúda com uma risada o dito de sarcasmo do chefe feroz.
Lampião pede cachaça, cachaça muita que dê pra ele e a “rapaziada” festejarem a caçada do dia.
Alfredo Monteiro, receoso de ter de testemunhar nova chacina, adverte que outra força de polícia está a chegar. Virgolino exalta-se e deixa a esses policiais um recado obsceno. Depois, olha raivosa e tigrinamente as suas cinco vítimas e ordena a Alfredo Monteiro que enterre os peste todos numa cova só, sob pena dum ajuste de contas em regra, noutra visita inesperada. Alfredo Monteiro promete que assim fará e pede licença para ir buscar a aguardente. Lampião diz que não quer mais…
Todo o grupo torna a montar.
Nisso, o soldado Cecílio Benedito, nos últimos estertores, bole ligeiramente com um pé. Lampião observa o movimento e saca, de novo, a pistola:
- O diabo deste “macaco” inda está se mexendo? Macaco mexeu, quer chumbo…
E, mesmo montado, desfecha-lhe um tiro na cabeça, que lhe arranca parte do frontal.
E esporeando as alimárias, a cantar alegremente o “É lampa… é lampa…”, os Cavaleiros do Crime galopam, fugindo pusilânimemente a um encontro com os policiais esperados.
Quando o tropel da cavalhada e a toada do hino de guerra de Lampião não se faziam mais ouvir, foram se reabrindo as casas do Brejão e das portas e janelas umas cabeças assustadas perscrutavam se o vilarejo já encontra restituído à sua quietude e pacatez.
Alfredo Monteiro, de olhos marejados, estava a espantar uns cães famintos que lambiam o chão inda rubro, aqui e ali, do sangue dos cinco mártires do banditismo nefando.
O sol pompeava, na sua escalada para o zênite.
O Cabo Militão tinha os olhos esbugalhados para o céu, como a indicar que aquele cuja firmeza de olhar não se curvara ante a crueldade vilã do Rei do Cangaço também era capaz de fitar o sol, o grande sol flamejante dos sertões!
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Um dos principais problemas, para alguns eventos do Cangaço, é referenciar corretamente onde ocorreu.
O Massacre de Brejão da Caatinga, em que morreram o cabo Antônio Militão da Silva e os soldados Pedro Santana, Cecílio Benedito, Manoel Luís de França e Leocádio Francisco da Silva, ocorreu na manhã de 4 de julho de 1929.
Sua localização, e função da duplicidade de nomes, pois aparece citado como Brejão de Dentro, antiga denominação, e Brejão da Caatinga, mais recente, pode ser dificultada.
Aqui, a localização da localidade, em relação ao município-sede e a outras cidades.
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Outro ponto é a visualização das condições da localidade quando do evento.
A visão atual foge demasiadamente às condições à época.
Abaixo, atualidade e o resgate aproximado da situação quando do massacre.
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A ambiência era, realmente, muito diferente da atual. A antiga aglomeração de casinhas de tijolinhos de adobe, barro prensado ou palha trançada, com cobertura de tabúa (um junco), não guarda relações com a atualidade.
Houve um processo de melhoria das casas, com redistribuição, na sua urbanização.
Abaixo, uma visão atual e uma tentativa de resgate do visual da localidade, que realizei, tentando fornecer uma melhor imagem para a reconstituição do evento.
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O local original de sepultamento dos soldados aparece na imagem. Mas seus restos foram, pouco depois, transladados para Campo Formoso, autopsiados e inumados no cemitério local. Mais tarde, suas covas rasas foram reutilizadas e seus restos se perderam.
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Abaixo, o excelente texto de Leonardo Mota, contemporâneo do evento, em uma crônica, contando-nos como tudo se deu.
Foi reproduzido por Plinio Bartolotti, em seu blog, assim como outros eventos do Cangaço:
http://blog.opovo.com.br/pliniobortolotti/tag/leonardo-mota/
Aqui o trazemos para o nosso blog, a partir daquele.
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Leonardo Mota
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O cabo Militão
Foi uma tarde pressaga aquela em que na fazenda “Corituba”, de Sergipe, Ezequiel, irmão de Virgolino, com este se desaveio e o desafiou para uma luta, a punhal, injuriando-o com os epítetos de cego frouxo, fazedor de mal a moças donzelas, ladrão de beira-de-estrada, dador de surra em homem desarmado e cabra covarde que só tem fama por via dos companheiros… Devido à oportuna intervenção de Corisco e de Pai Velho, um duelo fratricida se não verificou. Mas, desde esse dia, Lampião passou a se mostrar taciturno e se tornou ainda mais irascível e cruel. O olho direito, que ele tem cego e esbranquiçado, estava sempre lacrimoso e isso neurastenizava e enfurecia o celerado.
Por outro lado, Virgolino sentia que a maioria do bando não recebera bem a sua decisão contra Corisco, no incidente deste com Volta Seca. Fôra o caso que, dias antes, estando Volta Seca a torturar uma pobre velha, cujo rosto já arranhara com o punhal, Corisco o repreendeu e, como o perverso insistente na sua maldade, Corisco pespegou-lhe uma bofetada que o atirou, desacordado, ao chão. Virgolino metera-se entre os dois, mas desgostara Corisco, em lhe não reconhecendo razão. Só por estarem atropelados mui de perto pela polícia, os cangaceiros não se separaram, fragmentando o grupo. Tais ocorrências obrigavam Virgolino a procurar escaramuças que dissiassem o mal-estar que ensombrava os ânimos da malta. Fazia-se mister que a luta novamente os solidarizasse.
A 29 de junho do ano passado, quando todo o sertão baiano guardava, tranquilo e feliz, o dia onomástico de São Pedro, Virgolino, a três léguas do arraial Várzea da Ema, do município de Curaçá, assaltou a fazenda “Formosa”, de propriedade do Cel. Petronilo Reis. Aí incendiou duas casas e, afora outras depredações, matou, a faca, três vacas de leite e cento e sessenta e oito (168) ovelhas que encontrou presas num curral. Em seguida, fez juntar grande ruma de esterco, empilhou sobre ela as reses e lanígeros abatidos e ateou fogo ao sinistro montão de animais sacrificados. Por muitos dias um cheiro nauseabundo de carnes podres e queimadas empestou as redondezas da fazenda reduzida a ruínas.
Após a selvajaria desses desatinos, Lampião partiu com o seu séquito, declarando na fazenda “Curundundu” que ia desgraçar a vila de Uauá. Então, perseguia-o mais de perto a volante comandada pelo Tenente Arsênio Alves de Sousa. Verdadeira marcha batida, em a qual, sem descanso, os cangaceiros venceram trinta e uma léguas e a polícia vinte e quatro.
Foi assim que Lampião logrou escapar aos que se lhe haviam escanchado no rastro: perto da fazenda “Lagoa Escondida”, numa bifurcação da estrada, rumou para a direita, indo pernoitar a 30 de junho, em Poço de Fora, iludindo, pois, o contingente policial que prosseguiu pela esquerda, a fim de entrar pelo lado sul de Uauá.
Auxiliado por sequazes incorporados à sua alcatéia em território baiano e perfeitos conhecedores da região, Virgolino novamente deu às de vila-diogo na madrugada de 1° de julho, empreendendo um raid ainda mais exaustivo e ousado. Egresso das caatingas e grotões, o bandoleiro-fantasma teve a audácia de voar sobre Itumirim, onde chegou ao lusco-fusco do dia 2, depois, em trinta e seis horas, haver vencido quarenta e cinco léguas! Aí reduziu a cinzas a estação ferroviária, cortou as comunicações telegráficas com a localidade, bebeu à farta e tentou formar um samba na casa da… Escola Pública. Mas, medroso de uma surpresa dos seus perseguidores, arribou logo mais e foi refugiar-se, durante o resto da noite, na Serra dos Morgados. O dia 3 assinalou o seu assalto à fazenda “Piabas” e o seu pernoite no lugar “Buraco d’Água”.
Coincidiram tais fatos com a fuga de cinco soldados criminosos, recolhidos à cadeia de Bonfim. Esses fugitivos, em bilhete irônico e malcriado que deixaram ao Capitão José Galdino, avisavam que se iam reunir a Lampião.
Em atividade, no encalço dos detentos foragidos, a manhã de 4 de julho veio encontrar os destacamentos da zona.
Procedentes de Campo Formoso, o Cabo Antônio Militão da Silva e os Soldados Pedro Santana, Cecílio Benedito, Manoel Luís de França e Leocádio Francisco da Silva pararam em Brejão de Dentro e ali aguardaram a chegada de outros companheiros, por ser aquele o ponto combinado de junção das forças.
Como devessem dali ingressar na região de Gruna, penetrando em lugares insidiosos e de penoso acesso, “lugares esquisitos”, como eufemicamente por lá se diz, os soldados abandonaram as armas e aproveitavam o tempo de espera, escrevendo bilhetes para suas famílias em Campo Formoso, dando-lhes conhecimento da direção que iam tomar. Estavam todos no interior da residência de Alfredo Monteiro e, fora, o Cabo Militão consertava os loros de uma montaria. Seriam onze horas da manhã.
Em dado momento, Militão avistou longe, na estrada, diversos homens armados e avisou: – Lá vêm nossos camaradas! E continuou, despreocupadamente, no reparo dos arreios. Também as praças não tiveram a curiosidade de ver quem era que se aproximava. A estrada faz uma curva fechada e vem desembocar abruptamente junto à casa, motivo por que Militão logo perdeu de vista os indivíduos que julgou serem soldados.
De súbito, o troço aparece. Num ápice, saltam das selas Lampião, Volta Seca, Ezequiel, Pai Velho, Corisco, Arvoredo, Moderno, Esperança, Moirão, Gato, Pernambuco e Labareda. Virgolino já está intimando o Cabo Militão:
- Se prepare, cabra, se prepare pra apanhar!
- PRA APANHAR, NÃO, QUE EM HOMEM NÃO SE DÁ: – HOMEM SE MATA!
- Apois, então, tire a cartucheira, que é pra não melar de sangue!
Mas não findara o curto diálogo entre Virgolino e Militão e já Volta Seca desfechava neste um tiro de Parabellum no ouvido.
Com o estampido, acorrem os soldados, atordoados e sem os fuzis, e são recebidos por uma saraivada de balas, quase a queima-roupa. Um deles tomba, tendo como arma nas mãos a caneta com que inconscientemente estava a mandar o derradeiro adeus à família. Outro, o único que logo não caiu, baleado que fôra ligeiramente num braço, retrocede à casa e procura refugiar-se numa alcova. Cerrada descarga atravessa a porta, prostrando-o morto pelas costas. Muitos outros disparos alvejam ainda os moribundos, um dos quais escabuja e é sangrado. Esse infeliz chegou a receber no corpo nove balas. Tudo isso não durara mais que instantes.
A horda penetra na casa e Lampião, não saciado, indaga se não resta escondido por ali mais algum macaco do gunvêrno. Alfredo Monteiro responde negativamente e implora compaixão para si e para os seus. Lampião grita-lhe que nunca mais dê rancho a macaco e volta ao terreiro. Dá um pontapé no cadáver de Militão e arranca-lhe do braço as divisas de cabo, presenteando uma das fitas a Moderno e outra a Arvoredo. Este lastima que nenhum dos mortos usasse bigode comprido: é que ele queria torar e amarrar na fita, mode enfeitar o rabo do cavalo em que vinha montado… Ezequiel vasculha os bolsos dos soldados. Tal busca de dinheiro resulta infrutífera e o miserável desanda na torpeza duns insultos pornográficos.
Estarrecido, o dono da casa pergunta que deve fazer com os cinco cadáveres. Virgolino sacode os ombros:
- Querendo, enterre; não querendo, deixe os urubus comer!
Pai Velho saúda com uma risada o dito de sarcasmo do chefe feroz.
Lampião pede cachaça, cachaça muita que dê pra ele e a “rapaziada” festejarem a caçada do dia.
Alfredo Monteiro, receoso de ter de testemunhar nova chacina, adverte que outra força de polícia está a chegar. Virgolino exalta-se e deixa a esses policiais um recado obsceno. Depois, olha raivosa e tigrinamente as suas cinco vítimas e ordena a Alfredo Monteiro que enterre os peste todos numa cova só, sob pena dum ajuste de contas em regra, noutra visita inesperada. Alfredo Monteiro promete que assim fará e pede licença para ir buscar a aguardente. Lampião diz que não quer mais…
Todo o grupo torna a montar.
Nisso, o soldado Cecílio Benedito, nos últimos estertores, bole ligeiramente com um pé. Lampião observa o movimento e saca, de novo, a pistola:
- O diabo deste “macaco” inda está se mexendo? Macaco mexeu, quer chumbo…
E, mesmo montado, desfecha-lhe um tiro na cabeça, que lhe arranca parte do frontal.
E esporeando as alimárias, a cantar alegremente o “É lampa… é lampa…”, os Cavaleiros do Crime galopam, fugindo pusilânimemente a um encontro com os policiais esperados.
Quando o tropel da cavalhada e a toada do hino de guerra de Lampião não se faziam mais ouvir, foram se reabrindo as casas do Brejão e das portas e janelas umas cabeças assustadas perscrutavam se o vilarejo já encontra restituído à sua quietude e pacatez.
Alfredo Monteiro, de olhos marejados, estava a espantar uns cães famintos que lambiam o chão inda rubro, aqui e ali, do sangue dos cinco mártires do banditismo nefando.
O sol pompeava, na sua escalada para o zênite.
O Cabo Militão tinha os olhos esbugalhados para o céu, como a indicar que aquele cuja firmeza de olhar não se curvara ante a crueldade vilã do Rei do Cangaço também era capaz de fitar o sol, o grande sol flamejante dos sertões!
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23 setembro 2011
Raymundo, da Lagoa do Lino
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Uma personagem que desapareceu da História do Cangaço é a do senhor Raymundo, da antiga Fazenda Lagoa do Lino...
Quando as volantes dos então sargentos Fernandes e Zé Rufino chegaram à sede da fazenda, capturaram a sua dona, dona Cylira, e seu filho, Raymundo, então com 25 anos. Exigiram que informassem onde os cangaceiros estavam.
Raymundo sabia, mas disse que não poderia contar, pois os cangaceiros haviam dito que matariam todos os seus parentes se não contasse... além de arrasar sua pequena propriedade.
Amarrado, Raymundo foi pinicado a facão, faca e canivete. Não contou nada, apesar da tortura.
Os policias só conseguiram chegar aos cangaceiros devido à indicação de uma menina, Maria Preta.
Partiram para executar Azulão, Zabelê, Canjica e Maria Dórea.
Deixaram para trás o fazendeiro que, por medo de vingança, somente a poucos contou algo do seu drama.
Acima, uma foto do "Raymundo, de Cylira", já idoso:
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30 agosto 2011
Cangaceiros sepultados no Cemitério Quinta dos Lázaros, Salvador
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Quatro cangaceiros aparecem com restos no Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas, em Salvador.
São Azulão, Zabelê, Canjica e Maria.
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Um caso recente que merece comentário é o do cangaceiro Corisco.
Cristino Gomes da Silva, o Corisco, teve sua cabeça e seu braço mumificados que estavam no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, desde 1940, e as demais partes dos seus restos, que estavam em Miguel Calmon, unidos para serem sepultados somente em 1977.
Finalmente, em 2012, seus restos foram retirados pela família, cremados e suas cinzas atiradas ao mar.
O jazigo de Corisco ficava logo após a entrada do cemitério, virando-se à direita, na segunda fileira de sepulcros.
Imagem mostrando a sepultura de Corisco em 2011 e o mesmo local, em 2013, já com seus restos e a campa retirados.
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Para se chegar à sepultura das cabeças dos cangaceiros Azulão, Zabelê, Canjica e Maria, inumadas em 1969, segue-se adiante. Passa-se pela capela do cemitério e, após a mesma, vira-se à esquerda. As sepulturas estão na parte inferior do segundo bloco gavetas ou carneiras à direita.
Sepulturas das cabeças do quatro cangaceiros mortos no confronto de Lagoa do Lino.
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Guia geral do Cemitério Quinta dos Lázaros, indicando a localização das sepulturas dos quatro cangaceiros e o antigo sítio da sepultura de Corisco:
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Quatro cangaceiros aparecem com restos no Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas, em Salvador.
São Azulão, Zabelê, Canjica e Maria.
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Um caso recente que merece comentário é o do cangaceiro Corisco.
Cristino Gomes da Silva, o Corisco, teve sua cabeça e seu braço mumificados que estavam no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, desde 1940, e as demais partes dos seus restos, que estavam em Miguel Calmon, unidos para serem sepultados somente em 1977.
Finalmente, em 2012, seus restos foram retirados pela família, cremados e suas cinzas atiradas ao mar.
O jazigo de Corisco ficava logo após a entrada do cemitério, virando-se à direita, na segunda fileira de sepulcros.
Imagem mostrando a sepultura de Corisco em 2011 e o mesmo local, em 2013, já com seus restos e a campa retirados.
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Para se chegar à sepultura das cabeças dos cangaceiros Azulão, Zabelê, Canjica e Maria, inumadas em 1969, segue-se adiante. Passa-se pela capela do cemitério e, após a mesma, vira-se à esquerda. As sepulturas estão na parte inferior do segundo bloco gavetas ou carneiras à direita.
Sepulturas das cabeças do quatro cangaceiros mortos no confronto de Lagoa do Lino.
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Guia geral do Cemitério Quinta dos Lázaros, indicando a localização das sepulturas dos quatro cangaceiros e o antigo sítio da sepultura de Corisco:
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29 agosto 2011
Ecos de Canudos no Cangaço
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Tema que tangencia o do cangaço, muitas vezes, temos a rebelião conselheirista de Canudos.
Abaixo imagens obtidas pelo amigo José Gonçalves, de Bonfim.
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Manuel Ciríaco e Pedrão se reencontrando.
Pedrão e Manuel Ciríaco
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Texto de José Gonçalves, de Senhor do Bonfim:
"Pedrão e Manuel Ciríaco, ambos sobreviventes da Guerra de Canudos. O primeiro foi membro da Guarda Católica e talvez a figura de maior expressão no séquito de Antônio Conselheiro. “Mestiço de porte gigantesco”, conforme destacou Euclides da Cunha, em Os Sertões, ocupou lugar de destaque durante os combates, tendo sido comandante de piquete. Sobrevivente, confessou a José Calasans nos anos cinquenta: “o coração pedia para brigar...
Pedrão combateu ainda o bando de Lampião. Assim, podemos dizer que ele participou de duas guerras. Euclides da Cunha o chamou de O Terrível defensor do Cocorobó."
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Na verdade, em entrevista que realizei com filho de responsável, avançando mais no tema, Pedrão não chegou a combater propriamente os cangaceiros. Ele, considerando sua ampla experiência, foi um contratado de empresa que abria estradas no sertão, especialmente o canudense, para treinar e organizar jagunços, na defesa das obras, contra as atividades cangaceiras. Estas eram, notoriamente, hostis à abertura de estradas, tendo cangaceiros, com Lampião à frente, trucidado trabalhadores desta empresa.
Pedrão era responsável por cerca de oitenta jagunços, dividindo-os em dois turnos de 12 horas... O seu homem de confiança era apelidado "Gato", sendo notório pela extrema crueldade nas ações de repressão.
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Aproveitando, este é Honório Vilanova, irmão de Antônio Vilanova, ambos líderes da resistência de Canudos:
Honório Vila Nova com sua “manulincher”, que foi utilizada na Guerra de Canudos.
Imagem trazida do site:
http://www.maninhodobaturite.com.br/?p=135
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Tema que tangencia o do cangaço, muitas vezes, temos a rebelião conselheirista de Canudos.
Abaixo imagens obtidas pelo amigo José Gonçalves, de Bonfim.
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Manuel Ciríaco e Pedrão se reencontrando.
Pedrão e Manuel Ciríaco
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Texto de José Gonçalves, de Senhor do Bonfim:
"Pedrão e Manuel Ciríaco, ambos sobreviventes da Guerra de Canudos. O primeiro foi membro da Guarda Católica e talvez a figura de maior expressão no séquito de Antônio Conselheiro. “Mestiço de porte gigantesco”, conforme destacou Euclides da Cunha, em Os Sertões, ocupou lugar de destaque durante os combates, tendo sido comandante de piquete. Sobrevivente, confessou a José Calasans nos anos cinquenta: “o coração pedia para brigar...
Pedrão combateu ainda o bando de Lampião. Assim, podemos dizer que ele participou de duas guerras. Euclides da Cunha o chamou de O Terrível defensor do Cocorobó."
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Na verdade, em entrevista que realizei com filho de responsável, avançando mais no tema, Pedrão não chegou a combater propriamente os cangaceiros. Ele, considerando sua ampla experiência, foi um contratado de empresa que abria estradas no sertão, especialmente o canudense, para treinar e organizar jagunços, na defesa das obras, contra as atividades cangaceiras. Estas eram, notoriamente, hostis à abertura de estradas, tendo cangaceiros, com Lampião à frente, trucidado trabalhadores desta empresa.
Pedrão era responsável por cerca de oitenta jagunços, dividindo-os em dois turnos de 12 horas... O seu homem de confiança era apelidado "Gato", sendo notório pela extrema crueldade nas ações de repressão.
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Aproveitando, este é Honório Vilanova, irmão de Antônio Vilanova, ambos líderes da resistência de Canudos:
Honório Vila Nova com sua “manulincher”, que foi utilizada na Guerra de Canudos.
Imagem trazida do site:
http://www.maninhodobaturite.com.br/?p=135
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27 agosto 2011
Lagoa do Lino
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Um subgrupo do bando de Lampião, composto por 4 cangaceiros e 3 cangaceiras, liderado por Azulão, assolou as regiões de Mairi, Várzea do Poço, Miguel Calmon, Várzea da Roça, Serrolândia, Jacobina, em setembro e outubro de 1933.
Muitas agressões foram cometidas pelos cangaceiros, especialmente com o uso de palmatórias.
Em outubro de 1933, o grupo foi localizado na Fazenda Lagoa do Lino, e travado um combate, no qual morreram os cangaceiros Azulão, Zabelê e Canjica, e uma cangaceira de nome Maria.
Dentre os que escaparam estava o cangaceiro Arvoredo.
Notícia sobre o confronto em que morreram os quatro cangaceiros trazida do blog "Cariri Cangaço"
http://cariricangaco.blogspot.com/2010/03/morre-azulao-e-acoitadores-de-lampiao.html
Os mortos foram decapitados e suas cabeças conduzidas a Salvador.
Cabeças de, da esquerda para a direita, Zabelê, Maria, Azulão e Canjica.
Em Salvador, ficaram as cabeças expostas, no Instituto Nina Rodrigues, até 1969. Então, por uma determinação do governador Luiz Viana Filho, no mesmo evento que levou ao sepultamento das cabeças de Lampião, Maria Bonita e Corisco, finalmente foram sepultadas.
Isto no cemitério de Quintas dos Lázaros.
Sepulturas das cabeças do quatro cangaceiros mortos no confronto de Lagoa do Lino.
Aos interessados, há uma grande dificuldade para localizar a Fazenda Lagoa do Lino... onde ocorreu o combate.
Ela aparece na literatura como situada nos municípios de Djalma Dutra (atual Miguel Calmon), Serrolândia, Mairi, Várzea do Poço, Várzea da Roça e Jacobina...
A realidade:
1 - Ela está no limite entre os municípios de Várzea do Poço e Serrolândia, em área de litígio entre ambos.
2 - Fica mais próxima ao povoado de Maracujá, que pertence ao Município de Serrolândia, mas é mais próxima e acessada pelo Município de Várzea do Poço.
3 - Mudou de nome para Fazenda Santa Mônica
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Abaixo, guias que facilitam a localização do sítio do combate.
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Acima, detalhe mostrando a localização da antiga sede da Fazenda Lagoa do Lino, distante, pelo caminho, 270 metros da estrada principal. O laguinho visto mais ao norte, a 200 metros da sede da fazenda, foi o sítio da morte dos cangaceiros.
Coordenadas: 11°30’29,15’’S e 40°13’21,95’’O.
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Um subgrupo do bando de Lampião, composto por 4 cangaceiros e 3 cangaceiras, liderado por Azulão, assolou as regiões de Mairi, Várzea do Poço, Miguel Calmon, Várzea da Roça, Serrolândia, Jacobina, em setembro e outubro de 1933.
Muitas agressões foram cometidas pelos cangaceiros, especialmente com o uso de palmatórias.
Em outubro de 1933, o grupo foi localizado na Fazenda Lagoa do Lino, e travado um combate, no qual morreram os cangaceiros Azulão, Zabelê e Canjica, e uma cangaceira de nome Maria.
Dentre os que escaparam estava o cangaceiro Arvoredo.
Notícia sobre o confronto em que morreram os quatro cangaceiros trazida do blog "Cariri Cangaço"
http://cariricangaco.blogspot.com/2010/03/morre-azulao-e-acoitadores-de-lampiao.html
Os mortos foram decapitados e suas cabeças conduzidas a Salvador.
Cabeças de, da esquerda para a direita, Zabelê, Maria, Azulão e Canjica.
Em Salvador, ficaram as cabeças expostas, no Instituto Nina Rodrigues, até 1969. Então, por uma determinação do governador Luiz Viana Filho, no mesmo evento que levou ao sepultamento das cabeças de Lampião, Maria Bonita e Corisco, finalmente foram sepultadas.
Isto no cemitério de Quintas dos Lázaros.
Sepulturas das cabeças do quatro cangaceiros mortos no confronto de Lagoa do Lino.
Aos interessados, há uma grande dificuldade para localizar a Fazenda Lagoa do Lino... onde ocorreu o combate.
Ela aparece na literatura como situada nos municípios de Djalma Dutra (atual Miguel Calmon), Serrolândia, Mairi, Várzea do Poço, Várzea da Roça e Jacobina...
A realidade:
1 - Ela está no limite entre os municípios de Várzea do Poço e Serrolândia, em área de litígio entre ambos.
2 - Fica mais próxima ao povoado de Maracujá, que pertence ao Município de Serrolândia, mas é mais próxima e acessada pelo Município de Várzea do Poço.
3 - Mudou de nome para Fazenda Santa Mônica
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Abaixo, guias que facilitam a localização do sítio do combate.
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Acima, detalhe mostrando a localização da antiga sede da Fazenda Lagoa do Lino, distante, pelo caminho, 270 metros da estrada principal. O laguinho visto mais ao norte, a 200 metros da sede da fazenda, foi o sítio da morte dos cangaceiros.
Coordenadas: 11°30’29,15’’S e 40°13’21,95’’O.
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O cangaceiro Arvoredo e seus matadores.
Cangaceiro Arvoredo... Hortêncio Gomes da Silva.
e
Uma imagem cuja dificuldade para conseguir foi grande, mas, graças ao senhor Raimundo, de Jaguarari, ex-cunhado de João Biano, e a gentileza imensa da filha e do filho deste valente matador de Arvoredo, aqui a única foto existente... de João Biano:
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Muito chamado por "João Biana" é uma alteração posterior ao evento da morte de Arvoredo.
O nome correto é João Biano da Silva.
No texto de Oleone Fontes, em seu livro "Lampião na Bahia", aparecem os matadores citados como Xisto e João Martins da Silva... Este erro apenas reproduz o cometido pelo coronel Alfredo Barbosa, de Jaguarary, que, à época do evento, relatou-o, errando no nome de João.
João Biano está enterrado na Fazenda Saco, em Jaguarari.
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Partícipe, com o amigo João Biano, na morte do cangaceiro Arvoredo, esta é a única foto restante de Cícero Ferreira, o Xisto.
A dificuldade para se conseguir esta foto foi imensa, mas, finalmente, graças ao sobrinho de Xisto, Messias, e à filha adotiva daquele, a "Neguinha", consegui esta imagem.
Xisto está sepultado na Fazenda Mulungu, em Jaguarari.
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Sepultura do cangaceiro Arvoredo, em Jaguarari:
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Sepultura do cangaceiro Arvoredo, em Jaguarari - detalhe - AC = Arvoredo Cangaceiro:
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